[*] - Donington Park é um autódromo localizado no condado de Leicestershire, na Inglaterra.
EM MEMÓRIA DE
AYRTON SENNA DA SILVA (1960 - 1994)
25.8.2012 - Quando Senna infelizmente faleceu, Francisco Vasconcelos (ex-presidente do Clube da Madrugada, de Manaus, e membro da Academia Amazonense de Letras, hoje) lamentou em seu diário essa grande perda - Escreveu Vasconcelos: "(...) Em cada lar brasileiro, hoje, a profunda tristeza da perda de um irmão (...)". F. A. L. Bittencourt ([email protected])
ESCLARECIMENTO DO AUTOR (F. Vasconcelos):
"Como a definição da palavra 'ESTÓRIA' por vezes -
mas nem sempre - alude ao ficcional, gostaria de ressaltar
que, nesse caso, trata-se de um registro histórico de
fragmentos de umdiário [AINDA INÉDITO]".
Como o escritor amazonense Francisco Vasconcelos
viu a perda de Ayrton Senna
(excertos do livro inédito Pedaços de Tempo):
MAIO/94
01
Umdiatristeparaeste Brasil há muitotriste. Perdemos Ayrton Senna, um dos poucosmotivos de alegria. Ficamos, semdúvida, bemmaispobres. Num Paíssemheróis, perde-se tãobrutalmente o únicoque, nosúltimostempos, nos dava algumalento. É terrívelsaberque se exaure assimtãobruscamente a únicafonteemquequasetodasemana matávamos a nossasede de vitória. Emcadalarbrasileiro, hoje, a profundatristeza da perda de umirmão. Estamos, não há dúvida, bemmenores do queantes.
Lembro-me queontem, ao ouvir os comentáriossobre a morte, no mesmocircuito de Ímola, de umcorredor austríaco, apósgraveacidente sofrido pelojovembrasileiro Barriquelo, tive vontade de dizer e disse: “Amanhã será o dia de Ayrton Senna”. Quediabos! Premonição? Essefato, de alguma forma, me preocupa. E além da tristeza da qualtambém participo, experimento uma estranhasensação de culpa. Masquefazerparaevitar o inevitável? Senna, na verdade, eraum predestinado...
Há, emtodosnós, uma “sensação de abandono”, diz umrepórter do Fantástico.
02
O Brasil continua chorando a morte de Ayrton Senna. É grande, semdúvida, a dorque sofre o povo. Do maishumilde ao maisilustrecidadão, o mesmosentimento de perda. O mundotambémchora a ausência do fantásticocorredor, cujaousadia estava acostumado a testemunhar, admirado, antesuasfaçanhas e, maisquetudo, suacoragem, como se poucocaso fizesse da vida. Nas pistas, poucos, realmente, chegaram ao ponto de a ele equiparar-se. Paranós, a glória. E a quasetodasemana, a esperança. De que viveremos agora?
03
Os jornais, semexceção, continuam noticiando a tragédia de Senna. E dói saber-se que, agora, muitos se aproveitam, principalmente a classepolítica, paratirarvantagem do difíciltranseporquepassa o povo. É o que se vê, porexemplo, na CâmaraFederal, onde a Comissão de Justiça, repetindo o episódioFiúza, isentamaisum ladravaz dos dinheirospúblicos, umtal de João de Deus, poracaso, “evangélico”, useiroemusar o SantoNome do Senhoremproveitopróprio. Atéquando, meuDeus?
04/05/94
Assisto, bemcedo, à chegada do corpo de Ayrton Senna. Sãoseishoras e o povojá está nas ruas de São Paulo. Sãolentos, marcados, os passos dos que conduzem o esquife. A cename sugere algunsversos, queregistro a seguir, numa homenagem ao grandecampeão:
Agora,
lentamente,
o cortejo prossegue.
Lenta e suavemente...
Agora, bem se vê,
não há maispressa,
e tudo é diferente daquele dia
emque no fatídicocircuito de Ímola
se imolou o campeão,
na insanavertigem da pressa ensandecida
embusca da glória.
Sobre o esquife
– sarcófago de todos os sonhos –,
a bandeiranacional repousa inertecomo o corpo do herói.
Bemdiferente de outrosdias, quando,
soprada pelosventos das vitórias conquistadas,
drapejava,
viva,
nas mãos do campeão,
nossoorgulho,
únicoalento de umpovoagorabemmaissó,
bemmais sofrido.
05
Uma dorseguida à outra. Não bastasse o adeus de Senna, sepultado hojecomhonras de heróis, vai-se também o Poetaque, livre dos quelhe atravancavam o caminho, demanda o azul, ele, o passarinho. Enquantoisso, nós, simplesmortais, passaremos. Não foi elemesmoque disse?
Esses que aqui estão,
atravancando meu caminho,
eles passarão
eu, passarinho.
Morreu Mário Quintana. 88 anos, vidalonga, comolonga e sobretudofarta foi a suacontribuiçãopara o belo, no seujeitogostoso de falar das coisas e de brincarcom a vida.