“Para muitos que leram Heidegger não ficou instantaneamente claro de que diabo ele está falando. Felizmente o próprio Heidegger tinha consciência dessa dificuldade e da necessidade de tratar dela. Para esclarecer seu pensamento nesse ponto, usou simples uma metáfora rural. O método para compreender a questão do ser, disse, era como o de abrir uma clareira na floresta. Limpamos a mata cerrada e a vegetação rasteira de modo que a luz possa se irradiar no terreno da clareira. A palavra alemã Lichtung, que significa “clareira”, contém a palavra Licht, que significa “luz”. Espalhamos luz sobre o terreno limpo que está oculto sob o que é imediatamente aparente. Expomos seu substrato, que é assim “desvelado”.
Mesmo para Heidegger, porém, há uma dificuldade aqui. Quando pomos à mostra o ser que estava velado, nós o desvelamos. Ele chama o que é desvelado aletheia. Essa é a antiga palavra grega para “verdade” – mas significa também não-esquecimento ou desvelamento. No entanto, segundo Heidegger, esse mesmo desvelamento produz velamento, encobrimento. Como pode ser isso? Ao desvelar revelamos o ser de um modo, mas ao mesmo tempo velamos todas as suas outras possibilidades. Ao escolher uma revelação, bloqueamos as outras revelações possíveis. Isso explica como o ser pode ter uma história, que não é necessariamente de progresso. O que os gregos antigos revelaram do ser perdera-se agora para nós em nossa revelação tecnológica do ser. Nosso desvelamento resultara em ocultamento”.
STRATHERN, Paul. Heidegger em 90 minutos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004, págs. 41 e 42.