MICROANTOLOGIA PARA MICROS
Por: Luiz Filho de Oliveira Em: 14/03/2011, às 17H43
I
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
De dous ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem Digesto, e Colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
De dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta,
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
Esta cidade a meu ver.
Provo a conjetura já
prontamente com um brinco:
Bahia tem letras cinco,
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
Um furtar outro foder.
II
Também vou cantar a minha,
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha;
Nesse trono de beleza
Em que a mão da natureza
Esmerou-se em quanto tinha.
Correi pr'as bandas do sul:
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante
Santa Cruz, hoje Brasil;
- É uma terra de amores
Alcatifada de flores
Onde a brisa fala amores
Nas belas tardes de Abril.
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
- Mimosa jardim de fada -
Do mundo todo invejada,
Que o mundo não tem igual.
Não, não tem, que Deus fadou-a
Dentre todas - a primeira:
Deu-lhe esses campos bordados,
Deu-lhe os leques da palmeira,
E a borboleta que adeja
Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Na folhagem da mangueira.
É um país majestoso
Essa terra de Tupã,
Desde'o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!
- Tem serranias gigantes
E tem bosques verdejantes
Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.
Que se despenha fremente,
Dos galhos da sapucaia.
Nas horas do sol ardente,
Sobre um solo d'açucenas,
Suspensas a rede de penas
Ali nas tardes amenas
Se embala o índio indolente.
À sombra do cajazeiro
Soltava seus doces carmes
O Petrarca brasileiro;
E a bela que o escutava
Um sorriso deslizava
Para o bardo que pulsava
Seu alaúde fagueiro.
Quando Dirceu e Marília
Em terníssimos enleios
Se beijavam com ternura
Em celestes devaneios:
Da selva o vate inspirado,
O sabiá namorado,
Na laranjeira pousado
Soltava ternos gorjeios.
Foi ali, no Ipiranga,
Que com toda a majestade
Rompeu de lábios augustos
O brado da liberdade;
Aquela voz soberana
Voou na plaga indiana
Desde o palácio à choupana,
Desde a floresta à cidade!
- Mancebos e anciãos
–E, filhos da mesma terra,
Alegres deram-se as mãos;
Foi belo ver esse povo
Em suas glórias tão novo,
Bradando cheio de fogo:
- Portugal! Somos irmãos!
Já não soava na serra
Nem os ecos da montanha
Ao longe diziam - guerra!
Mas não sei o que sentia
Quando, a sós, eu repetia
Cheio de nobre ousadia
O nome da minha terra!
Se brasileiro nasci
Brasileiro hei de morrer,
Que um filho daquelas matas
Ama o céu que o viu nascer;
Chora, sim, porque tem prantos,
E são sentidos e santos
Se chora pelos encantos
Que nunca mais há de ver.
Por esses campos que eu amo,
Pelas mangueiras copadas
E o canto do gaturamo;
Pelo rio caudaloso,
Pelo prado tão relvoso,
E pelo tié formoso
Da goiabeira no ramo!
Mas não pode mais a lira;
Que outro filho das montanhas
O mesmo canto desfira,
Que o proscrito, o desterrado,
De ternos prantos banhado,
De saudades torturado,
Em vez de cantar - suspira!
Tem tantas belezas, tantas,
A minha terra natal,
Que nem as sonha um poeta
E nem as canta um mortal!
Depois... o caçador chega cantando,
À pomba faz o tiro...
A bala acerta e ela cai de bruços,
E a voz lhe morre nos gentis soluços,
No final suspiro.
Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida,
Irei sozinho, a voz desfalecida,
Dormir no meu jazigo.
À beira do caminho;
E como a juriti, - longe dos lares -
Nunca mais chorarei nos meus cantares
Saudades do meu ninho!
III
sou um homem com Glauber Rocha na cabeça e uma câmara na mão
andando fico à margem de minha terra:
TRISTERESINA.
terra nos olhos da lente.só filmo planos gerais.
planos
ando pelas ruas mas tudo de repente é novo para mim:a vermelha. a grama. o meu caso de amor. a estação da estrada de
ferro teresina-são luís um dia de manhã.
e um poço.
e um menino.
como posso agora cantar minha terra;estando tão longe-perto dela.
como posso eu e essa miséria louca
descobrir destruir as ruínas do lar
citação: NÃO TEREMOS DESTRUÍDO NADA SE NÃO DESTRUIRMOS AS RUÍNAS
reinscreve um poeta a seu passo a nova capital & a passada capitania de Piaguí1*
tristeresina: um quê de semelhante
estás ao que era nosso antigo estado