Dílson Lages Monteiro - editor de Entre-textos
      Quem dera assim o fosse: em dia estabelecido, conforme as ações e o caráter, o homem desaparecesse num estalar de dedos – sem os sofrimentos recíprocos, sem a dor do desaparecimento inusitado. O sentido da existência, entretanto, via-de-regra, não permite precisar, salvo em circunstâncias insanas, até quando se é matéria. Não se sabe “quando”, “onde” e “como” se parte para o encontro com o Infinito. Por isso, a dor, por mais que se tenha vivido, leva a morte a despedaçar corações.
      Quem dera fosse diferente. Mas na lei da vida está a morte e, com efeito, a saudade e a sensação de perda, tão assombrosos que, talvez, “intransponíveis”.  “Intransponíveis”, porém, por força das exigências, toleráveis. Dessa forma, constitui-se necessidade habituar-se à ausência física de quem se ama ou com quem se convive desde feto ou casamento. Como?! Essa é minha principal indagação nestes dias de luto. Inevitavelmente, sua; agora ou algum dia.
      Muitas serão as perdas ao longo da vida. Urge enfrentar cada uma com o coração e o pensamento erguidos. Passadas as turbulências de emoções desagradavelmente inesperadas, começa  a necessidade de apego racional ao passado – a vida e o tempo impõem a gratidão, o orgulho, o carinho e toda sorte de sentimentos construtivos. Sobretudo quando se tem razões de sobra para isso.
      É esse o caminho para a resignação ante à “partida” de Gonçalo Soares Monteiro. Exemplo de esposo, de pai, de irmão, de sogro, de amigo e de cidadão. Não representam essas apenas palavras de um filho; são, também, as vozes de Barras inteira, de todas as categorias sociais. As vozes de quem conviveu com ele em quaisquer etapas de sua passagem pela terra.
      Gonçalo Soares Monteiro viu as luzes do mundo em 04 de maio de 1935, na propriedade Lagoa da Vida, em São Pedro do Piauí, hoje Água Branca. Filho de Manuel Barbosa do Rego Monteiro e de Laudelina Soares Ribeiro. Neto, respectivamente, de Umbelino do Rego Monteiro-Raimunda Soares do Nascimento e Agostinho da Costa e Silva-Raimunda Soares Ribeiro. Pertence aos núcleos familiares Barbosa de Almeida, Soares do Nascimento, da Costa e Silva, Rego Monteiro, Soares Ribeiro, Pessoa, Bonfim e Neiva, núcleos encravados no Médio Parnaíba.
      Depois de longos anos residindo na Lagoa da Vida, a família de Gonçalo – composta pelos irmãos Raimundo, Antônio, Aderson e, por adoção, “Toinha” –  muda-se para outra propriedade da família, o Tanque dos Umbelinos. Manuel e Laudelina vivem do campo. Ele, agricultor. Ela, rendeira hábil, envolvida nos afazeres do lar. Aos 10 anos, Gonçalo deixa o campo rumo a São Pedro, levado pelo tio João Inácio do Rego Monteiro, a fim de cursar o primário e auxiliar João Inácio no comércio. O tio muda-se para Teresina cinco anos depois. Embora fosse desejo dele que o sobrinho o acompanhasse, este regressa para o Tanque, onde passa a trabalhar na lavoura. Da lida no campo, acumula algumas reses de bovinos, caprinos e suínos e compra modesta propriedade no lugar “Canto da Onça”, vendidas posteriormente por oitocentos contos, quando fixa residência em Barras.
      Aos vinte e poucos anos, ingressa no antigo DENERU (hoje, Fundação Nacional de Saúde). Como “mata-mosquito”, percorre quase todo o Piauí, aportando em Barras do Marataoã em 1966, onde se casa com ROSA MARIA PIRES LAGES, em 1967. Do consórcio, nascem os filhos DÉCIO, DÁRIO, DÍLSON e MANOEL e quase 40 anos de desafios e felicidades.
      Quis Deus que, na terça feira, 25 de julho, a “indesejada das gentes” batesse a sua porta. Findadas as dores dos primeiros dias de ausência física, fica o que semeou entre os familiares e amigos; o exemplo da figura digna e humana. Para a família, também, as inúmeras manifestações de apreço e pesar. Por isso, não esqueceremos as mãos amigas estendidas para acalmar a nossa dor. Não esqueceremos os olhos que choraram conosco as lágrimas da despedida. Não esqueceremos os braços que nos confortaram para que permanecêssemos “firmes”. Não esqueceremos gestos, palavras, atitudes e sentimentos dos que abrandaram a angústia da perda física de Gonçalo Soares Monteiro. A todos, Deus recompensará, reservando um lugar justo no céu, como a Gonçalo, com certeza, o fez.
     Adeus, meu bom Pai! Obrigado por “tudo”! Descanse em paz! Aqui, continuaremos bebendo da água do Marataoã.