[M. T. Piacentini]

--- Quando devemos escrever País com maiúscula? Graciela Karman, São Paulo/SP


O Formulário Ortográfico, quando trata das letras maiúsculas, diz que requerem inicial maiúscula “nomes de altos conceitos religiosos, sociológicos, políticos: a Igreja (= a comunidade católica), a Religião ( = a religião cristã), a Pátria ( = a nossa pátria), o Estado ( = o nosso estado), o País ( = o Brasil), a República ( = a nossa república), o Senado, etc.”


Oficialmente, portanto, a norma é grafar País quando se faz referência ao Brasil, e país quando se trata dos demais. Contudo, há revistas e jornais que, por motivos até estéticos, eu diria, já não fazem essa distinção, usando as minúsculas em qualquer caso. É mais uma opção do que um “pecado” gramatical. Só recomendo cuidado de modo a se manter a coerência e a unidade dentro de um texto.


--- Afinal, a palavra internet deve ter a inicial maiúscula ou minúscula? E por quê?  Ana Cristina da Silva, Florianópolis/SC


Pode-se usar a maiúscula por se entender a Internet (redução de internetwork, “ligação entre redes”) como um nome próprio. Mas, a exemplo de outros nomes de marcas, tipo Xerox e Gilette, que passaram a substantivo comum, a internet pode ser grafada também com a inicial minúscula, e é melhor assim.


--- Fazemos parte da equipe de revisão da Gráfica Editora Energia em Florianópolis e gostaríamos de sanar algumas dúvidas sobre o emprego ou não de iniciais maiúsculas em certos termos da Geografia. São eles: trópico de capricórnio/câncer, círculo polar ártico, hemisfério sul, linha do equador e zona intertropical. Estamos seguindo a gramática do Luft, que diz que apenas os nomes próprios que acompanham os termos geográficos devem ser grafados com maiúsculas (ex.: serra do Mar, oceano Índico), entretanto os dicionários são contraditórios e as demais gramáticas não esclarecem esse tópico.


Como as normas oficiais sobre o assunto datam de 1943 e são pouco elucidativas, os critérios atuais de uso variam entre órgãos de governo, revistas, editoras, publicações. Há os que pregam o uso da inicial maiúscula nos “nomes comuns que acompanham nomes geográficos”. Outros orientam: “Use maiúsculas nos acidentes geográficos e sua denominação”. Assim, se optar pela primeira norma, a sua redação ficará desta maneira:


O estreito de Gibraltar possui 12 km de largura por 51 km de comprimento.

O lugar mais chuvoso é o monte Waialeale, localizado no Havaí, no oceano Pacífico.

O deserto de Atacama (Chile) recebeu uma curta chuva em 1971.


Acontece que isso não funciona bem quando o acidente geográfico faz parte indissociável do nome próprio, como por exemplo Mar Morto, Mar Vermelho e Serra do Rio do Rastro, tanto que não se diz “Estive no Morto, no Vermelho e voltei para a Rio do Rastro”! Se você disser “o Câncer e o Capricórnio” ninguém saberá ao certo do que se trata. Nestes casos, a maiúscula é de rigor: o Trópico de Câncer, o Trópico de Capricórnio, o Hemisfério Sul, o Círculo Polar Ártico, as Montanhas Rochosas.


Por outro lado, é comum falar “o Atlântico, o Índico, o Saara, os Urais, o Equador”, casos em que a denominação do acidente geográfico não precisa necessariamente vir em maiúsculas (oceano, deserto, montes, linha). E escreva “a zona intertropical” (não é nome próprio).


É por essas razões que se torna muitas vezes difícil observar a uniformidade dentro de um texto. Mas, se optar sempre pelas maiúsculas, pode ficar até mais fácil:


Do seu jardim ele avista a Baía da Guanabara, o Oceano Atlântico...

Mata Atlântica é outra vegetação da região que também aparece nas encostas da Serra do Mar e da Serra Geral.


Nota: especificamente sobre a minúscula em rio, ver a coluna Não Tropece na Língua 8.