Washington Ramos    

     Nunca fui, não sou, nem pretendo ser um escritor marginal. Nem mesmo um simples escritor com livros publicados não está em meu horizonte de expectativas. Sou um simples escrevinhador de crônicas. Meu propósito é observar minha cidade e algumas notícias do  mundo para garatujar algumas linhas que aliviem minhas confusões mentais, meus sonhos absurdos, meus desejos estranhos.

     Porém, mesmo aspirando a um objetivo tão humilde, quero ser lido. Não quero ser um escritor marginal como aquele tipo que esteve tão na moda há cinquenta anos, publicando edições mimeografadas e desprezando as publicações burguesas. Por isso peço que meus amigos leiam meus textos. Entro no Facebook e no Whatsapp e envio-lhes mensagens, dizendo que postei uma crônica no portal de meu amigo Dilson e que fiquem à vontade para criticar o que escrevi.

     Escritores famosos pedem que leiam e divulguem sua obra. Por que eu não faria o mesmo com minhas crônicas? No século XIX, Castro Alves, indo de Salvador para São Paulo, ao chegar ao Rio de Janeiro, leu sua peça Gonzaga e a Revolução de Minas para José de Alencar e Machado de Assis. Um gênio lendo para outros dois.

     Outro motivo que me leva a pedir a leitura de meus amigos é que hoje em dia as pessoas são muito ocupadas. Muito mesmo. Todas têm que ralar bastante para ter uma vida digna e honesta. Além disso, existem muitas opções de lazer, de atrações as mais variadas possíveis, todas querendo sugar nossa atenção e nos envolver. Gigantes da web como Google e YouTube conhecem nossas preferências e as vendem para empresas que diariamente nos bombardeiam com promoções imperdíveis. A qualquer hora do dia ou da noite, há anúncios nos chamando: compre aqui, divida no cartão, pague no boleto, viaje conosco, leia aqui, estude na Europa, assista àquele filme, curta esta praia... E por aí vai. É um mundo de chamamentos. Portais de literatura na internet são quase inumeráveis.

     Sabendo dessas infinitas opções, se eu não pedisse que me leiam, seria um acomodado ou arrogante que acharia que meus amigos é que deveriam procurar meus textos, que não passam de um minúsculo grão de poeira no universo virtual.

     Além desses infinitos chamamentos, meus amigos têm as ocupações e necessidades que todo mundo tem como dormir, se alimentar, tomar banho, escovar os dentes, trabalhar, cuidar da casa, conversar com outros amigos que eu não conheço, exercitar-se, dar atenção à família e uma das mais necessárias: tirar pelo menos alguns minutos do dia para simplesmente não fazer nada, apenas descansar e pensar em bobagens.

     Portanto, neste mundo altamente complexo em que vivemos hoje, em que ninguém tem muito tempo livre, não tem sentido esse papo de escritor incompreendido e marginal, isolado, se achando o tal e reclamando da burguesia que fede, embora seja um burguês também. Ou ele vai à luta por seus textos e consegue algum êxito, ou será sumariamente esquecido para nunca mais ser descoberto nem lembrado.

     Os escritores de cinquenta anos atrás que se achavam marginais estão quase todos completamente esquecidos. Havia um certo “charme”, uma certa pose nessa marginalidade, mas foi esmagada pelo tempo e pela falta de talento. Hoje, além do tempo, existe também a implacável internet, que não perdoa a ninguém, muito menos àqueles que querem ser marginais no ato de escrever. Para encerrar, nada melhor do que o testemunho de um poeta da época, que parece ter deixado de escrever poesia, pois nada encontrei a seu respeito na web:

                               “Ai que saudades que eu tenho

                                da mimeógrafo generation

                                            daqueles poetas medíocres

                                            daqueles poemas higiênicos

                                            que o tempo encadernou.”

 

                                             ( “Ai”, Paulo Nassar. Citado em  Poesia jovem anos 70/Literatura Comentada –  Abril Educação, S. Paulo. 1982.)