[Paulo Ghiraldelli Jr.]

Foi dado o tiro. A ideia básica é acertar na cabeça e matar. É a bala de prata para destruir de vez o ensino médio. O feito ficará na história da educação como tendo ocorrido na gestão de Aloísio Mercadante e no governo da primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Essa proposta de reforma do Ensino Médio é a resposta do MEC à situação atual da educação brasileira? Sim! É essa pobreza. Mas tem um mérito: desmente o que já escrevi aqui, ao menos em parte.

Eu vinha dizendo que a transformação das universidades federais em meros colégios era algo que estava ocorrendo sem que ninguém estivesse deliberadamente propondo. Mas não é verdade. O governo mostra, agora, que está propondo isso. Pois com a reforma do ensino médio, diluindo as disciplinas em áreas, vai destruir de vez o aprendizado em nível médio, deixando o conteúdo deste nível para ser absorvido na universidade. Mesmo que isso fosse possível – e efetivamente não é – a medida tem um elemento perverso e antidemocrático na sua concepção. Pois, no concreto, trata-se de tirar da maioria dos brasileiros o contato com uma cultura sofisticada que ninguém imaginou que, um dia, seria posta de lado. Muito menos se imaginou que seria o PT, um partido popular, o causador dessa barbárie, o de deixar parte importante da cultura fora do campo de acesso dos mais pobres.

Trata-se, então, de uma real política educacional que vem junto do arrocho salarial já sofrido pelo professor do ensino médio e que agora, também propositadamente, é assumido como o que é proposto pelo próprio MEC em relação ao ensino federal universitário.

A vida estudantil do brasileiro será, então, dessa maneira. Primeiro: muitos anos dedicados à alfabetização, o que levará termos uma alfabetização ruim. Alfabetização é algo que não pode ser demorado, pois cansa o aluno e o faz ver na escola alguma coisa de pouca utilidade. Segundo: um ensino médio de “espera”, sem aprendizado. A escola média será um lugar para segurar o adolescente até ele se integrar em um ENEM da vida. Terceiro: completamente infantilizado e inculto, o jovem chegará  à universidade que, então, deverá em pouco tempo abandonar sua função de modo a servir-lhe de colégio. Isso quanto já ficar na falcatrua escandalosa do ensino a distância. Assim funcionará o Brasil. O Brasil todo? De início, não creio que será agarrado por inteiro.

Creio que a lei do ensino médio deverá ser burlada pelos grandes colégios dos ricos que, então, continuarão formando um pequena elite para algumas universidades (como a USP por exemplo), que conseguirão sobreviver mais tempo sem virar um lixo. Mas, com o tempo, talvez até mesmo a USP se iguale às federais então decapitadas pelo sistema de cota social que, enfim, tem uma função conservadora, diferente do sistema progressista de cota étnica. Ao final, nem mesmo teremos diminutas elites pensantes.  Ficaremos sem a cultura de classe média e sem elites.

Esse país não vai “dar certo”? Vai. Mas não do modo que gostaríamos. Pode ser um país de vida economicamente até saudável, mas será um país de gente grosseira, ignorante e, em alguns momentos, indisposta com a democracia. E aí sim, com um pouco de ajuda do diabo, pode não dar certo.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ

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