ELMAR CARVALHO

 

Na quinta-feira passada, houve, em Manaus, a solenidade de entrega dos espadins aos novos cadetes da briosa Polícia Militar do Amazonas, após concluída a primeira etapa do curso de dois anos. Meu filho João Miguel estava entre esses futuros oficiais amazonenses. Sua mãe, coruja como toda mãe que se preza, foi assistir a essa bela festa, em que o nosso filho, como representante do Piauí, entre os novéis cadetes, conduziu a bandeira do nosso Piauí. Por causa de compromissos, tanto na Justiça comum como na eleitoral, não pude participar desse evento.

 

No domingo, quando estava a conversar com meu amigo Paulo Almeida Nunes, na cafeteria 3 Corações, de sua filha, vi uma camisa polo e uma garrafa de vinho tinto que ele recebeu de presente de seu filho Ravanelli, também dono de uma loja no shopping Riverside. Sem nenhuma ponta de inveja, posto que Deus me fez destituído desse triste sentimento, disse ao Paulo, fingindo certa tristeza:

– Não recebi nenhum presente, por conta do Dia dos Pais...

 

O boa praça Paulo Nunes, sorrindo, talvez para me animar, respondeu:

– Não recebeu ainda, mas vai receber!

O Paulo, como se diz no jargão popular, parece ter falado pela boca de um anjo. Com efeito, mais tarde, ao chegar em casa, recebi o meu presente, através dos mares internéticos, sob a forma de um singelo e-mail, enviado por meu filho João Miguel. Peço licença aos meus dois ou três leitores para transcrevê-lo abaixo, na íntegra:

 

Falar do meu pai é fácil. Eu sei que não vou ser igual a ele ou conseguir ultrapassá-lo em seu curriculum vitae, mas quero ser só 50 % do que ele é. Um cara nobre, para o qual uma das profissões mais admiráveis é a do professor. Homem culto, reto, honesto, que ocupa umas das profissões mais desejadas no Serviço Público. É uma autoridade apenas no nome, na profissão, porque fora dela continua a pessoa simples, humilde, que todos admiram.

 

"Como pode? Ele é.....? Pensava que era um técnico, analista judiciário". Essa história é verídica. Uma vez um amigo meu me disse que pagou um mico falando com ele de maneira despojada, pensando que ele ocupasse um "cargo menor", tendo em vista a simplicidade e humildade dele, mas é que com ele não tem "frescura" mesmo rs. É nisso que eu invisto e tento me espelhar. Ele sempre foi um bom pai, um bom marido, casado há quase 28 anos, sendo que o outro amor dele é pela literatura, da qual armazena mais de 3 mil livros em seu arsenal bibliotecário.

 

Ele ama ler e escrever. Já possui mais de 5 livros lançados, e dezenas de participações em outros livros coletivos e mídias. Na profissão, em que ele tem "poder", não se vende para ninguém, o poder que ele usa é só para fazer a justiça. O grande romancista e teatrólogo inglês William Shakespeare nos diz que “nenhuma herança é tão rica quanto a honestidade”. Portanto, quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza. O topo da inteligência é alcançar a humildade, e acho que a maior e primeira prova da grandeza de um homem é a sua humildade. Parabéns PAI, pelo o seu dia.”

 

Creio não ser necessário dizer que esse e-mail me emocionou e me desvaneceu. Foi um rico presente. Com certeza, para mim, foi mais valioso que um sofisticado e caro artefato eletrônico, ou mesmo algum dourado ou prateado objeto de joalheria. Entretanto, devo dizer que meu filho exagerou na dose. É claro que estou longe de merecer integralmente o que ele disse. Mas, por favor, perdoem o jovem cadete! Afinal, ele estava falando do pai dele, emocionado pela saudade da casa paterna, que ele deve curtir na solidão da longínqua Manaus. Na verdade, as virtudes que ele afirma ver em mim, eu as enxergo mais nos avós paternos dele, e gostaria que elas fossem o nosso legado espiritual.

 

Diria que tenho apenas me esforçado um pouco para ser um pouco tudo aquilo que ele disse; tenho buscado alcançar ao menos uma migalha das virtudes que ele me atribui, porém sabendo quão árdua e difícil é a lapidação da pedra bruta, que somos nós. Além do mais, nem sempre consegui ser um bom pai. Por vezes, me faltou paciência, quando ele enfrentou os difíceis e por vezes atribulados anos da adolescência, e eu amargava o prenúncio da “aborrescência” do meu avançar na idade e nas vicissitudes da condição humana. Nem sempre tive tolerância para dialogar com sabedoria e humildade com ele. Talvez, em alguns momentos, tenha sido demasiado exigente e rigoroso. É que os pais desejam o que consideram o melhor para os filhos.

 

Mas pude sentir que ele era um bom rapaz; que ele se arrependia quando cometia algum dos pecadilhos, não só da juventude, mas inerente ao fator humano. E quem nunca os cometeu? Sabia ser humilde, quando necessário, apesar de ter o seu brio próprio. Pelas boas amizades que foi amealhando, eu podia sentir que ele era do bem, que era um bom garoto. Conquanto não fosse de uma disciplina espartana e feroz nos estudos, os seus colegas comentavam que ele tinha certa facilidade em assimilar o que lia, ou ouvia nas salas de aula.

 

Depois que ele foi para Manaus, pude ver os seus livros, enfileirados nas prateleiras de seu quarto vazio, e notei os rastros de suas leituras, de seu esforço, através das frases sublinhadas e das anotações à margem da mancha gráfica. Espero em Deus que ele seja um bom oficial, e que aja sempre com sabedoria, prudência e justiça. Deus sempre protege os que porfiam em fazer o que é certo e o que é justo. É isso o que lhe desejo, e o mais virá por acréscimo. Amém.