Mário Faustino Revisitado: Oração de lançamento

[Dra. Fides Angélica Veloso Omati - da Academia Piauiense de Letras]

Senhoras e Senhores,

Para ser valorizada a obra, importante seu autor.

Professor Carlos Evandro Martins Euláliio ostenta um excelente currículo, cujo resumo me permitam ler, o qual está lançado na orelha deste livro, sendo poucos leitores a se preocuparem em verificá-la. (Feita a leitura da orelha do livro).

Bem, inicialmente, imponho-me revelar a alegria de esta Academia haver escolhido para integrar sua “Coleção Centenário” esta obra que, de antemão, traz dois importantes destaques, quais a sempre necessária tentativa de entendimento da genial produção literária do poeta MÁRIO FAUSTINO, único e inigualável em sua arte poética, bem como o estudo abalizado de um pesquisador de relevo, em cujo magistério tem dado foco especial e percuciente crítica de nossos autores – o professor CARLOS EVANDRO MARTINS EULÁLIO.

Peço vênia para dizer de minha grande admiração pelo autor desta obra, obrigatória para quem pretende apreciar a poesia faustiniana. O professor Carlos Evandro dedica-se com prazer e com talento à teoria, à crítica e a todos os aspectos da Literatura, objeto de seus dedicados estudos há mais de cinco décadas. Tive a honra de, com ele, integrar a turma de Licenciatura em Letras, na antiga Faculdade Católica de Filosofia, posteriormente transformada em Departamento de Letras da Universidade Federal do Piauí, entregues os respectivos diplomas em 1975

Desde então, impõe-se observar que o autor desta obra  sempre demonstrou ser vocacionado para a seara literária e, pois, aluno aplicado, atento, brilhante. Interessante que, à época, dividia-se ele no cumprimento de uma atividade que contrastava com sua idealizada e preferida licenciatura, tal a função de supervisor em estabelecimento bancário, abandonada tão logo se firmou no magistério superior. Daí em diante, sua plena dedicação e sua excelência foram instaladas para constituírem o professor Carlos Evandro em presença obrigatória e indispensável na crítica literária e na orientação segura de alunos de cursos médio e superior, os quais não somente tem haurido conhecimentos específicos mas também, e principalmente, dele tem recebido permanente inspiração no entusiasmo e na proficiência de um intelectual aplicado a bem demonstrar modos e formas de apreciar uma obra literária e de como verificar estruturar e criticar-lhe forma e conteúdo.

O livro ora trazido a público em sua segunda edição, com patrocínio desta Academia, constitui acertada escolha por ensejar a repetição necessária da divulgação da obra do poeta MARIO FAUSTINO, patrono da cadeira n.40, poeta que, ainda em curta vida, construiu obra poética duradoura e, sobretudo, instigante na sua originalidade, na sua ousadia, na instauração de uma interlocução entre o antigo e a novidade,entre o ser da poesia clássica e aquela que seria um vir-a-ser.  Sim, ainda hoje, mais de meio século depois de seu trágico desaparecimento, persiste o desafio de uma arte poética única, atraente e desafiadora – a poesia de MARIO FAUSTINO.

Entretanto, Carlos Evandro, nessa chamada REVISITAÇÃO, na verdade, fez bem mais que isso, como ele próprio afirma em Nota Prévia: “Nesta edição, ela (refere-se ele à seleta anteriormente publicada em duas edições) ressurge com o título Mário Faustino Revisitado : Textos Críticos e Antologia Comentada, numa configuração atualizada, revista e acrescida de novos textos críticos e informativos sobre o poeta Mário Faustino. São ainda incluídas palestras dos professores Carlos Evandro Martins Eulálio(UFPI), Benedito Nunes(UFPA),  Albaniza de Carvalho e Chaves(UFPA)  e Haroldo de Campos, da PUC-SP e USP-SP” .(p.15)

Então, além de poesias, o professor Carlos Evandro destaca Mário Faustino contista, em cujo modo de expressão iniciou-se aos 8(oito) anos de idade, em demonstração cabal e inconteste de genialidade. Contos estranhos, fruto de uma alma atormentada, ocorrência freqüente nos gênios, não adaptáveis à rotina e ao natural da vida, já que estão bem além do seu tempo, acima do meio em que vivem, da concepção de vida das pessoas comuns. Por muito pensarem, e por procurarem novas formas de comunicação, ou se desesperam, ou são mal compreendidos, ou são desajustados. Interessante como em Mário Faustino seus anseios e a manifestação de sua angustiada maneira  de ver e sentir o mundo ao seu redor não perturbou o desempenho de funções e o ajustamento à convivência com sua rotina de trabalho, amealhadora de conquistas profissionais destacadas em que se incluem nomes projetados na poesia e na literatura de sua época, permanecendo até os dias de hoje, mais de meio século após seu falecimento.

Belo e inteligente, jovem de talento que, nascido no Piauí e educado no Pará, esse genuíno brasileiro norte-nordestino  se firmou conquistando a capital da República, editorialista que foi do respeitado e muito lido JORNAL DO BRASIL, crítico literário nesse mesmo Jornal, além de muitos e diversificados ofícios em entidades nacionais e internacionais, em que se inclui a Organização das Nações Unidas, sempre, de uma forma ou de outra, ligados à comunicação.

Poder-se-ia objetar à importância literária de MÁRIO FAUSTINO  a condição de autor de um único livro publicado, O HOMEM E SUA HORA.  Entretanto, o autor contava apenas 25 anos, considerada que a produção poética era anterior a essa idade juvenil. Mais que isso, não é o fato de um livro, mas o que esse livro traz de inovador e desafiador.

Com efeito, autores de muitos livros podem ter muito pouco acrescentado ao universo humano do conhecimento. E, de outra parte, uma únicas obra pode revolucionar e instigar o pensamento, tocar fundo nas emoções, abalar os alicerces de vetustos e aparentemente inalteráveis modos de ser, de sentir, de fazer.

O professor CARLOS EVANDRO, neste seu livro, demonstra a importância da poesia faustiniana, revisitando, como se expressou no título que a classifica, a obra admirável de um poeta que, ainda morrendo jovem, deixou um imorredouro legado. A par disso, traz a antologia do poeta, dividindo as poesias deste em fases, assim classificadas: 1ª. Fase Inicial ou Pré-Moderna (período de 1948 a 1955); 2ª. Fase Moderna ou Experimental, abrangendo de 1956 a 1959; 3ª. Fase Pós-Moderna, de 1959 até sua morte, em 1962.

Todas as poesias constantes desta obra demonstram o talento e a inspiração desse vate piauiense, mas peço vênia a todos para ressaltar a constitutiva do Prefácio do livro “O HOMEM E SUA HORA”, a que mais me sensibiliza e me encanta:

“Quem fez esta manhã, quem penetrou                                                             
À noite os labirintos do tesouro,                                                                                   
Quem fez esta manhã predestinou                                                                  
Seus temas a paráfrases do touro,                                                                     
A traduções do cisne: fê-la para                                                                                            
 Abandonar-se a mitos essenciais,                                                                                       
Desflorada por ímpetos de rara                                                                        
Metamorfose alada, onde jamais                                                                        
Se exaure o deus que muda, que transvive.                                                            
Quem fez esta manhã fê-la por ser                                                                   
Um raio a fecundá-la, não por lívida                                                                    
Ausência sem pecado e fê-la ter                                                                                   
Em si princípio e fim: ter entre aurora                                                                       
E meio-dia um homem e sua hora.”

Finalizando, e pressupondo licença dos presentes que compõem esta distinta audiência, dirijo-me ao autor deste precioso estudo e desta pesquisa enriquecedora das letras do Piauí e do Brasil, para dizer-lhe, professor e amigo Carlos Evandro, que me sinto destituída de talento literário à altura do seu e do poeta cuja produção ilustra com uma crítica abalizada e comentários agregadores; mas, acredite, li seus textos sobre o patrono da cadeira que ocupo  neste Sodalício com atenção e admiração, e, nesta oportunidade, firmo-lhe gratidão pela distinta escolha de minha pessoa para apresentar sua obra, ao tempo em que agradeço, humilde e penhoradamente, tão subida honra.

Obrigada!

Fides Angélica Ommati – ocupante da cadeira n.40-APL

(Obs.O lançamento desta obra deveria ter sido realizado, quando interrompidas as atividades da APL por motivo da pandemia, e , pois, o seu autor ainda não havia sido eleito e empossado na condição de acadêmico, o que ora desfruta, por merecimento e para enriquecimento de nosso sodalício).