[Maria do Rosário Pedreira]

Fui professora de Português durante uns anos e estive em escolas várias, com manuais escolares muito diferentes, uns melhores do que outros. Os livros por onde estudei eram, basicamente, livros de leitura e gramáticas, enquanto estes por que dei aulas já tinham tudo junto e também exercícios e, como então se dizia, «fichas de leitura» com perguntas de interpretação (para o caso de o professor não as saber fazer). Para mim, do que recordo, os melhores manuais eram aqueles cujos textos tinham potencial para se dar a matéria que estava a ser tratada; textos que, no fundo, se prestassem para darmos os advérbios, ou as palavras derivadas, ou certas figuras de estilo, ou a estrutura narrativa, e, ao mesmo tempo, veiculassem conhecimentos e informação interessantes, além de certos valores, infelizmente em declínio. Tinha de ser o professor, claro, a encontrar a melhor forma de coordenar estas diversas aprendizagens, mas hoje o professor recebe um maual em que lhe dizem exactamente o que fazer, dispensando-o de pensar pela sua cabeça, o que é tremendo. E, no entanto, não vejo ninguém preocupado com isto, sabendo, ainda por cima, que muitos professores agradecem que lhes façam a papa toda. Por outro lado, li recentemente um artigo no jornal Expresso sobre livros escolares que criticava por exemplo um manual em que, num texto sobre um passeio familiar, o rapaz andava de bicicleta com o pai e a irmã colhia flores com a mãe, acusando o dito de veicular estereótipos familiares e de género. Compreendo, mas para variar podiam preocupar-se também com o ensino da língua materna?