ELMAR CARVALHO

 

Muitas letras de música, títulos de novelas e filmes, nomes de cantores, atrizes e também jogadores têm servido de inspiração para denominar pessoas e estabelecimentos comerciais. As músicas Beleza da rosa e A velha debaixo da cama, a primeira imortalizada pela voz de José Ribeiro, e a segunda da autoria de Geraldo Nunes, para ficarmos apenas em dois exemplos, designaram dois famosos cabarés de Parnaíba, que marcaram época no final dos anos 70 e começo dos 80. Até o terrorista Osama Bin Laden serviu para nomear um menino brasileiro, o Osaminha, que talvez tenha sofrido algum tipo de bulling, por causa de seu nome.

 

A música Menina Veneno, ao estourar em todas as paradas de sucesso, do rádio e da televisão, celebrizou o cantor Ritchie. É uma bela música romântica, lírica, que exalta determinada mulher, que não saía da cabeça do homem que a amava. Quando fui juiz em determinada comarca do interior do Piauí, tomei conhecimento de certa Menina Veneno, que não cheguei a conhecer. Segundo as informações que me deram, não se tratava de nenhuma beldade; antes, seria o que as pessoas chamam de baranga ou tribufu. Portanto, o apelido fora posto por ironia, e não porque ela fosse alguma mulher fatal ou mesmo a musa da música do Ritchie, que deveria ter uma beleza notável, avassaladora, ao menos na imaginação do autor da letra.

 

A Menina Veneno interiorana a que me referi era na verdade uma prostituta já muito rodada ou, como dizem, de muita quilometragem. A irmã de um deficiente mental ingressou com um pedido para administrar o benefício que esse rapaz recebia do INSS, uma vez que ele dava toda a verba para essa mulher, que ainda o humilhava e esnobava, recusando-se muitas vezes a dar a contrapartida “laboral”, ou seja, não fazendo sexo com o louco, que por causa disso ficava ainda mais louco. Deferi o pedido, mas determinei que uma pequena parte do dinheiro fosse entregue ao rapaz, para que ele pudesse satisfazer suas necessidades íntimas, fosse com a menina venenosa ou não, mas impedindo a sua prodigalidade irresponsável.

 

Vemos hoje nos noticiários da TV os bandidos se superando em criatividade na execução de seus crimes, seja virtual ou fisicamente. Eles fazem uso dos mais diferentes equipamentos e tecnologias para a perpetração de seus delitos, mas ainda usam métodos antigos e simples, explorando a desatenção ou ingenuidade da vítima, através da célebre “mão de gato”, quase passe de ilusionista, com que sub-repticiamente, com muita destreza e, às vezes, a ajuda de um cúmplice, retiram bolsas e objetos das pessoas, muitas vezes idosas, doentes, fragilizadas; ou quando aplicam o chamado “conto do vigário”, mormente em pessoas ingênuas e de pouco estudo, que se deixam levar pelo canto de sereia do vigarista, na ilusão de conseguirem um dinheiro extra.

 

Mas nada supera em criatividade e bizarria, o homicídio que seria praticado pela mais recente Menina Veneno, de que ouvi falar. O fato foi explorado pela televisão, e me chamou a atenção pelo ineditismo da metodologia usada. Uma mulher, após brigar com o marido, o atraiu para o sexo, naturalmente com afagos, gestos de sedução e palavras amorosas, quiçá fazendo uso de nova e sensual lingerie. Contudo, quando os dois já estavam partindo para as vias de fato, para a consumação ou finalmente, a fêmea induziu o macho a praticar sexo oral.

 

O rapaz, por pura intuição ou por ter sentido algum aroma estranho ou apenas por desconfiança, diante da rápida reconciliação da esposa, refugou a libidinagem proposta, e foi registrar a ocorrência tão inusitada na delegacia policial, sob o argumento de que a mulher tentara matá-lo, usando veneno na vagina. Não sei se essa quase literalmente mulher fatal ter-se-ia inspirado na viúva negra, que é uma espécie de aranha que mata o macho durante a cópula, para depois comê-lo, ou melhor dizendo, devorá-lo. A mulher, usando a sua própria, qual a aranha viúva-negra, iria matar o marido. É o caso de se dizer: morre-se e não se vê tudo. Eita mundo para ter de tudo e mais!...