[Flávio Bittencourt]

Mano Décio da Viola

Antes de Mano Décio, as letras dos sambas-enredo não narravam.

 

 

 

 

 

 

 

 Vinil Lp - Silas De Olveira Mano Décio Da Viola Hist Da Mpb

Vinil Lp - Silas de Olvieira Mano Décio Da Viola Hist Da Mpb

(http://www.emule.com.br/lista.php?keyword=Emano&pag=5&ordem=AUCTION_STOP)

 

 

 

 

 

O mestre-sala e a porta-bandeira da verde e branco: Diego Machado e Jacqueline Gomes.

Divulgação
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: Divulgação

(http://blog.estadao.com.br/blog/carnaval/?title=imperio_serrano_faz_ensaios_na_lagoa&more=1&c=1&tb=1&pb=1&cat=922)

 

 

 

 

"Décio Antônio Carlos (Bahia, 14 de julho de 1909 - 18 de outubro de 1984) foi um compositor de sambas do Brasil.

Mudou-se com os pais para o Rio de Janeiro com um ano de idade, em 1930, com Bide e João de Barros, compôs seu primeiro samba ‘’Vem, meu amor’’.

Em 1947 ajudou a fundar a escola de samba Império Serrano, que foi quatro vezes campeã cantando sambas compostos pelo, já assim chamado, Mano Décio ao longo de sua vida compôs mais de 500 sambas, e gravou três LPs

Morreu às no dia 18 de outubro de 1984, atualmente Mano Décio da Viola é o nome de uma rua onde viveu em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro".

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Mano_D%C3%A9cio_da_Viola)

 

 

 

 

"Segunda-feira, 26 de abril de 2010

Samba no Bar do Buiú - dia 09/05/2010

 


É isso mesmo dia 09 de Maio de 2010, domingo, dia das mães. Depois do almoço com as mães vamos cair no samba. Aguardamos todos lá pra dar aquele axé.

Endereço: Rua San Juan, 121 - Parque das Américas - Mauá - SP

Próximo à Estação Guapituba da CPTM

à partir das 15:00 hrs

Entrada Franca (...)

 

 

 

 

(http://www.vermutecomamendoim.com/2009/08/homenagem-mano-decio.html)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

JORGINHO DO IMPÉRIO E SEU PAI, MANO DÉCIO DA VIOLA

(http://www.vermutecomamendoim.com/2009/07/ave-decio.html)

 

 

 

 

RICARDO CRAVO ALBIM, HAROLDO COSTA, MAURÍCIO AZEDO, RACHEL VALENÇA E

SÉRGIO CABRAL (PAI)

 

"Na segunda passada [TEXTO ESCRITO EM 22.7.2009], estive no evento em homenagem aos 100 anos de Mano Décio da Viola, que aconteceu no auditório da ABI. Cheguei com o debate já em andamento, mas a tempo de ouvir parte das falas de Rachel Valença, Ricardo Cravo Albim, Haroldo Costa e Sérgio Cabral (o original). Foi uma noite de grandes momentos: Cabral cantando, à capela, os versos de Conferência de São Francisco, samba-enredo de 1946; um senhor salgueirense da platéia afirmando, com a força de seus cabelos brancos, que "se o samba não tivesse vis compromissos, o Império Serrano não estaria no Grupo de Acesso"; o bamba Roberto Silva cantando Exaltação a Tiradentes; o show de Jorginho do Império, filho de Mano Décio, com pérolas menos conhecidas do pai compositor.

(MARCELO MOUTINHO apresentando, em seu blog [PENTIMENTO] artigo de RACHEL VALENÇA, que adiante está reproduzdo, na íntegra,

http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/2009/07/post_23.php)

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
sendo que a caricatura de Mano Décio da Viola é de Ziraldo)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficheiro:213 1635-imperio-serrano-bandeira.jpg
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Depois do infausto falecimento do IMPERADOR DO SAMBA, a Secretaria Municipal de Educação do Rio decidiu que uma Escola Pública de Jacarepaguá [ZONA OESTE] receberia o nome de Escola Municipal Mano Décio da Viola"
 
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                                       PARA
                                       MANO DÉCIO DA VIOLA
                                       (Décio Antônio Carlos, 1909 - 1984) E
                                       SILAS DE OLIVEIRA (1916 - 1972),
                                       in memoriam
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

6.3.2011 - O centenário do nascimento de Mano Décio da Viola foi comemorado em agosto de 2009 - Antes dele, os sambas-enredo não eram narrativos.  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

"26 de agosto de 2009

Mano Décio da Viola, nosso herói da liberdade

 
MANO DÉCIO DA VIOLA - 100 ANOS

Em seu antológico samba-enredo “Heróis da Liberdade”, parceria com Silas de Oliveira e Manuel Ferreira, que alcançou o modesto 4º lugar no desfile de 1969, Mano Décio da Viola, Décio Antonio Carlos de nascimento, cita alguns vultos importantes de nossa história. Nossos heróis, que lutaram pela nossa liberdade e pela consolidação de nossa nação. Entretanto, a nossa história oficial deixa de lado nomes de pessoas que, através da música popular, conseguiram atingir resultados ainda mais expressivos: eles libertaram nossas mentes da obscuridade, da ignorância, da ditadura dos jabás e enlatados culturais. Conseguiram nos trazer emoção através de melodias singelas e de palavras cativantes. Ao fazerem samba, são os nossos “heróis da liberdade”.

Nosso herói em questão, Mano Décio da Viola, teve em sua vida o que chamamos de “saga do herói”. Nascido na Bahia, em Santo Amaro da Purificação em 14 de julho de 1909, filho do baiano Hermógenes Antonio Maximo, operário da construção civil e da pernambucana Maria Isabel Maximo, foi registrado em Juiz de Fora e batizado somente no Rio de Janeiro.

Pobre, ainda tinha mais 15 irmãos para dividir a escassa comida que tinha à mesa. Para suavizar esse sofrimento, trabalhou desde cedo, buscando água para abastecer os Morros de Santo Antonio e do Castelo, onde residiu. Morou na Mangueira e em Madureira e foi nesses centros irradiadores de samba que travou conhecimento de nosso ritmo que contagiava os morros e subúrbios cariocas. Cansado da perseguição do pai, fugiu de casa e foi vender jornal no Largo da Carioca. Foi aí que se tornou um morador de rua. “Bicho solto”, ia à todos os pagodes que achasse conveniente.

Em Mangueira, no Buraco Quente, conheceu Norberto Vieira Marçal, vulgo Manga, irmão do lendário Armando Marçal. Manga era presidente da Escola de Samba Recreio de Ramos e comandava quarenta garotos jornaleiros. O pequeno e já malandro Décio foi viver com ele.

A música já convivia com sua personalidade. Além de freqüentar o Recreio de Ramos, o rapaz de vinte e poucos anos se fez presente em diversas agremiações: União de Madureira, Rainha das Pretas, União de Vaz Lobo, Unidos da Tamarineira e Unidos da Congonha foram locais que recepcionaram o futuro lendário sambista em seus primeiros passos no mundo do samba.

Cativado por uma melodia que ouvira no cinema, fez seu primeiro samba, no início dos anos 30, colocando uns versos sobre a valsa de Waldteufel. Seu parceiro era o sambista Sete, mas quando o samba foi gravado anos depois por Almirante, os parceiros que apareceram no selo foram Bide e João de Barro (seu nome apareceu como Delson Carlos). À época, era comum vender sambas e parcerias. Vendeu vários e deu alguns para Armando Marçal terminar com Bide. É possível, portanto, que alguns dos clássicos da dupla Bide e Marçal tenha o dedo de Mano Décio. Foi nessa época, aliás, que ganhou o apelido que levaria para o resto de sua vida (o sambista Magno quem o apelidou). Foi nessa época, também, que perdeu a visão de um dos olhos quando uma lata de creolina que carregava estourou e atingiu sua face. Na ocasião compôs o samba “Cego e surdo”.

Cansado de rodar por várias escolas de samba, chegou a Escola de Samba Prazer da Serrinha por volta de 1933, 1934. Após ser aprovado por Alfredo Costa, o “dono da escola”, pôde lá permanecer. Lá, fez belos sambas de terreiro com Mario Feliciano, o Manula, Delfino (principal compositor junto com Mano Décio e diretor de harmonia da escola), Carlinhos Bem-te-vi e outros. Na época, os sambas possuíam apenas a primeira parte e ele compôs alguns belos versos como “Sonhei, sonhei / Comovido fiquei / Por alguém que eu amei / Eu de alegria chorei / Eu chorei”.

O ano de 1935 deve entrar para história de nossa música popular. Foi nesse ano que ele levou para a sua escola o grande compositor Silas de Oliveira. Antes eles já haviam composto o samba Meu Grande Amor (Meu grande amor / Vem consolar a minha dor / Você ainda é minha vida / É o meu calor / Eu lhe amo minha querida / Eu sou o seu cantor). Foi uma época onde o samba pôde levar a felicidade a nosso herói. Se antes as sofreguidões da vida consumiam a maior parte de seu tempo, agora esse tempo era ocupado com sambas, peixadas e farras homéricas.

Quando começou a Segunda Guerra Mundial, o Prazer da Serrinha fechou as portas. Mano Décio, então foi pra Portela. Retornou assim que a sua escola do coração voltou a desfilar, ainda em 1945. Nesse Carnaval, os sambistas mais jovens já estavam bastante incomodados com os mandos e desmandos do “ditador” Alfredo Costa. No ano seguinte, Antonio Caetano, fundador da Portela, levou para o Prazer da Serrinha seu enredo “A Conferência de São Francisco” que fora rejeitado pela agremiação de Oswaldo Cruz. Silas de Oliveira e Mano Décio fizeram o samba-enredo (considerado por Mano Décio pioneiro ao ligar o samba com motivos históricos ao enredo). Porém, na hora do desfile, Alfredo Costa pediu para que os componentes cantassem o samba de terreiro Alto da Colina, de Albano. O resultado foi um desfile desencontrado, sem harmonia com cada ala cantando um samba diferente. O 11º lugar foi até bom pelo desastre que foi. Mano Décio sentiu o golpe e chorou.

Diante de tais acontecimentos, uma nova escola era a ambição daqueles que foram violados em plena avenida. Em 1947, o desfile do Prazer da Serrinha ainda foi da dupla Silas/ Mano Décio (dessa vez o samba foi desfilado), mas o surgimento do Império Serrano era inevitável. Assim, no decorrer desse mesmo ano, surgiu o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, o menino de 47, Reizinho de Madureira.

A história do Império Serrano confunde-se com a história de Mano Décio. No primeiro desfile, em 48, o samba-enredo “Antonio Castro Alves” foi de Comprido, mas a partir daí, foram raros os anos em que o nome de Mano Décio não estivesse presente. Em 1949, compôs o antológico “Exaltação à Tiradentes”. Primeiro ele tentou em três oportunidades fazer um samba com Silas, todos reprovados. Alguns dias depois, sonhou com uma melodia. Não foi trabalhar, fez um peixe e firmou a primeira. Lembrou-se da segunda do Penteado e a encaixou. Estanislau Silva entrou de lambuja.

De 1949, quando fez Tiradentes, até 1964 quando se retirou provisoriamente para a Portela, Mano Décio deixou de emplacar seu samba na avenida apenas em 53 e 54. Alcançou o título em seis oportunidades (49, 50, 51, 55, 56 e 60). Além de Silas de Oliveira, foi parceiro de Penteado, Estanislau Silva, Molequinho, Chocolate, Abílio Martins, Aidno Sá, Ramon Russo e David do Pandeiro.

Como as histórias de amor (como foi a relação de Mano Décio e o Império) sempre têm os momentos de crise, em 1964, Mano Décio brigou com a diretoria do Império e se mandou para a Portela, onde ficou até 1968. Após o Carnaval de 1964, vencido pela Portela, escutou-se em Madureira uma letra de Mano Décio sobre a música do samba-enredo da Portela do ano que dizia assim: “como é bom ganhar/ como é bom ganhar/ Não adianta chorar”. Não pegou bem na Serrinha.

De volta ao Império em 1968, concorreu pela primeira e única vez com Silas de Oliveira. O enredo era “Pernambuco, Leão do Norte” e ele fez uma bela parceria com Jorginho Pessanha, recém-egresso à Escola. Mas, deu Silas. Em 1969, fez seu último samba-enredo para o Império. Parceria com Silas e Manuel Ferreira, compôs o antológico “Heróis da Liberdade”. Também foi o último de Silas, que seria boicotado sistematicamente nas disputas de samba-enredo do Império nos anos seguintes. Esse samba (Heróis da Liberdade) ficou apenas em quarto lugar, mas passou para história. Na época deu rolo com a ditadura, que não gostou de algumas referências aos militares.

Nos anos 70, Mano Décio finalmente obteve a glória de gravar alguns LPs, coisa que muito sambista genial morreu sem fazer. O primeiro, de 1973, saiu como brinde de Natal de uma metalúrgica e é hoje uma raridade. No ano seguinte, gravou “Capítulo Maior da História do Samba”, pela Tapecar. Em 1976, lançou “ O Legendário Mano Décio da Viola”, pela Polydor. Os três álbuns seguintes foram lançados pela CBS: “O Imperador” em 1978, “Mano Décio”, em 1979 e “Mano Décio Apresenta a Velha Guarda do Império” em 1980.

Além de ter registrado sua voz para a posteridade, ele também foi gravado por grandes nomes de nossa música como: Almirante, Abílio Martins, Gilberto Alves, Roberto Silva, Chico Buarque, Elis Regina, Jorginho do Império, Jair Rodrigues, Martinho da Vila, João Bosco, João Nogueira, Paulinho da Viola, Jorge Goulart, Mestre Marçal, entre outros.

Em 18 de outubro de 1984, foi para o Reino da Glória pontear sua viola com seu parceiro Silas, que já tinha partido no ano de 1972. Hoje, cem anos após seu nascimento, rendemos nossa singela homenagem a ele.

Discografia:

Mano Décio da Viola (1973)
Capítulo Maior da História do Samba (1974)
O Legendário Mano Décio da Viola (1976)
O Imperador (1978)
Mano Décio (1979)
Mano Décio apresenta a Velha Guarda do Império (1980)

Sambas emplacados na avenida:

No Prazeres da Serrinha

1946 - Paz Universal (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira) - 11º lugar (impedido de ser cantado na hora H)
1947 - Os Bandeirantes (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira) - 7º lugar

No Império Serrano

1949 - Exaltação a Tiradentes (Mano Décio da Viola - Penteado - Estanislau Silva) - 1º lugar
1950 - Batalha Naval de Riachuelo (Mano Décio da Viola - Penteado - Molequinho) - 1º lugar
1951 - 61 anos de República (Silas de Oliveira - Mano Décio da Viola) - 1º lugar
1952 - Homenagem a Medicina (Mano Décio da Viola - Penteado - Molequinho) - anulado
1955 - Exaltação a Duque de Caxias (Mano Décio da Viola- Silas de Oliveira) - 1º lugar
1956 - O caçador de esmeraldas (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira) - 1º lugar
1957 - Exaltação a D. João VI (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira) - 2º lugar
1958 - Exaltação a Bárbara Heliodora (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira - Ramon Russo) - 2º lugar
1959 - Brasil Holandês (Mano Décio da Viola - Chocolate - Abílio Martins) - 3º lugar
1960 - Medalhas e brasões (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira) - 1º lugar
1961 - Movimentos revolucionários do Brasil (Mano Décio da Viola - Aidno Sá) - 4º lugar
1962 - Rio dos Vice-Reis (Mano Décio da Viola - Aidno Sá - David do Pandeiro) - 2º lugar
1963 - Rio de Ontem e Hoje (Ala dos Compositores) - 3º lugar
1969 - Heróis da Liberdade (Mano Décio da Viola - Silas de Oliveira - Manoel Ferreira) - 4ºlugar

Fontes de consulta:

Livros:

CABRAL, Sérgio. As escolas de samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Editora Lumiar, 1996
TINHORÃO, José Ramos. Pequena História da Música Popular - Da modinha à canção de protesto. Petrópolis, Vozes, 1974
SILVA, Marília Trindade Barboza da, & OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Silas de Oliveira, do Jongo ao Samba-enredo. Rio de Janeiro, Funarte, 1981
VALENÇA, Rachel & VALENÇA, Suetônio. Serra, Serrinha, Serrano. O Império do Samba. Rio de Janeiro, José Olympio, 1981

Fascículos:

CABRAL, Sérgio. História das Escolas de Samba - vol. 7. Rio de Janeiro, Rio Gráfica e Editora, 1976
VÁRIOS AUTORES. Nova História da Música Popular Brasileira - vol. 21. Silas de Oliveira/ Mano Décio da Viola. São Paulo. Abril Cultural, 1977
VÁRIOS AUTORES. História da Música Popular Brasileira - Série Grandes Compositores - Silas De Oliveira / Mano Décio Da Viola / Dona Ivone Lara; Abril Cultural, 1983

Internet:

www.dicionariompb.com.br

Este material foi produzido para ser distribuído na homenagem aos 100 anos do nascimento do Mano Décio, realizada pelo Projeto Samba de Terreiro de Mauá.

 
 
 
 
Biografia
 

por RICARDO CRAVO ALBIM 

 

"Mano Décio da Viola

Compositor. Cantor.

O pai, Hermógenes Antônio Máximo, trabalhava na construção civil. A mãe era baiana de Santo Amaro da Purificação.

Primogênito de 17 irmãos, com menos de um ano, foi morar em Juiz de Fora, em Minas Gerais, onde foi registrado. Pouco depois, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, indo residir no morro de Santo Antônio, em pleno Largo da Carioca.

Em 1910, no Rio de Janeiro, foi batizado na Igreja de São Jorge, no Campo de Santana - Praça da República, no Centro. Por essa época, desfilava no carnaval no Rancho Príncipe das Matas, organizado por sua família.

Em 1916, a família mudou-se para o morro de Mangueira.

No ano de 1922, mudou-se para a Rua Tiúba, no morro da Serrinha, no subúrbio carioca de Vaz Lobo. Ainda menino, desfilava no Bloco Vai Como Pode, um dos blocos que integrou a fundação do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela.

Aos 13 anos saiu de casa para trabalhar como jornaleiro no Largo da Carioca, indo morar sozinho no morro de Mangueira, perto da casa dos tios Chico, Bernardino e Marciano. Por essa época, conheceu os sambistas Delfino, Chico Modesto e Alfredo Português. Andava também com os compositores Cartola, Carlos Cachaça e Babaú da Mangueira, entre outros, que frequentavam as rodas de samba no Buraco Quente. Nestes encontros, conheceu Norberto Marçal (o Mango), que organizava as equipes de garotos que vendiam jornais no centro da cidade.

Em 1930, Mango, presidente da Escola de Samba Recreio de Ramos, o convidou para morar em Ramos, subúrbio carioca, e freqüentar a escola recém-fundada.

No ano de 1934, voltou a morar no morro da Serrinha, freqüentando a Escola de Samba Prazer da Serrinha. Nesta escola, ganhou do amigo Magno o pseudônimo Mano Décio da Viola, com o qual ficaria conhecido. Neste mesmo ano, sofreu um acidente no cais do Porto, onde trabalhava. Ao descarregar latas de creolina inglesa, uma delas estourou e o líquido corrosivo e quente atingiu seu rosto, deixando-o cego de um olho. Para esse incidente, compôs o samba "Cego e surdo".

Seu filho, Jorginho do Império, seguiu os passos do pai, tornando-se cantor e compositor de sucessos.

Após seu falecimento, a rua que liga a Avenida Edgar Romero ao Morro da Serrinha (Rua Itaúba,) recebeu o nome de "Rua Mano Décio da Viola", em sua homenagem.

Outra homenagem ao compositor foi feita pela Secretaria Municipal de Educação, quando nomeou de Escola Municipal Mano Décio da Viola, no bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Em julho de 2009, em comemoração a seu centenário, ocorreram vários eventos, como lançamento de livros, shows e palestras, em sua homenagem, entre eles "Centenário de Mano Décio da Viola" no palco do auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), cenário de debate, homenagens e show de Jorginho do Império em comemoração ao centenário de nascimento do compositor. O evento múltiplo aconteceu no dia 20 de julho, na sede da ABI, no centro do Rio de Janeiro, reunindo Sérgio Cabral, Haroldo Costa, Rachel Valença e Ricardo Cravo Albin, como debatedores, e o presidente da ABI, Maurício Azêdo como moderador. Na ocasião, foi entregue o "Troféu Mano Décio da Viola", esculpido com caricatura de Ziraldo, a Paulinho da Viola, Elza Soares, Dona Ivone Lara, Nélson Sargento, Roberto Silva, João Bosco, Martinho da Vila, Monarco, Fernando Pamplona e Hiran Araújo. Cada personalidade do samba homenageada representa uma década na celebração do co-autor de antológicos sambas enredo, como "Heróis da liberdade", "Exaltação a Tiradentes" e "A paz universal". Logo após a entrega do troféu o cantor e compositor Jorginho do Império, filho de Mano Décio da Viola, interpretou clássicos do repertório do pai em show nomeado "De Pai pra filho". O espetáculo foi gravado ao vivo e finalizado em CD duplo pela gravadora Lumiar Discos. Ainda em 2009 várias outras atividades, em homenagem ao sambista, foram projetadas pela Associação Brasileira de Imprensa, Instituto Cultural Cravo Albin e o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano, entendendo-se até julho de 2010 (Show na Praça da Apoteose, no Sambódromo; Festival de Música do Império Serrano, abrangendo o Estado do Rio de Janeiro, e show ao ar livre na Rua Mano Décio da Viola). Também foi finalizada a biografia do sambista, com o título provisório de Mano Décio da Viola, Imperador do Samba, que será lançada com grande espetáculo em 14 de julho de 2010, marcando o encerramento dos festejos do centenário".

(http://www.dicionariompb.com.br/mano-decio-da-viola/biografia)

 

 

 

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BLOG DE MARCELO MOUTINHO, ESCRITOR E JORNALISTA
 
 
Mano Décio, por Rachel Valença Escrito em 22 de julho de 2009

Na segunda passada, estive no evento em homenagem aos 100 anos de Mano Décio da Viola, que aconteceu no auditório da ABI. Cheguei com o debate já em andamento, mas a tempo de ouvir parte das falas de Rachel Valença, Ricardo Cravo Albim, Haroldo Costa e Sérgio Cabral (o original). Foi uma noite de grandes momentos: Cabral cantando, à capela, os versos de Conferência de São Francisco, samba-enredo de 1946; um senhor salgueirense da platéia afirmando, com a força de seus cabelos brancos, que "se o samba não tivesse vis compromissos, o Império Serrano não estaria no Grupo de Acesso"; o bamba Roberto Silva cantando Exaltação a Tiradentes; o show de Jorginho do Império, filho de Mano Décio, com pérolas menos conhecidas do pai compositor.

Em meio a tantos ponto altos, houve, no entanto, um ponto altíssimo. Refiro-me ao comovente depoimento da já mencionada Rachel Valença, pesquisadora, diretora da Casa de Ruy Barbosa e hoje vice-presidente do GRES Império Serrano. Rachel, essa mulher admirável, deu um testemunho ao mesmo tempo íntimo e histórico sobre sua relação com Mano Décio, que se confunde com a relação com o próprio Império. Foi ovacionada.

Logo que o evento se encerrou, pedi a ela que me mandasse o texto. É um pouco longo, mas lhes digo: vale a pena gastar alguns minutos e ler a peça até o fim (sugiro que a leitura se dê ao som de Obsessão, de Mano Décio com Osório Lima, e vocês já entenderão o porquê):

 

 

Com a palavra, Rachel Valença:

“Estou neste momento numa mansão na Praia Vermelha, na casa de uma encantada dama que deseja me entrevistar”. Assim começa o depoimento prestado por Mano Décio da Viola no dia 28 de novembro de 1978, para o livro Serra Serrinha Serrano o Império do Samba, de minha autoria, em parceria com Suetônio Valença, meu ex-marido, já falecido. A mansão era um modesto apartamento de sala e três quartos na Avenida Pasteur, onde morávamos na época. A encantada dama aqui está. De realidade na primeira frase do depoimento só resta a Praia Vermelha.

As pesquisas para o livro começaram em 1978, por sugestão do amigo Humberto Soares Carneiro, hoje presidente do Império. Ele falava da nossa quase obrigação de registrar a história da escola, onde chegáramos no final de 1971. A história, segundo ele, ia se perdendo à medida que seus protagonistas iam envelhecendo, esquecendo fatos e datas, ou mesmo morrendo. Já perdêramos Elói Antero Dias, em 68, Jorginho Pessanha, o grande compositor, em 1969, Silas de Oliveira em 1972. Era preciso correr contra o tempo, registrar depoimentos, pesquisar documentos e fotos e publicar, para que o Império Serrano tivesse um livro, como o Salgueiro já tinha.

A tarefa nos empolgou e os anos de 78 e 79 foram para nós de muito trabalho. Mas já se aproximava o fim do ano e ainda não tínhamos o testemunho de um personagem importantíssimo: Mano Décio da Viola, citado em todos os depoimentos como parte da tríade sagrada de compositores imperianos, junto com Silas de Oliveira e Jorginho Pessanha. Marcava-se uma entrevista e não dava certo, porque o espírito de andarilho, sua marca mais forte, o impedia de estar na hora marcada e no lugar combinado para algo que ele não sabia bem o que era: uma entrevista a dois jovens, ilustres desconhecidos.

Naquele novembro de 30 anos atrás, vi que se anunciava, no estúdio da TV Tupi, na Urca, uma gravação do Império e Mano Décio faria parte dela. O Suetônio não podia estar lá, era dia de semana, dia de trabalho: mas eu tirei uma folga a que tinha direito e me bati a pé para a Urca, para tentar conversar com o Mano Décio ou ao menos combinar algo. Pois até combinar era complicado: os meios de comunicação na época eram bastante precários, ter telefone em casa ainda era um luxo, celular e internet nem em sonhos... não podia desperdiçar a chance de encontrá-lo. Fui, abordei-o na saída da gravação e, muito abusada, convidei-o para almoçar na minha casa, me identificando como amiga do Jorginho do Império, o que era verdade, porque minha amizade com o Jorginho data da época da minha chegada à escola, em 71. Mano Décio foi andando comigo pela amurada da Avenida Portugal, de frente para o mar, até chegarmos à praia Vermelha. Quis ver a praia, que não conhecia. Já lá em casa, ganhei tempo para não intimidá-lo: almoçamos primeiro, ele gostou da comida, me lembro que era uma berinjela recheada, que ele louvou muito, bem como ao pudim de leite da sobremesa. Depois, pus discos na vitrola, lps do Império que eu colecionava, inclusive os dele próprio. Aí ele ia falando sobre as músicas e os parceiros, tudo muito casual, e de repente perguntei se ele se importava que eu gravasse suas palavras. O clima da conversa era muito bom, e o depoimento em que fala da infância e da adolescência, em que fala de sua chegada ao Império, dos parceiros e dos demais baluartes da época, foi um dos mais importantes para nós para a elaboração do livro.

Lá estão narrados três episódios importantes: os problemas diplomáticos que em 1960 culminaram na mudança do enredo e do samba Medalhas e brasões, de sua autoria com o parceiro Silas de Oliveira; o enredo escolhido, Retirada da Laguna, susceptibilizara os brios nacionais do Embaixador paraguaio, a quem pareceu desrespeitosa a abordagem que o carnaval do Império faria da guerra entre os dois países.

Outro episódio esclarecido em seu depoimento foi sua saída do Império por pouco mais de um ano e seu complicado retorno, enfrentando a resistência principalmente da inflexível D. Eulália, que não admitia a mais ínfima infidelidade à escola que ajudara a fundar; e por fim os problemas enfrentados em 1968, em plenos anos de chumbo, quando o samba Heróis da Liberdade causou aos seus autores, obrigados pelo Dops a substituir a palavra revolução, da letra original, por evolução, como cantamos até hoje.

No ano seguinte fomos à sua casa para gravar sambas inéditos, que ele cantou com muito boa vontade e com a participação do filho Jorginho. Mais adiante vieram as fotos para o livro, feitas pelo fotógrafo Fernando Seixas, em que ele aparece com o violão em punho, bem informal, na varanda de sua casa na Rua Itaúba, hoje Rua Mano Décio da Viola.

Com fotos e documentos não pôde contribuir para nosso trabalho: nada tinha e culpava as mulheres e a vida desregrada que tivera por não ter guardado nada. Mas desde esta época nos tornamos bons amigos. Em 1981 cavamos a oportunidade de um show da Velha Guarda do Império, até então inexistente. A Velha Guarda da Portela começava a ter visibilidade e não nos conformávamos com o fato de o Império, com seus sambas antológicos, não ter como mostrá-los. Suetônio conseguiu a Sala Funarte e imaginamos que, agendado o show, os “artistas” seriam obrigados a se unir e se organizar. Jorginho do Império tomou a dianteira e administrou com paciência e habilidade as dissenções dos meninos: o grupo era formado por Mano Décio, Fuleiro, Molequinho, Manuel Ferreira, Nilton Campolino e Carlinhos Vovô e congregava ainda as damas que dançavam o jongo, uma das fortes tradições da Serrinha, e faziam o indispensável coro de vozes femininas. A diretora do show era a saudosa Tereza Aragão, que se apaixonou perdidamente pelo repertório e pelos irresistíveis artistas. Fui a todos os ensaios e guardo até hoje as críticas altamente elogiosas ao espetáculo, que teve lotação esgotada em toda a temporada.

Guardo também a foto do grupo no camarim e é com muita saudade que me lembro dos bons momentos passados em conversa com aqueles amigos que tinham em comum comigo a paixão pelo Império Serrano. A convivência com Mano Décio era sempre muito doce, pois ele era uma pessoa extremamente gentil, modesta, cordial, incapaz de dizer um não ou dar uma resposta que imaginasse desgostar o interlocutor. Tão doce quanto as balinhas que enchiam sempre seus bolsos e que oferecia a quem se aproximasse dele.

Foi nesse show que ouvi pela primeira vez a música que considero sua obra-prima: Obsessão, em parceria com Osório Lima. Essa música, que fala da inspiração, da gênese do samba na mente do compositor, sempre me faz chorar. Primeiro, porque tem uma melodia maravilhosa e uma letra inspirada e comovente. Segundo porque me faz lembrar um tempo feliz, em que eu tinha trinta e poucos anos e em que o próprio Império Serrano e as escolas de samba em geral eram muito mais ideal do que pragmatismo e lucro.

Ali, no Império Serrano, minha vida foi passando: hoje tenho a idade que tinha o Mano Décio quando eu o conheci. Não é uma comparação: não fundei o Império, também não compus nenhum samba. Mas me orgulho de ter contribuído um pouquinho para que a memória da escola esteja hoje reunida, para que haja fotos, que comprei ao longo dos anos de arquivos de jornal e do próprio Arquivo Nacional, dessas pessoas iluminadas que fizeram da minha escola o que ela é hoje: um quilombo de resistência cultural da negritude. Como me orgulho de no momento estar dedicando todos os meus esforços, junto com Humberto, Jorginho e tantos outros, para dar prosseguimento a essa história, que não podia seguir por caminhos que não dessem a nossos maiores – Silas de Oliveira, Mano Décio, Jorginho Pessanha, Elói Antero Dias, João de Oliveira, Mestre Fuleiro, Aniceto Menezes e Dona Eulália – motivo de continuar tendo orgulho de haver “pintado de verde e branco a bandeira do samba” naquele longínquo 23 de março de 1947.

Rio de Janeiro, ABI, 20 de julho de 2009"

P.S. A foto acima é de Diego Mendes".

(http://www.marcelomoutinho.com.br/blog/2009/07/post_23.php)