Morre Luiz Antônio Marcuschi

Faleceu no último 06 de setembro o linguísta e professor da Universidade Federal de Pernambuco Luiz Antônio Marcuschi, 70,  sepultado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista-PE, no 7 de setembro.  Em suas pesquisas, construiu bases sólidas para a renovação nos estudos de lingua portuguesa no Brasil.  Introduziu os estudos em Linguística Textual e Análise da Conversação no país e foi um dos primeiros a se debruçar sobre questões da relação fala/escrita, dos gêneros textuais e do hipertexto.

Em seu currículo, consta mais de vinte obras e quase uma centena de artigos. Entre as mais referenciadas estão Linguística de Texto: o que é e como se faz, Da Fala para a EscritaHipertexto e Gêneros Digitais,Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão e Análise da Conversação.

No site da Universidade Federal de Pernambuco, lê que Marcuschi "doutorou-se em Filosofia da Linguagem (1976) pela Universität Erlangen-Nurnberg (Friedrich-Alexander) e era pós-doutor em questões de oralidade e escrita (1987) pela Universität Freiburg (Albert-Ludwigs). A concessão do título de professor emérito da UFPE foi aprovada em 2010 pelo Conselho Universitário. Em 2014, a Câmara dos Deputados outorgou ao docente o prêmio Darcy Ribeiro de Educação, que é conferido a pessoas ou entidades cujos trabalhos ou ações mereçam especial destaque na defesa e na promoção da educação, especialmente as iniciativas relacionadas à educação popular. O reconhecimento do patrimônio intelectual e humanístico do trabalho de Marcuschi motivou a indicação ao prêmio.

Na UFPE, criou o Núcleo de Estudos Linguísticos da Fala e Escrita (Nelfe). Foi pesquisador IA do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, tendo sido, por várias vezes, representante de área tanto no CNPq quanto na Capes. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll) e seu presidente de 1988 a 1990. Em sua brilhante atuação acadêmica, orientou diversos trabalhos, sendo 50 dissertações de mestrado e 15 teses de doutorado."

Em postagem em página pessoal, comentando a trajetória profissional do linguista, a professora da Universidade de Brasília Stela Bortoni expressou sua tristeza, que é a de milhares de brasileiros:

"Preparava-me para dormir, mas resolvi abrir uma vez mais o Facebook.  Me esperava a triste notícia do falecimento do grande linguista brasileiro Luiz Antônio Marcuschi.  Todos nós que convivemos com ele durante as décadas incansáveis em que ele trabalhou pela Linguística nacional e particularmente  pelo Programa de Pós-Graduação na UFPE ,  fomos beneficiados  pelo seu trabalho honesto, intensivo e generoso.

Eu o conheci quando ele estava retornando do doutorado na Alemanha. Visitou o UnB e reuniu-se com meu orientador de mestrado, Ulf Baranow, e comigo.  Seu trabalho de tese  era uma releitura da teoria dos códigos  - restrito e elaborado – de Basil Bernstein. Em Brasília, já estava a meio caminho de Pernambuco, onde se estabeleceu. Mas Marcuschi era do Brasil todo. Representou a área na Capes e no CNPq, trabalhou muito junto ao MEC e ao MCT. Conheceu todos os programas de PG e, até mesmo , a pesquisa de cada colega. E era generoso: em seus livros e artigos dedicava longos parágrafos a apresentar essas pesquisas.

Liderou com Ingedore Koch  uma linha de investigação sobre Análise da conversação e sobre a dicotomia oral e escrito, no Projeto NURC .

 Sua postura diante das centenas de teses e dissertações que avaliou era de buscar o lado positivo do trabalho, ao tempo em que sugeria mudanças que o pudessem melhorar.

Seus livros visavam a um trabalho imediato e realista que pudesse de fato ensinar os leitores a ler, escrever , pesquisar e preparar os neo pesquisadores . Difícil encontrar uma tese de mestrado dos anos oitenta , noventa e dois mil, que não mencione Marchuschi na bibliografia, em particular as que trabalham com a leitura e a escrita, e os gêneros textuais.  

Depois que ele adoeceu, tive ainda oportunidade de visitá-lo duas vezes Mas era difícil ver alguém com uma mente privilegiada como ele  preso em um corpo impotente.

Ao reunir essas palavras muito espontâneas, sei que não farei jus à importância de Marcuschi  para a Linguística e para a educação  no Brasil. Mas faço questão de juntar a minha voz à de todos que lamentam a sua morte e reconhecem a sua importância."

Entristecido, Entretextos solidariza-se com todos aqueles que lamentam a perda de um dos nossos maiores linguistas.