Poeta gaúcho. Professor fundador da Universidade de Brasília.
Poeta gaúcho. Professor fundador da Universidade de Brasília.

LEVAREI PARA A TUMBA

 

Levarei para a tumba,

                     incomunicável,

míseras destrezas e o convívio do mito.

Só o acessório, o visto, o definível

logrei realizar em torno do essencial

e assim me comuniquei

ou me dei.

Julguei amar, às vezes

pensei que dei amor.

                          Não dei,

pobre ilusão humanitária!

O amor não se dá,

amor não é mercadoria nem moeda,

ou ordem.

Existe a água e os seus murmúrios,

o fogo, devorador,

e o grande silêncio das árvores na noite.

Talvez exista também a singeleza de colher beijos

como se colhe uma flor. O amor

talvez seja isso, nisso

existe amor.

 

Levarei para a tumba

esse tal inexistente amor.

Deixo-vos

              (pois dei)

o acessório

o visto em torno do essencial

quanto existe

e insiste

e subsiste.

Amor, talvez.

 

Poema de José Santiago Naud (1930-2020)

 

 

Tinteiros por Diego Mendes Sousa