[Maria do Rosário Pedreira]

 O primeiro embate veio com a notícia de que a Livraria 107, nas Caldas da Rainha, ia fechar portas. Para quem está no mundo da edição há muitos anos e teve a alegria de conhecer livreiros a sério, gente que lê e sabe o que vende, foi um choque perceber que, afinal, se safa melhor no mercado dos livros quem os vende como bolos, detergentes ou T-shirts e só vê capas, brindes e campanhas onde outros, pelos vistos menos afortunados, vêem autores e textos. A Isabel Castanheira, com os seus gatos Gil Vicente e Florbela Espanca passeando entre as estantes da 107, merecia ter conseguido. E, a partir da notícia de que não conseguiu, começaram a chegar outras do mesmo tipo – incluindo as que mencionavam as grandes dificuldades por que passam as Bulhosa – até que, recentemente, os jornais trouxeram a má nova de que a Livraria Portugal, no Chiado, também não resistira. Para mim, um osso duro de roer, já que, quando comecei na Gradiva há mais de vinte anos, as encomendas desta livraria eram feitas telefonicamente por funcionários criteriosos e especializados em ficção, ensaio, literatura infanto-juvenil e obras de referência, que iam passando o auscultador uns aos outros, não se metendo em áreas que não dominavam. Quando mais uma livraria fecha, é menos uma livraria que temos; e não só isto é terrível para o negócio, mas também especialmente grave para a literatura, que vai sendo afogada em pilhas de papel que, mesmo que saia das lojas num determinado período a um ritmo alucinante, não passa de papel que bem podia servir para limpar... E mais não digo.