MORREU JOSÉ SANTIAGO NAUD (1930-2020)
Por Diego Mendes Sousa Em: 21/07/2020, às 08H31
LEVAREI PARA A TUMBA
Levarei para a tumba,
incomunicável,
míseras destrezas e o convívio do mito.
Só o acessório, o visto, o definível
logrei realizar em torno do essencial
e assim me comuniquei
ou me dei.
Julguei amar, às vezes
pensei que dei amor.
Não dei,
pobre ilusão humanitária!
O amor não se dá,
amor não é mercadoria nem moeda,
ou ordem.
Existe a água e os seus murmúrios,
o fogo, devorador,
e o grande silêncio das árvores na noite.
Talvez exista também a singeleza de colher beijos
como se colhe uma flor. O amor
talvez seja isso, nisso
existe amor.
Levarei para a tumba
esse tal inexistente amor.
Deixo-vos
(pois dei)
o acessório
o visto em torno do essencial
quanto existe
e insiste
e subsiste.
Amor, talvez.
Poema de José Santiago Naud (1930-2020)
Tinteiros por Diego Mendes Sousa