Não gostar de um autor por questão pessoal pode até ser compreensível. Mas, daí a omitir a existência de sua obra em trabalho acadêmico ou em obras de referências na hipótese de uma citação de fonte ser compulsória como ética e norma de um trabalho de pesquisa científica, a história é outra, porque passa, então, a ser um grave desrespeito à pessoa do autor, cuja obra se vê prejudicada pelo crime da omissão de fonte bibliográfica e caracteriza um comportamento acadêmico, no mínimo, desleal para com o desenvolvimento científico de um país. A nossa história literária, quer em trabalhos de alta relevância, quer numa simples monografia universitária, infelizmente está cheia de exemplos dessa natureza.
                É obrigação moral e dever ético-profissional que as  obras dos autores consultadas recebam os créditos devidos. Agir ao contrário configura um trabalho acadêmico ou de pesquisa pessoal digno de repúdio do meio acadêmico, quase tão sério quanto cair na tentativa do plágio.
                Se o suposto autor do trabalho que se valeu de uma fonte e não a citou na referência bibliográfica comete essa falta ou essa ilicitude intelectual de normas editoriais, ele, no meu juízo, deve ser penalizado com o desprezo dos seus pares acadêmicos e do circuito da vida intelectual, que deve ser pautada com honestidade e imparcialidade. Chega a constituir crime de direito autoral e, portanto, sujeito a enquadramentos legais com todas as conseqüências decorrentes do delito cometido. 

               Fui informado de que , no meu estado, o  Piauí, o meu livro, originalmente uma dissertação de Mestrado, Da Costa e Silva: uma leitura da saudade, editado em 1996 pela Academia Piauiense de Letras em convênio com a Universidade Federal do Piauí, tem sido citado em trabalhos sem que sejam acompanhados da referência à fonte de minha pesquisa. Acredito que, em outras partes do país ou mesmo do mundo, fato  semelhante possa também ocorrer. Isso desagrada a qualquer autor e ao mesmo tempo a própria ação de ocultar a fonte constitui um desrespeito ao autor. Infelizmente, ainda não tive meios de localizar casos concretos dessa apropriação indébita do meu texto.
          Entretanto, há um outro caso de omissão de fonte bibliográfica, que se situa agora mais no âmbito da ética envolvendo o autor que oculta ou omite uma determinada obra de outro autor meramente levado pela inveja, ou por comportamento narcisista que o impede de ultrapassar o espaço de vaidade auto-centrada. Não estou me referindo aos casos em que o pesquisador desconhece, por uma ou outra razão, essa ou outra fonte que seguramente poderiam auxiliá-lo muito mais no trabalho que está realizando. 
          O que está em causa aqui é a má-fé ou má vontade de quem, sabendo que tal obra foi publicada em determinada época anterior ao estudo que um autor está preparando e que é reconhecida como trabalho relevante por gente especializada, de caso pensado faz questão de sonegá-la mesmo sabendo que faz parte da exigência da pesquisa acadêmica  a obrigatoriedade da  apresentação rigorosa da atualização e revisão da literatura na área em causa. Não o fazendo, estará incorrendo no crime de omissão intelectual, comportamento altamente reprovável por parte do suposto autor ou pesquisador, quer dentro da universidade, quer como pesquisador independente.
         Sabemos que a omissão da obra de um autor, movida por inveja, ódio ou ressentimento, é um pecado imperdoável. No entanto, há muitos exemplos dessa prática mesquinha que só apequena aquele que dela faz uso. Na literatura brasileira, até entre críticos famosos, podemos constatar essa fraqueza moral, indigna da grandeza de um autor de categoria.
        Por outro lado, demonstra grandeza de atitude todo aquele autor que, independente de discordâncias acadêmicas e até pessoais, tendo empreendido uma pesquisa ou um trabalho de relevância cultural em qualquer área do conhecimento, nunca se deixa levar por atitudes anticientíficas na questão fundamental e imprescindível da obrigatoriedade da citação bibliográfica sempre que tenha se servido da leitura de um autor desafeto, e mesmo que, não tendo feito essa leitura, cabe, por dever do ofício na sua condição de pesquisador íntegro e isento, fazer referência a obras de reconhecido valor que pertença à bibliografia especializada do seu domínio de estudos. Só assim se constrói  ciência   e conhecimento e se leva adiante o saber que se deseja universal. O desrespeito à ética, em todas as esferas da produção intelectual, é uma ação própria dos incapazes, ressentidos e mesquinhos.