Há homens que, por índole e caráter, não se deixam enlevar por elogios graciosos: esses nem precisam se esquivar dos hipócritas que lhes lançam falsos louvores; outros que, se sentem não ser possível resistir a espúrias ou demagógicas manifestações de exacerbada admiração, afastam-se dos mentirosos que as atribuem; contudo, também existem, e como são muitos, os que, por algum tempo, fingem não se afetar com  doces palavras, críticas favoráveis a eles dirigidas, até que, num dado momento, a elas sucumbem e passam a acreditar, tomar por verdadeiras supostas afirmações amáveis ditas a seu respeito;  coitados, só então descobrem que caíram no conto do vigário de falastrões, parasitas da mídia impressa, visual ou de abutres de ocasião, que só querem visibilidade, estar em evidência. Servindo-se de um asno oportunista, a quem tenham que pagar pouco ou quase nada para ressaltar-lhe as “incríveis qualidades”, aproveitam-se.


 A humildade não deve ser considerada sinônimo de subserviência, tampouco, de ignorância ou desinteligência, porque tolo e néscio é quem, conhecendo as próprias capacidades e limites, se deixa iludir por larápios de consciência.  Quisera todo indivíduo fosse humilde, inteligente e capaz de discernir quando o quisessem tomar por idiota ou estúpido de quando o estivessem respeitando e, verdadeiramente, relevando suas virtudes. Infelizmente, nem sempre isso acontece.


 Uma das características da pessoa que passou a acreditar, de fato, ter se transformado na referência cultural, intelectual, moral, no exemplo a ser seguido, alardeado por falsos admiradores ou pseudo-seguidores, é começar a tomar a si mesma como motivo, tema, enredo, protagonista e coadjuvante em tudo que expuser, publicar, falar ou informar.


 Não é raro vermos dessas pobres criaturas, maria-vai-com-as-outras, sendo desmascaradas, desmentidas, relegadas ou colocadas no lugar que merecem, por aqueles aduladores, tão logo assumem o papel que para elas criaram a fim de atiçar-lhes o ego, despertar-lhes a vaidade. Tripúdio, vilipêndio, gozação é o que, geralmente, ganham os que se deixam enganar por tais ilusionistas, quando não é um retumbante ostracismo o prêmio a que fazem jus os que se julgam imprescindíveis.


 É bom ficarmos atentos. Desconfiemos daqueles que, sem uma forte razão, de repente, nos colocam como centro de todas as atenções: pode ser que nossa franqueza, a humildade honesta que nos caracteriza, a capacidade intelectual, artística ou cultural, algo que não precisa ser ressaltado para além dos limites que estabelecemos como ideal, seja para o desocupado ou aproveitador de plantão a grande oportunidade de tornar-se visível e evidente, pouco lhe importando se mercantilizando virtudes alheias.


    Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense