CUNHA E SILVA FILHO

        O interesse meu pela língua francesa(1) iniciou com o meu ingresso no ginásio. Naquela época estava com meus doze anos e, para a minha alegria, era o meu pai o meu professor de francês, Cunha e Silva (1905-1990, nome completo, Francisco da unha e Silva), que, aliás, foi também um destemido jornalista político muito respeitado. No curso científico, tive ainda uma mestra de francês, chamada pelos alunos “Madame.”
      No entanto, seu prenome era Helena. Era casada com um veterinário de nacionalidade francesa, Não me recordo do seu nome. Nem tampouco sei como chegara ao Nordeste. No caso, ao estado do Piauí onde nasci.
      No ginásio, o livro adotado por papai se chamava Le français au gymnase e o autor era um professor que tinha um nome francês: Marcel Debrot. Na prmeira página de seus livros havia essa informação: Professor da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais. Como adorava as lições de suas obras para o ensino da língua de Victor Hugo!
      Que eu saiba, ele havia publicado dois livros, um destinado ao primeiro e segundo anos do ginásio, o outro, ao terceiro e quarto anos do ginásio. Dois bons volumes eram eles! Alguns parágrafos destes livros aqui citados sei i de cor até hoje como, por exemplo, este quase parágrafo de Jean-Jacques Rousseau: 
 

 

“Je ne conçois qu’une manière de voyager plus agréable que d‘aller à cheval.: c’est d’aller à pied.”(Não concebo senão um modo de viajar mais agradável de andar a cavalo: é o de andar a pé.”)

 

          No curso cientifico, que abrangia três anos, não me recordo do título do livro adotado para o francês. Me lembro vivamente que os alunos somente tiveram esta matéria por um ano, ou seja, no primeiro ano.
          Minha boas lembranças do aprendizado da língua francesa não se restringiram aos livros adotados, mas iam mais longe. Queria ler os autores didáticos que meu pai tinha em casa. Havia vários grossos dicionários. Eram importantes dicionários de francês-português e português-francês que meu pai possuía em sua biblioteca. E lia muitos esses livros e dicionários. Eram dicionários importantes. Os melhores daquele tempo. Que fase abençoada para mim! Passava uma, duas ou muitas horas lendo livros e dicionários, seguindo literalmente o bom conselho do grande escritor francês Théophile Gautier: “Jeunes gens, lisez les dictionaires!” (“Jovens, leiam os dicionários”)
         Sempre fui alguém que gostava de estudar sozinho. Me sentia muito bem assim. É verdade que, na minha infância e juventude em Teresina, , capital d eu estado natal, Piauí, não dispúnhamos decursos particulares para aprender a língua francesa, coo nos grandes cidades brasileiras, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife etc.
         Posto que não falasse fluentemente, isso me permitiu adquirir um relativo conhecimento da língua escrita. É bem verdade que um bom tempo quando cursava letras na universidade, quase nunca lia francês, porquanto nesse período me encontrava estudando mais inglês.
         Concluído o tempo da graduação, comecei a retomar o francês, dando sequência aos estudos já conquistados no tempo da infância e juventude com meu pai.
Me lembro bem que, quando meu pai preparava as aulas, por várias vezes lhe dei sugestões para um melhor correspondência em português de traduções do francês,               Eram expressões francesas mais difíceis para as quais se urgia dar o melhor da equivalência em vernáculo. A par disso, papai me pedia que o ajudasse as correções de provas escritas de francês, submetidas aos alunos, Vibrava muito como se eu fosse um mestre de verdade do francês!
        Outra fase de grande entusiasmo pela língua francesa foi, aproximadamente, a partir dos meus dezoito anos quando ensaiei traduções de poesia francesa para a minha língua, sobretudo de autores do século XIX, ou seja, dos românticos. 
         Este artigo é endereçado a todos os que se dedicaram a amar e cultivar a língua francesa, sua cultura e sua rica e encantadora literatura.

 

NOTA:

 

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1) Este artigo, com o título "Mon expérience française," foi originalmente escrito em francês e revisado pela poeta e tradutora francesa, Noelle Arnoult a fim de ser publicado na Revista romena ORIZONT LITERAR CONTEMPRAN,número 69, An XII, Nr 1/ lanuarie - februarie 2019,68 pagini