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            Miguel Carqueija 

            Dos mais de 30 filmes que Amácio Mazzaropi produziu, dirigiu, roteirizou, protagonizou e até cantou (como Charles Chaplin ele era pau para toda obra) este, de 1973 e já colorido, não me parece dos melhores. O roteiro, escrito por Mazzaropi e Renato Bruno, tem muitos furos. Comédia pouco existe, parece mais um drama de conotações policiais. A parte cômica de fato está praticamente localizada no Mazzaropi que, variando embora o nome e situação do personagem (aqui ele é o fazendeiro Polidoro) praticamente faz sempre o mesmo tipo, o Jeca, assim como Chaplin, até 1936, faz apenas, na maioria das vezes, o Vagabundo. E Mazzaropi é sempre engraçado com seu jeito de falar, suas malcriações, seu andar desengonçado de caipira. É um personagem brasileiríssimo.

            A trama, de conotação policial, pode assim ser resumida: Polidoro mora com a esposa Duvirgem (Geny Prado, que costumava fazer par com ele), a filha e o genro, numa fazenda de sua propriedade. Por pressão da família ele concorda de má vontade em vender a fazenda Guacyra para um desconhecido chamado Agenor, amigo do genro Zé Luís. A família iniste que ele precisa descansar e ir morar na cidade. A venda é realizada em condições péssimas: dos 800 milhões (lembrem que era outra moeda) ele só recebe á vista 20 milhões, e o resto em promissórias. Mas esses 20 foram entregues pela esposa argentina de Agenor, um vigarista raivoso que, mancomunado com Zé Luís, só quer se apossar dos bens da fazenda.

            As interpretações não são lá essas coisas e a trama é muito forçada, pois quando não chega o primeiro pagamento Polidoro nem pensa em executar a promissória, e ainda é convencido por Agenor a acompanhar sua esposa (interpretada por Beatriz Bonnet) à Argentina, onde ela iria concretizar algum negócio para levantar dinheiro. A jogada é pouco convincente, e parece existir no roteiro somente para justificar o título. Até porque, a parte da fita desenrolada em solo argentino, em Bariloche e Buenos Aires, só ocupa pequena parte da projeção total. As atrapalhações de Polidoro tentando esquiar também não funcionam como humor. As cenas finais, com a batalha pela retomada da fazenda, são mais interessantes.

            Os filmes de Mazzaropi sempre são curiosos inclusive pelos nomes do elenco, pelo menos os artistas dos números musicais. Com frequência se podem rever artistas do mundo da canção raramente vistos em cinema. No presente caso aparecem Elza Soares (bem jovem ainda) e o então astro da música pop Paulo Sérgio, que morreria pouco tempo depois, prematuramente, vítima de ataque cardíaco.

            O próprio Mazzaropi costumava dar uma de cantor. Ele interpreta “Guacyra”, de tavares Heckel e Joraci Camargo.

            Para os fãs do comediante e quem queira assistir uma diversão sem grande compromisso.

 

Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2016.