Minha primeira estória
Por Flávio Bittencourt Em: 26/08/2010, às 17H09
Minha primeira estória
Quando José Cândido ouviu pela primeira vez uma estória infantil, ele não compreendeu como Chapeuzinho Vermelho, parida por cesariana do ventre de um lobo velho, pudesse imediatamente sair falando e andando.
(http://fernandocabrerafac.blogspot.com/2010/04/como-seria-manchete-de-chapeuzinho.html)
(http://boamusicaeafins.blogspot.com/2009/02/lobao-acustico-mtv-2007.html)
Homenageando João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão (nasc. no Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, em 1957 [meu contemporâneo "dos tempos uterino-maternos", nascido menos de um mês depois de o responsável pela Coluna "Recontando..." ter nascido, aliás...]) e agradecendo aos arqueólogos do Brasil e do mundo pelas estórias absolutamente espetaculares que eles de vez em quando nos contam
"(...) Eu [aos 5 anos, ouvindo a estória da Chapeuzinho Vermelho] questionava: “- Mas ela não casou com o lobo mau?”. E eles, que tinham entendido a estória, diziam, quase me repreendendo: “- NÃO! O lobo mau comeu a Chapeuzinho Vermelho, você não entendeu?”.
“Como eu tive capacidade de me lembrar disso?”
(JOSÉ CÂNDIDO, depois de ler o texto que ele ditou a “esta Coluna”, que logo antes digitara a sua sofrida rememoração de primeira vez)
27.8.2010 - A iniciação dele foi muito desagradável – Em 1987, aos 5 anos de idade, no pré-primário, ele ouviu a terrível e exótica estória de Chapeuzinho Vermelho. Foi uma experiência sofrida porque, pela primeira vez, José Cândido, hoje arqueólogo, sentiu-se menosprezado. A professora “não estava nem aí” para ele e quase lhe exigiu concordância com o enredo, ao qual ele, francamente, não aderiu. Os outros pequenos alunos mostravam compreensão total da estranha estória na qual pessoas já engolidas são retiradas, do ventre do lobo velho. E elas já saem falando da barriga do lobão. F. A. L Bittencourt ([email protected])
A primeira estória infantil que ouvi
José Cândido
"A primeira estória infantil da qual eu lembro (foi a primeira mesmo, não estou brincando, não, cara!) que ouvi foi a da Chapeuzinho Vermelho.
Eu estava fora da sala de aula, junto com outros coleguinhas – tinha 5 anos – e a tia iniciou esse processo. Tudo ia bem... para os outros. Eu estava de pé e todo mundo estava sentado, menos a tia (todo mundo interagia numa mesma linguagem). Eu tentava compreende-los, mas me via perdido.
Eu questionava: “- Mas ela [a Chapeuzinho Vermelho] não casou com o lobo mau?”. E eles, que tinham entendido a estória, diziam, quase me repreendendo: “- NÃO! O lobo mau comeu a Chapeuzinho Vermelho, você não entendeu?”.
“- Você não entendeu?”. Esse imperativo [sic] foi muito incisivo, porque foi uma pergunta com ar de repressão.
Foi a primeira vez que eu me senti menosprezado em relação ao que os outros pensavam, se é que uma criança de 5 anos pensa alguma coisa que se sobreponha a uma estória contada (não me lembro se a tia lia ou se falava sem ler) (*risos*).
Eu tentei me expressar, num certo momento, em relação a algo referente à estória que era contada. Foi quando a tia – aquela que eu mais creditava [sic] qualquer idéia – me chamou atenção, me consertando, mas eu insistia. Percebi, então, que ela não iria mudar por causa de mim. Porque essa tia gostava muito de mim. E, então, isso me surpreendeu, essa “mudança de lado”. Será que eu mexi com ela? Também?
Querendo mudar de assunto, a tia colocou numa vitrolinha vermelha um disco da Xuxa, o primeiro que a Xuxa lançou, em 1987.
“- Gente, vamos nos divertir!”
Ela ligou a vitrolinha vermelha de plástico, portátil – daquelas que eram muito comuns naquela época - e as garotinhas começaram a dançar a música que falava do indiozinho.
Aí eu olhei para os colegas e fiz um sinal, para dançarmos, também.
E eles não fizeram nada, nem que sim, nem que não.
Eu esperei mais ou pouco e fiz novamente o sinal para os meninos mais próximos, que olharam para baixo. Eu me levantei e fui dançar. Segurava a mãozinha da menina com quem eu dançava, enquanto rodávamos “no mesmo lugar”.
Hoje, imagino que eu me senti como um animal. Pois foi muito imediato, além de ser, também, ameaçador para os outros meninos. Logo o menino que não entendera a estória de Chapeuzinho Vermelho se posicionava como o lobo-que-era-não-era-mau.
É como se eu tivesse um sentimento racionalizado como o que eu tenho hoje, só que, na verdade, eu agia como um animal.
Eu dançava no intuito de transmitir uma mensagem pra eles, a de que eles deveriam vestir essa camiseta, apesar de que eu agi como a professora. Eu “não estava nem aí”. (JOSÉ CÂNDIDO)
(http://www.domtotal.com/agenda/detalhes.php?ageEveId=1570)
(http://www.submarino.com.br/produto/3/21372205/barbie+collector+chapeuzinho+vermelho)