Mais que humano
Por Bráulio Tavares Em: 27/12/2011, às 10H32
[Bráulio Tavares]
Este romance de Theodore Sturgeon, de 1953, é um dos grandes romances de ficção científica de sua época, e aparece na maioria das listas dos melhores do gênero. Ser incluído nessas listas não é uma questão de qualidade literária, mas de presença histórica. Obras que compõem um cânone são as obras formadoras, aquelas que uma vez publicadas passam a servir de ponto de referência obrigatório. More than Human conta a história de um grupo de crianças e jovens de rua, marginais, desprezados pela família, com poderes paranormais que utilizam da modo aleatório, sem compreendê-los totalmente. Encontram-se pouco a pouco, meio por acaso, e acabam formando uma Gestalt, um grupo em que cada um deles desempenha um papel essencial. Uma pode mover objetos com a mente, outras podem se transferir instantaneamente de um lugar para outro, outro induz as pessoas a lhe obedecem, como num hipnotismo instantâneo, etc. Juntos, tornam-se uma criatura nova, o Homo Gestalt.
A história se conclui com o aparecimento de um derradeiro personagem, que, após ser perseguido pelo grupo, acaba sendo salvo por uma de suas integrantes e se junta a ele. Sua função é proporcionar ao grupo (que era isolacionista, egocêntrico, amoral) uma moralidade, um senso de finalidade, uma missão a cumprir junto à espécie humana. A infância sofrida e perseguida daquelas crianças produz, quando elas descobrem seus super-poderes, uma espécie de vingança cega contra a humanidade que os desprezou. (Os personagens mutantes da série de HQ “X-Men” herdaram algo dessa atitude.) Somente com a chegada de um personagem que exige deles uma atitude ética o Homo Gestalt passa a funcionar com sua plena capacidade.
É possível que o livro tenha influenciado um conto de Robert Sheckley, “Specialist” (1953), onde aparece uma nave cuja tripulação é composta por criaturas extraterrestres interligadas através da função de cada um: o Olho, o Motor, as Paredes, o Pensador, a Fala... Eles chegam à terra em busca de um Propulsor, ou seja, um ser humano. Sem ele, são uma Gestalt organizada e infalível; mas para dar os saltos que fazem a nave viajar mais rápido do que a luz, precisam desta espécie, o Propulsor, que extrai energia de si mesmo: “Os Propulsores viviam há séculos por entre o medo e a dúvida. Guerreavam por causa do medo, matavam por causa da dúvida”. E é essa energia de que a Nave precisa para mover-se pelo Universo. Os textos de Sturgeon e Sheckley podem servir de metáforas da sociedade ou da mente humana, que por mais organizadas e eficientes que sejam precisam de um componente subjetivo essencial para poderem funcionar com seus plenos poderes.
A história se conclui com o aparecimento de um derradeiro personagem, que, após ser perseguido pelo grupo, acaba sendo salvo por uma de suas integrantes e se junta a ele. Sua função é proporcionar ao grupo (que era isolacionista, egocêntrico, amoral) uma moralidade, um senso de finalidade, uma missão a cumprir junto à espécie humana. A infância sofrida e perseguida daquelas crianças produz, quando elas descobrem seus super-poderes, uma espécie de vingança cega contra a humanidade que os desprezou. (Os personagens mutantes da série de HQ “X-Men” herdaram algo dessa atitude.) Somente com a chegada de um personagem que exige deles uma atitude ética o Homo Gestalt passa a funcionar com sua plena capacidade.
É possível que o livro tenha influenciado um conto de Robert Sheckley, “Specialist” (1953), onde aparece uma nave cuja tripulação é composta por criaturas extraterrestres interligadas através da função de cada um: o Olho, o Motor, as Paredes, o Pensador, a Fala... Eles chegam à terra em busca de um Propulsor, ou seja, um ser humano. Sem ele, são uma Gestalt organizada e infalível; mas para dar os saltos que fazem a nave viajar mais rápido do que a luz, precisam desta espécie, o Propulsor, que extrai energia de si mesmo: “Os Propulsores viviam há séculos por entre o medo e a dúvida. Guerreavam por causa do medo, matavam por causa da dúvida”. E é essa energia de que a Nave precisa para mover-se pelo Universo. Os textos de Sturgeon e Sheckley podem servir de metáforas da sociedade ou da mente humana, que por mais organizadas e eficientes que sejam precisam de um componente subjetivo essencial para poderem funcionar com seus plenos poderes.