MISERICÓRDIA, ONU, PARA ALEPPO!
Por Cunha e Silva Filho Em: 16/12/2016, às 14H52
Cunha e Silva Filho
Dirigindo-me da cozinha para a sala do meu apartamento ainda nesta manhã, olho para a tela da televisão e vejo e ouço a voz da repórter relatando o que se passa atualmente na Síria e, em particular, na cidade deste país, Aleppo, que já foi o maior centro financeiro sírio, sendo, se não me engano, a segunda maior cidade do país. A vista aérea da cidade - vou usar um sintagma de que gosto para metaforizar essas tragédias inomináveis perpetradas pelo criminosos no poder deste que ainda podemos dizer início do século XXI: uma cenário guerniquiano.
Só a Arte é capaz de elevar nossos espíritos e desprender dele um mínimo que seja de solidariedade pela situação catastrófica que vive Aleppo. Não foi nenhum act of God que tornou a cidade uma ruína. Não estamos falando das atrocidades da Segunda Guerra Mundial provocadas pelo nazifascismo, só para enfatizar a agonia apocalíptica em que há quase seis anos tem experimentado as vítimas da ditadura de Bashar Al-Assad. A terra devastada em territórios sírios há muito ultrapassou todos os limites suportáveis de uma Nação bombardeada sem dó nem piedade e, o que é pior, sem que o Conselho de Segurança da ONU tenha reagido duramente contra a manutenção de um genocida, um tirano dos mais cruéis que esse novo milênio tem para infernizar inocentes e desprotegidos, de vez que onde há os ataques covardes e hediondos quem mais padece são as crianças.
Basta isso para que o mundo, por mais “impessoal “ (uso um adjetivo do físico Marcelo Gleiser no sentido em que o tomou para criticar o que denomina "tribalismo radical." Ver o artigo do físico , sob o título "Tribos e seitas", publicado no Caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo, p.6, 11/12/2016) em que tenha se transformado como ser racional, por mais insensível que tenha sido a metamorfose individualista de nossas mentes para com o outro, se não nos unirmos com urgência e, através dos organismos competentes para assegurar os direitos à vida e dar freio à carnificina de natureza inegavelmente genocida, para expulsar do poder o ditador sírio, agora mais fortalecido com o apoio maciço da Rússia de Putin, das forças do Irã e de outros grupos que têm dado criminosamente apoio bélico ao tirano .
Seria a maior insensatez se o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cumprisse uma certa promessa de se aproximar de Putin a fim de combater o terrorismo islâmico e outros grupos terroristas. Se Donald Trump embarcar nessa furada, as consequências para a geopolítica mundial seriam terríveis. Não existe razão plausível para que Trump se alie a Putin. Primeiro, porque estaria sendo contraditória e estapafúrdia qualquer aliança com Putin, líder com pretensões imperiais ligado a países comunistas. Segundo porque, sabendo que o atual governo de Obama, com certa prudência, agiu sempre no sentido de opor-se à posição de Putin como apoiador da tirania, não seria compatível que um país com longa prática democrática, conquanto tenha cometido muitos e graves erros na sua política externa, como foram exemplos a invasão desnecessária no Iraque e a manutenção do bloqueio econômico a Cuba.
Para questões essencialmente políticas, é um outro contrassenso um presidente altamente capitalista e neoliberal como Trump demonstrar simpatia pela sistema político meio híbrido representado por Putin. O mais seguro seria que Trump, no caso de suas relações com Putin,se limitasse ao setor econômico, porém nunca político, dado que bem sabe os EUA que o ditador Assad tem cometido atrocidades por se opor aos chamados rebeldes combatentes da autocracia síria.
Ora, os rebeldes (remanescentes, de alguma forma, da “Primavera Árabe”), não são terroristas nem estão tampouco conluiados com o Estado Islâmico. A luta, já longa dos rebeldes sírios, com um saldo de milhares de mortes, é para derrubar a tirania de Assad, livrar a Síria da opressão e do genocídio. Essa é função que foi assumida pelos rebeldes. Recorde-se que foi a tirania síria que provocou também a onda de refugiados para a Europa e países de outros continentes (inclusive o Brasil) que não suportaram viver numa país assolado pela guerra civil e pelo desmoronamento de sua infra-estrutura.
Há tempos venho escrevendo artigos contundentes contra a guerra civil síria e há tempos nada de concreto tem sido realizado para dar fim à carnificina para vergonha de todos os povos civilizados que abominam a tirania, as ditaduras, a covardia e o genocídio.Assad tem que pagar pelos seus crimes contra a Humanidade. Misericórdia, ONU, para Alepo!