Monólogo de todo alienado
Em: 13/10/2013, às 16H35
[Dílson Lages Monteiro]
eu assisti às multidões marcharem
em massas surdas
e suas bandeiras
de partidos
multidões partidas entre o interesse
e a emoção.
as multidões metidas em seus disfarces
riscando as ruas sobre motos, carros, bicicletas
ou no peso que mal comporta
em cada corpo e oração.
as multidões
gritando o nome de suas desilusões
na repetição das antigas estórias
repetidas.
as multidões trôpegas
e o estalar dos foguetes
as pernas cruzando carrocerias
e o sonho - que sonho! - de poder decidir
os rumos de cada lugar.
eu assisti às lagartas despirem
como antes
em sua fome
as folhas das árvores
calado e arrependido
dos ruídos de minha alienação.
eu e as multidões nos confundimos
de quatro em quatro anos
repetimos o ciclo da natureza - sol e chuva -
e os vicios que o tempo ou nossa ignorância
não ousam sepultar.
oh multidões de que somos feitos:
pele, vísceras e auto-engano
acaso pertecemos á que parte de nós
se não a metade de cada metade
e ao todo que é massa em procissão.
eu assisti ao arrependimento
das casas, das praças,
e até do ar
esperando que o vento toque
em outra direção.
e quem duvida que a dúvida
mais certa que a certeza
põe-me perguntas na garganta
de toda paixão
e quem duvida que a vida
e seus partidos
seja só de ilusão.