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As acusações contra Dominique Strauss-Kahn são extremamente graves. Mas, a essa altura do processo, elas possuem uma particularidade: não foram provadas. No entanto, do ponto de vista midiático e político, Strauss-Kahn já foi julgado. E duramente condenado, impiedosamente.


Quando um dos homens mais poderosos do mundo é entregue às fotos de imprensa, saindo de uma delegacia com as mãos algemadas para trás, ele já está sofrendo uma pena que lhe é específica.


Questão grave: é preciso que a fama de um homem o prive de sua presunção de inocência midiática? Pois embora os homens certamente sejam iguais perante a Justiça, eles não o são diante da imprensa... Nesse caso, a mídia inteira é culpada. E a encenação da Justiça americana é uma maneira de organizar de antemão uma primeira condenação – midiática, no caso – de qualquer suspeito que pertença ao mundo das pessoas conhecidas.


Sob uma tripla acusação – “ato sexual criminoso, tentativa de estupro e retenção ilegal” - , o diretor do Fundo Monetário Internacional deveria se apresentar nesta segunda-feira (16) a um juiz de Nova York. Strauss-Kahn já informou, por intermédio de seus advogados, que nega esses fatos. Ele aceitou de boa vontade submeter-se a todas as análises corporais que a polícia queira realizar.


Depois, bem depois, virá o julgamento, e só ele dirá, examinados os fatos, se as acusações são legítimas ou não.


poderá responder em liberdade


O tempo jurídico é um tempo longo. Após o julgamento, Strauss-Kahn pode ser totalmente inocentado. Isso aconteceu quando ele foi suspeito – de “falsificação” – e depois liberado no caso do Fundo dos Estudantes da França (MNEF, sigla em francês), em 1999.


O tempo midiático, como sabemos, não existe mais. Nesse domínio, reina uma única unidade de medida: o nanossegundo. Graças ao Twitter e outras maravilhas da comunicação eletrônica instantânea, o relato é “ao vivo”. Se isso é motivo de comemoração ou a premissa de um pesadelo, pouco importa: é assim.


Consequentemente, a notícia da investigação sobre Strauss-Kahn pode sozinha fazer o euro cair nos mercados asiáticos – foi o que aconteceu na manhã de segunda-feira – ou complicar antecipadamente uma negociação sobre a dívida grega. E ela pode também, como ouvimos à exaustão desde a madrugada de domingo, abalar em um segundo a perspectiva das eleições presidenciais francesas.


Isso porque o tempo político, acompanhando o imediatismo midiático, não é o tempo jurídico. O fato de que Dominique Strauss-Kahn pode no final ser declarado inocente praticamente não tem consequências sobre seu futuro político.


O atual processo, que deverá demorar, o impede de participar das primárias do Partido Socialista. O impacto do caso – um “trovão”, como bem disse Martine Aubry, primeira secretária do Partido Socialista – foi tão grande que expulsou Strauss-Kahn do cenário político. Seja ele culpado ou não.
 
Do jornal Le Monde