Tinha mal começado a leitura de uma edição de uma pequenina obra de Leo Tolstoi (1828-1910), A confession (London: Penguin books - Great Ideas, 2008, 100 p), traduzida, possivelmente do russo, para o inglês por Jane Kantish, quando me dei conta de que o livrinho havia desaparecido de um lugar em casa no qual tinha certeza de que o havia colocado.
E agora? Estou seguro de que a coloquei perto do computador, por cima do jornal Folha de São Paulo, já parcialmente lido e com as seções separadas da ordem em que vem da banca. Minha esposa, já sabendo de meu costume de não prestar muita atenção onde ponho alguns objetos do meu cotidiano, me olhou séria e falou: “Calma, que você vai encontrá-lo. Esta não é a primeira vez nem a última que uma situação assim acontece Procure com cuidado que o achará”.
Lá fui eu irritado vasculhar aqui e ali pelo apartamento. Logo fui às prateleiras dos livros mais antigos misturados com alguns mais novos. Olhei, olhei, olhei, mas sem sucesso. Meus Deus, onde fui botar esse livro?! E se o perder, como farei para comprar outro exemplar. O meu exemplar tinha comprado numa livraria de um Shopping em Curitiba. Tou perdido! Me lembrei de que uma vez escrevi um artigo de título “Livros perdido,” que incluí no meu livro As ideias no tempo.Confesso meu trama por haver perdido alguns livros preciosos que, até agora, não mais recuperei.
Ao procurar o livrinho de Tolstói, passei pelas prateleiras de livros de autores piauienses, que guardo com zelo, muitos dos quis nem li. Até hoje, não sei bem por que lemos primeiro uns livros e não lemos outros. O tempo urge. E daqui a pouco não terei mais força para ler todos, o que vai me causar outro trauma, o do tempo não recuperado..
Continuei tentando localizar o opúsculo. Mas debalde.Não satisfeito em procurar nos livros das estantes, fui para o lugar em que ponho jornais já lidos, revistas, envelopes grandes com artigos meus, recortes de artigos antigos de meu pai em envelopes grandes, outros de artigos meus, cópias digitadas de originais de livros por publicar, cópias xérox de alguns livros, papéis A4 com o verso em branco para servir de rascunho de novos textos, caixas de cópias de monografias, cópias de dissertação, de tese, caixas de plástico duro com fitas cassete, de CDs, de discos para ensino de línguas, livros antigos embrulhados em sacolas.Enfim, uma mixórdia de objetos de minha estimação.
Escarafunchei tudo e nada de ver o livrinho. Fui à sala onde há os livros mais novos e de maior quantidade. De prateleira em prateleira, um por um, repeti essa ação por umas quatro vezes e sem êxito.Perdi o livro. Só me lembrava da narrativa do grande escritor russo falando de sua infância e sobretudo da questão religiosa, das hesitações quanto à fé. Era um leitura tão empolgante que não mais queria interromper. Já estava triste e desolado. Até pensei que, por engano, havia o livrinho sido levado numa sacola de lixo no meio de jornais velhos.
Perdi a calma. Desesperei-me. Perguntei a meu filho Alexandre se por acaso ele havia visto o livrinho e lhe dei as característica da obra: é pequeno, de cor branca e tem uma capa em que os desenhos em preto me lembravam folhas, com alguns galhos de um escuro mais forte mais visível combinado com um folhas mais finas.
O curioso é o título graficamente era em forma de escrita à mão. Nos quatro cantos da capa havia um desenhos, também verdes, que me sugeriam tratar-se de cercas. Claro que essa descrição pictórica desses desenhos em tamanhos e formas desiguais me davam a impressão de – digamos – cercas. Estou falando do angulo de perspectiva das formas geométricas. No canto superior esquerdo da capa havia uma citação: “Where there is life there is faith.” (“Onde há vida, há fé”).
Não entreguei os pontos, proucurei em outras parte, desta vez numa prateleira que fica ao lado do me computador, onde ponho alguns livros de referência, dicionários, bem como livros que pretendo ler. Faço isso para dar alguma organização a livros que estão na fila esperando pela leitura. Não pense o leitor que sigo arisca essa programação. Pode haver quebra de percurso e, em caso como esse, e vá ler oro livro das estantes que tenho. Não são muitas, mas o acervo é bem quente. Contar como os consegui vai render muitas crônicas.
Depois de me aborrecer injustamente com a minha esposa, coitada, que nada tinha a ver com a minha desatenção, fui novamente às estantes dos livros mais velhos. De repente, me veio à mente o meu querido santo dos objetos perdiidos - São Longuinho -, que já me salvara em outras ocasiões de grandes apuros. São Longuinho! Me acuda, eu vos peço agora!
Retornei ao quarto do computador. Tive um estalo. Por eu não procurar numa pastas de plástico e de outras de um material de plástico mais mole. Quem sabe, eu, descuidadamente, ao guardar algumas daquelas pastas, não deixei se misturar no meio delas o livrinho?
Abri o armário grande e de uma prateleira interna no alto, retirei as pastas. Eis que, ao colocá-las numa caminha de solteiro perto do computador, me lembrara de que aquelas pastas se encontravam horas antes na caminha. Com as pastas havia seções do jornal O Globo de sábado. Olhei, com muita atenção, pasta por pasta e – para surpresa minha - o livrinho estava entre as pastas e as seções do jornal. Agora, vou devorar-lhe as páginas. Estarei em boa companhia me pondo dentro da narrativa de Tolstói.
Agora, leitor, não é pra crer mesmo em São Longuinho ? Quem ousaria me contestar?