É evidente que ambas as peças descritas na coleção de “Sextus Afranius” foram parte do acervo do Dr. Fonseca Hermes, já que o painel de 18 do 60 réis é peça única conhecida desse valor até os dias de hoje. Com relação ao painel de 18 selos do 90 réis o Dr. Hermes possuía dois deles, um usado e o outro um novo (quimicamente lavado), não se podendo, via de conseqüência, pela descrição do periódico, saber qual deles foi o exposto em Londres. Certamente, teria sido o painel do 90rs obliterado com o carimbo de Nicteroy, já que em 1963 fazia parte do acervo do Sr. Burrus, então leiloado.
Assim, podemos inferir a seguinte possibilidade como estória real: o filatelista que adquiriu a coleção Fonseca Hermes em 1949 foi Maurice Burrus, possuidor do perfeito nome romano pretoriano “Sextus Afranius”, que usava esse pseudônimo em várias exposições internacionais, inclusive na LONDON’1950 onde a apresentou a coleção de Olhos de Boi. Há que se fazer notar que o painel novo do 90rs não fez parte da coleção do Sr. Burrus leiloada em 1963. Dessa maneira, pode-se inferir, com alguma segurança, que o painel novo do 90rs Olhos de Boi não fez parte do pacote filatélico negociado entre esses dois importantes filatelistas. A razão é fácil de ser inferida; a então má qualidade da peça e o fato que o Sr. Burrus fazia questão de qualidade nas peças novas.
Recusado o painel de 90rs pelo Sr. Burrus, o intermediário ou comerciante envolvido na transação ofereceu-o ainda em 1950 e mais provavelmente depois da realização da exposição London 1950 ao Embaixador Muniz de Aragão, que também participara da London 1950, a ele sendo vendido o ora painel novo do 90 réis Olhos de Boi. A conclusão de a venda desse bloco novo ter sido feita após a realização da London 1950 prende-se ao fato que o periódico Santa Catarina não o destacou dentre as peças do Sr. Moniz de Aragão expostas na London 1950. Se ali estivesse, em razão de sua raridade e importância, certamente o teria feito como o fez com os outros dois painéis expostos por “Sextus Afranius”.
O preço alcançado foi de SFr 11.500,00 (onze mil e quinhentos francos suíços), assim informou a casa leiloeira. Como podemos verificar, o bloco àquela altura foi oferecido em leilão como novo.
Estudando a foto acima (visto pelo observador) publicada no catálogo da Corinphila de 1955 (FIGURA 4) pode-se verificar que:
4.a) As obliterações manuscritas foram retiradas quimicamente.
4.b)Os restos de detalhes matemáticos manuscritos à pena foram minimizados, entretanto ainda podem ser notados
4.c) Durante a lavagem química alguns pontos das margens sofreram sérios problemas, inclusive perda de pedaços do papel do bloco, que foram recolocadas de maneira não profissional, tais como: canto superior direito do bloco, canto superior esquerdo do bloco e canto inferior esquerdo do bloco. Além disso, dois rasgos na lateral direita, bem em frente ao primeiro e segundo selos da coluna da direita podem ser notados.
4.d) A dobra vertical existente na primeira coluna esquerda foi minimizada.
4.e)O selo central da terceira coluna da esquerda para a direita (posição 9 no painel de 18 selos) está alinhado em relação aos demais selos da carreira central do painel.
4.f) As margens foram manipuladas. A inferior foi diminuída a partir do selo inferior da quarta coluna, da direita para a esquerda. A margem lateral direita também sofreu uma leve diminuição em sua largura. A margem esquerda sofreu um pequeno acréscimo de papel a partir do meio do primeiro selo superior. E a margem superior foi manipulada com acréscimo de papel a partir do terceiro selo superior da direita para a esquerda, sofrendo a seguir uma diminuição (por tesoura) até atingir o canto superior esquerdo.
A história prossegue. Em Fevereiro de 1962, a casa leiloeira Corinphila promove a Venda Nº 48 e oferece novamente esse mesmo bloco, desta vez sob o número de lote 3166 e a descrição assim explicitava: “90rs preto folha completa de 18 selos (primeira tiragem), novo sem goma, peça de grande raridade e provavelmente único (seis selos da borda com defeitos) = $6.3000 (Scott). Preço Estimado: 15.000 SFr.”.
É praticamente certo que o painel não encontrou comprador no leilão de 1955, retornando para posse do Sr. Muniz de Aragão (falecido em 1974) e voltando a ser oferecido pela mesma casa de leilões filatélicos em 1962. Desta vez o comprador teria sido o Prof. Mário Guimarães de Souza.
Em Outubro de 1966, novamente este bloco volta a ser leiloado, desta vez em Londres, pela casa H. R. Harmer Limited. O acervo era pertencente ao colecionador brasileiro residente em Recife, Prof. Mário de Souza. O bloco foi oferecido através do lote 591. E a descrição assim explicitava: “Painel completo não usado de dezoito selos da primeira impressão; três cantos com defeito afetando os três selos, dois outros estão centralmente defeituosos e possuem outras faltas. Uma peça atraente e espetacular. Única. Valor estimado entre £ 1.200 e £ 1.500,00”.
O bloco foi vendido por £ 1.200,00 (mil e duzentas libras esterlinas).
Estudando a foto (FIGURA 5) acima da referida peça apresentada no leilão londrino pode-se tirar as seguintes conclusões:
5.a)A dobra vertical existente na primeira coluna esquerda sofreu novo reparo e melhor minimizada, tornando-se quase imperceptível.
5.b) Os sérios defeitos apresentados em três dos cantos foram novamente reparados e se apresentam mais suaves e menos notados.
5.c)As margens, desta vez, não sofreram qualquer nova manipulação.
5.d) Os detalhes matemáticos manuscritos foram totalmente removidos.
Em março de 1984 o painel volta ao mercado filatélico oferecido novamente pela casa Corinphila. Na venda nº 70, apresenta o lote 4306 que assim explicitava: “90rs – Olho-de-boi, preto, folha completa de 18 selos, aparência espetacular e a maioria dos selos em perfeitas condições (poucas faltas restauradas por mãos de mestre), peça de exibição da maior raridade e para coleção de exposição. Preço estimativo: 25.000 SFr.”.
Pode-se depreender que o comprador no leilão londrino de 1966, ex. coleção Souza, fora o Sr. Reinhold Koester, pois a venda promovida pela Corinphila em 1984 era da coleção de Olhos-de-Boi do Sr. Koester.
Estudando a foto abaixo (FIGURA 6) da venda do leilão suíço de 1984 pode-se tirar a seguinte conclusão: o painel foi novamente reparado, desta vez totalmente e por um verdadeiro mestre e artista no reparo de material filatélico, como informa a própria descrição feita no catálogo. Praticamente, não se notam quaisquer dos detalhes antes identificadores do painel. Todavia, é garantido tratar-se do mesmo painel, desde sempre, pois os detalhes e a conformação das margens o denunciam.
O comprador do painel foi o industrial de Limeira, São Paulo, Sr. Ângelo Lima, que se tornou o maior expositor brasileiro, de todos os tempos, com sua coleção “Brasil Império 1843-1866” e o maior campeão nacional, expondo internacionalmente pelo Brasil, senão vejamos: Grande Prêmio Internacional e Medalha de Ouro Grande na PHILEXFRANCE’89 e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões na PHILANIPPON’91. Além de duas Medalhas de Ouro Grande em anos anteriores a 1989.
Após obter os dois galardões máximos da filatelia internacional, O Grande Prêmio Internacional e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões o Sr. Lima decidiu vender sua coleção. A empresa leiloeira escolhida foi David Feldman S/A, que preparou o catálogo e ofereceu o material à venda, por leilão público, no ano de 1993.
Entretanto, em momento algum, o painel foi oferecido ao público pela casa David Feldman, ou seja, não constou de qualquer catálogo de leilão que contivesse material advindo da coleção Lima. Felizmente, uma fotocópia da coleção do Sr. Lima estava disponível no Brasil àquele tempo, tendo sido preservada aos dias de hoje.
No ano de 1995 o painel foi oferecido, pela casa leiloeira, em trato privado, aos Srs. Everaldo Santos e Hugo Goeggel, quando ambos se negaram a adquiri-lo. Desconhece-se o proprietário atual desde aquele ano, entretanto, há rumores, todavia sem confirmação, que esse bloco foi parar nas mãos do colecionista americano Norman Hubbard em venda por trato privado. Em 5 de junho de 2008 essa peça foi posta em leilão por Siegel Auction Galleries, Inc., Nova york, sob o nº de lote 32, pelo valor estimado entre 100 e 150.000 dólares e alcançou o impressionante preço de arremate de $260.000. O comprador permaneceu no anonimato por algum tempo e em Março de 2010 seu nome foi revelado, trata-se do Sr. Armand Rosso, presente à sala do leilão.
Desta forma, pode-se listar a procedência histórica deste painel de 90rs, a saber: ex. Djalma Fonseca Hermes, J. J. Muniz de Aragão, Mário de Souza, Reinhold Koester, Ângelo Lima, Norman Hubbard.
Prezados leitores, lamentavelmente, em algum momento, entre os anos de 1944 e 1945, esse importante bloco e uma das mais relevantes peças da filatelia brasileira, sofreu uma lavagem química criminosa, certamente com objetivos pouco confessáveis. Uma tentativa clara de fraude que buscava, tão somente, aumentar seu valor comercial. Todavia, a verdade, na maioria das vezes, demora aparecer, mas virá. Caso presente. Nos anos seguintes esse painel de 18 selos voltou a sofrer intervenções reparadoras melhorando substancialmente seu aspecto.
3) O PAINEL DE 90 RÉIS (6 x 3) – CARIMBO “CORREIO GERAL DA CORTE – 16.11.1843”
O Cel G. S. F. Napier, no trabalho publicado sobre as chapas dos Olhos-de-Boi, com referência à 1ª Chapa Composta do 90 réis – Estado A, informa que o Sr.C. H. Schill era o proprietário de um painel de 18 selos que serviu de base para seu estudo sobre essa chapa. Não explicita se era novo ou usado e que carimbo possuía. Corria o período da 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Entretanto, só poderia ser esse o painel que estamos a comentar, já que o outro, com contas matemáticas feitas pelo tabelião sobre os selos, nesse mesmo período, pertencia a C. L. Pack; o hoje novo, que pertenceu inicialmente ao Sr. Fonseca Hermes, era ainda desconhecido à época, só vindo a surgir na década de 40 do Século passado. O painel recomposto por dois blocos, sendo um de 12 e outro de 6, pertencia, também no mesmo período, ao próprio Cel. Napier.E finalmente, não acredito que o painel recomposto por um bloco de 15 + uma tira vertical de 3 selos, hoje existente, pudesse ser o que pertenceu ao Sr. Schill, pois o público filatelista dele só tomou conhecimento em 1963, no leilão da coleção Burrus e, mais ainda, dele não existe qualquer referência publicada em todos esses muitos anos pesquisados. Provavelmente, é um painel que foi recomposto em meados do século passado, por volta dos anos cinqüenta.
A primeira referência no Brasil a este terceiro painel usado do 90 réis data de dezembro de 1928, quando se volta a ter notícia de um bloco de 18 selos do 90 réis Olho-De-Boi, na publicação do “O Philatelico”, órgão oficial da Sociedade Philatelica Brasileira, ano IV, número XXXIX, página 3, em artigo assinado por ZAP (Dr. Manuel Venâncio Campos da Paz) onde afirma que “uma folha inteira do 90 réis Olho de Boi, pertencera ao Sr. Luiz de Moraes Júnior”, cuja coleção, fora vendida, em 1927, ao comerciante filatélico Julio Rachitoff por 1.000$000 (mil contos de réis) equivalentes à época a U$S 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil dólares).
Entretanto, não diz se o bloco de 18 selos era novo ou usado. Em minha opinião seria o terceiro painel existente de 18 selos usados do 90 réis Olhos-de-Boi. Não podia ser o painel recomposto por Napier, pois o mesmo fora novamente aberto e o bloco de 12 selos vendido ao Sr. Guilherme Guinle.Também não podia ser o que estava em poder de Charles Pack, pois tal painel, conhecido em 1898, fora exportado e permaneceu no exterior até 1944. O painel de selos novos, dele só tomaríamos conhecimento em 1943, nas mãos de Fonseca Hermes. Resta então o painel obliterado com o circular do “Correio Geral da Corte – 16.11.1843”.
A revista Brasil Filatélico, nº 62, edição de setembro de 1943, página 21, traz um artigo sobre as coleções expostas na BRAPEX II, na qual o Dr. Djalma Fonseca Hermes levantou o Grande Prêmio da exposição. Nele encontramos a relação das peças expostas da referida coleção e dentre elas “1 Bloco de 18 selos do 90 réis usado”.Claro está que o comerciante Rachitoff vendeu o bloco ao Dr. Hermes, cuja coleção foi retalhada em 1949, por um comerciante filatélico estrangeiro.
Essa peça só voltou a aparecer para o público filatelista no leilão da coleção do brasileiro Reinaldo Bruno Pracchia, em 1987. Para apurar o desaparecimento por tão longo período apelei ao amigo Renato de Amaral Machado, na esperança de encontrar novas luzes.
Dr. Amaral Machado informou ser de seu conhecimento que esse bloco pertenceu ao Coronel A. Drexler, antes de 1950. E que foi, posteriormente, comprado por Heitor Sanchez, nos primórdios da década de cinqüenta, cujos herdeiros, aproximadamente em 1973, o venderam ao Sr. Reinaldo Bruno Pracchia por U$S 60.000,00 (sessenta mil dólares), fixados em moeda do Brasil e divididos em vinte pagamentos. É evidente que com a alta inflação então existente o valor final em dólares foi substancialmente reduzido.
O Sr. Pracchia obteve os mais importantes prêmios da filatelia brasileira até aquela data. No circuito internacional ganhou as três Medalhas de Ouro Grande que lhe deram direito a passar a expor na Classe de Campeões FIP, entre elas: ESPAÑA’75 em Madrid, ARPHILA’75 em Paris. No ano de 1980 alcançou o prêmio maior, “Grande Prêmio da Classe dos Campeões” na LONDON’80.
Em 1986, o Sr. Pracchia vendeu sua coleção completa dos “Numerais do Império” para a casa de leilões internacionais de selos “Habsburg, Feldman S/A”, sediada na Suíça pela soma de US$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil dólares) cujo pagamento foi efetuado à vista. No conjunto estava incluído o painel de 90 réis obliterado com o carimbo “C.G.C. 16.11.1843”.
O leilão da “Coleção Amazonas”, assim titulada por David Feldman, realizou-se em Zurich, entre os dias 16 e 21 de novembro de 1987. Foi produzido um catálogo exclusivo para esta coleção e o “Painel de 90 réis” foi uma das peças mostradas a cores na última capa do catálogo, listada como o lote número 60.166 (FIGURA 7). A descrição explicitava: “Painel intermediário completo de 18 selos do 90 réis – Olhos-de-Boi – da chapa C2/C, mostrando um pliê no selo da 6ª posição, selo da posição 18 com corte, carimbo circular datado sem cercadura do” Correio Geral da Corte – 16.11.1843”, muito bela e uma notável peça de exibição. A estimativa de valor era de “SFr 50.000,00” (cinqüenta mil francos suíços).
Fig. 7
Compareci, pessoalmente, a este leilão para tentar comprar peças para minha coleção e recebi a incumbência do amigo Ângelo Lima, que muito me honrou, para comprar várias peças para sua coleção de numerais do Império.
A seleção de peças feita pelo Sr. Lima representava a nata da Coleção Amazonas. Cumpri a tarefa com galhardia, pois consegui comprar tudo que ele relacionara com lances vencedores em seu nome. Posso citar dentre várias peças: “o bloco de 6 (3x2), usado, do 180 réis Inclinado”, o “Interpanneau de 30 réis dos Olhos-de-Boi” e o “Painel completo, usado, de 18 (6x3) selos do Olho de Boi de 90 réis, carimbo Correio Geral da Corte” que, após uma batalha de lances sucessivos, foi comprado pelo lance maior de SFr 40.000,00 (quarenta mil francos suíços), equivalentes, à época, aproximadamente ao valor de US$ 18.000,00 (dezoito mil dólares).
O Sr. Ângelo Lima, português de nascimento e brasileiro naturalizado por opção, industrial no Estado de São Paulo, tornou-se o maior expositor brasileiro, de todos os tempos, com sua coleção “Brasil Império 1843-1866” e o maior campeão nacional, obtendo os dois maiores galardões expondo internacionalmente pelo Brasil, quais sejam: Grande Prêmio Internacional e Medalha de Ouro Grande na PHILEXFRANCE’89 e o Grande Prêmio da Classe dos Campeões na PHILANIPPON’91. Além de duas Medalhas de Ouro Grande em anos anteriores a 1989.
Depois ter obtido os maiores prêmios nacionais e internacionais, o Sr. Lima, em 1993, decidiu vender sua coleção e após um acerto comercial entregou a coleção à casa de leilões David Feldman S/A, sediada em Genebra, Suíça. O acordo inicial previa a venda por leilão público, o que, posteriormente, terminou em venda fechada, recebendo o Sr. Lima a impressionante soma de mais de dois milhões de dólares por todo o seu acervo de selos das primeiras emissões do Brasil, incluindo os D. Pedro.
David Feldman promoveu, entre 1 e 6 de novembro de 1993, um leilão com um volume expressivo das peças da Coleção Lima, entretanto, das peças importantes apenas o “Pack Strip” foi apresentado, ou seja: ali não estavam a “Carta de Belo Horizonte”, nem o “Interpanneau” e nem o painel completo usado do 90 réis Olho-de-Boi.
No inverno europeu de 1995, no mês de janeiro ou fevereiro, estava o Sr. Hugo Goeggel, suíço de nascimento, importante industrial colombiano, radicado em Santa Fé de Bogotá, passando férias em uma estação de esqui, na Suíça, quando recebeu uma ligação telefônica do Sr. Feldman oferecendo várias peças da coleção do Sr. Lima e entre elas o famoso bloco “Interpanneau” e o painel completo usado do 90 réis. O negócio foi fechado por telefone e a cifra alcançou o valor de US$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil dólares) para todo o lote. O Bloco de 18 selos do 90 réis Olhos-de-Boi foi adquirido pelo preço entre US$ 25.000,00 e US$ 30.000,00.
A partir desta data o “Painel de 18 selos do 90 réis Olho de Boi” passou a pertencer à espetacular coleção da 1ª Emissão do Brasil do Sr. Hugo Goeggel. Além da coleção do Brasil, o Sr. Goeggel possui as melhores coleções, até hoje montadas, das primeiras emissões da Colômbia e do Equador, sendo, atualmente, considerado o maior colecionador de todos os tempos da Colômbia e o maior colecionador da atualidade da América do Sul. Detentor de várias medalhas de Ouro Grande com todas elas.
Com a coleção da “Primeira Emissão do Brasil” já obteve três Medalhas de Ouro Grande, sendo uma na “BRASILIANA’93”, sem o “Painel de 90 réis”, e mais duas, já com presença da famosa raridade: uma na PACIFIC’97 e outra MOSCOW’97.
Desta forma, pode-se listar a procedência histórica deste painel de 90rs, a saber: ex. C. H. Schill, Luiz de Morais, Fonseca Hermes, A. Drexler, Heitor Sanchez, Reinaldo Pracchia, Ângelo Lima.
4 - O PAINEL DE 90 RÉIS – TIRA VERTICAL DE 3 SELOS + BLOCO DE 15 (5 x 3)
A primeira referência sobre esse painel, com carimbo de legenda da “Cidade de Nicteroy”, batido dez vezes, aparece na famosa Coleção de Maurice Burrus, leiloada em 4 de abril de 1963, por Robson Lowe Ltd, em Londres.
Dele não existe qualquer referência publicada anterior a essa data em todos esses muitos anos pesquisados. Provavelmente, é um painel que foi recomposto em meados do século passado, por volta dos anos quarenta.
A revista Brasil Filatélico, nº 62, edição de setembro de 1943, página 21, traz um artigo sobre as coleções expostas na BRAPEX II, na qual o Dr. Djalma Fonseca Hermes levantou o Grande Prêmio da exposição. Nele encontramos a relação das peças expostas da referida coleção e dentre elas “1 Bloco de 18 selos do 90 réis usado”.
A coleção do Dr. Hermes foi vendida no final do ano de 1949 a um comerciante estrangeiro que levou para o exterior a coleção dos Olhos-de-Boi e cedeu ao comerciante filatélico do Rio de Janeiro, Santos Leitão, a de D. Pedro para ser retalhada no Brasil. Comentários da época dão conta que o preço total pago foi de Cr$ 1.250.000,00 (um milhão, duzentos e cinqüenta mil cruzeiros), equivalentes à US$ 160.000,00 (cento e sessenta mil dólares).
Entre outros expositores, o anônimo “Sextus Afranius”, que oculto sob essa capa, expôs 69 páginas estonteantes raridades dentre as quais se destacavam duas magníficas peças; dois blocos dos Olhos de Boi 60 e 90 réis de 18 selos cada um, em três filas de 6 selos”. Assim nos relatou o periódico Santa Catarina Filatélica, nº 3, à página 11, edição de 1950.
É evidente que ambas as peças descritas na coleção de “Sextus Afranius” foram parte do acervo do Dr. Fonseca Hermes, já que o painel de 18 do 60 réis é peça única conhecida desse valor até os dias de hoje. Com relação ao painel de 18 selos do 90 réis o Dr. Hermes possuía dois deles, um usado e o outro um novo (quimicamente lavado), não se podendo, via de conseqüência, pela descrição do periódico, saber qual deles foi o exposto em Londres. Certamente, teria sido o painel do 90rs obliterado com o carimbo de Nicteroy, já que em 1963 fazia parte do acervo do Sr. Burrus, então leiloado.
O filatelista que adquiriu a coleção Fonseca Hermes foi Maurice Burrus, possuidor do perfeito nome romano pretoriano “Sextus Afranius”, que usava esse pseudônimo em várias exposições internacionais, inclusive na LONDON’1950.
Esse painel completo, porém não inteiro, já que, na verdade, é uma peça remontada ou recomposta, como queiram, pois se trata de dois blocos, sendo um bloco de 15 (5x3) selos + tira vertical de 3 selos, tomou o número 1293 e possuía a seguinte descrição: “Impressão intermediária: painel completo (6 x 3) com a adição de uma tira vertical no lado esquerdo do bloco, margens completas e levemente obliterado com o alongado carimbo ‘Cidade de Nicteroy’, dobras naturais do papel sobre dois selos. Em excepcionais condições. Avaliação: £ 3.500” (FIGURA 8).
Não consegui apurar o valor da venda nem o comprador. Esse painel volta ser oferecido desta vez incluído como parte de uma grande coleção, pela casa H. R. Harmer Ltd, em “Trato Privado”, durante o período da realização da Exposição Internacional de Londres, entre 12 e 26 de setembro de 1970. E assim estava descrito o título: “Soberba coleção especializada dos tipos numerais em quatro álbuns”. Relacionava a seguir o material e dava como valor do negócio em £ 17.000 (dezessete mil libras esterlinas). Interessante notar que basicamente era o mesmo material constante do leilão Burrus, ocorrido em 1963.
Porém, sabedor que essa peça estivera nas mãos do comerciante filatélico Rolf Harald Meyer, radicado em São Paulo, fiz-lhe uma consulta telefônica e diz-me ele que comprara o painel do comerciante alemão Bartels, em 1973, durante uma visita comercial à Alemanha.
O painel permaneceu nas mãos do Sr. Meyer até 1997, quando o vendeu ao Sr. Roberto Seabra Benevides pelo preço deU$S 40.000,00 (quarenta mil dólares americanos).
O Sr. Benevides expôs apenas uma vez sua coleção “Brasil: Primeiras Emissões”, e foi na LUBRAPEX’2000, de caráter binacional, onde obteve o Grande Prêmio da Exposição. Estando presente pude verificar que ali estava exposto o referido painel.
Durante minha longa estada em Houston, final do ano de 2001, tomei conhecimento da entrega feita pelo Sr. Roberto Benevides de toda sua coleção “Brasil: Primeiras Emissões” ao Sr. Antonio Torres, negociante e leiloeiro, radicado em Londres, para vendê-la. Foi produzido um belo e exclusivo catálogo, todo a cores, e que anunciava o negócio, para o outono de 2001, como de “Trato Privado”, estando ali incluídos as seguintes raridades brasileiras: a “Folha Completa de 60 selos dos Olhos de Boi de 60 réis”, o “Par Xifópago”, quadra nova do 30 réis (somente 3 conhecidas), carta do Rio de Janeiro para a cidade de Rio Grande com uma tira horizontal de 4 selos do 60 réis, carta do Rio de Janeiro para Cachoeira (RS) com uma tira horizontal de 4 selos do 60 réis + um 30 réis isolado e o painel completo do selo de 90 réis (18 selos – 6x3) obliterado com carimbos de “Cidade de Nicteroy. Entre os Inclinados pudemos notar: um bloco obliterado de 6 selos (3x2) do 180 réis, uma tira vertical nova de 3 selos do 300 réis, Bloco de 6 (2x3) obliterado do 600 réis, além de uma quadra obliterada e uma tira vertical nova de 4 selos do 600 réis (maior múltiplo conhecido). Realmente um impressionante acervo. De valores, o catálogo nada mencionava.
Em conversas filatélicas com comerciantes locais, colecionadores e expositores internacionais concluiu-se que entre os valores de um milhão e um milhão e duzentos mil dólares o negócio poderia ser fechado. O Sr. Torres, consultado, pessoalmente, por telefone, escusou-se em fornecer detalhes sobre essa transação. Apenas mencionou que era um negócio liquidado e que não ocupava mais o seu tempo.
Por esta última afirmação pode-se depreender que “O PAINEL DE 90 RÉIS” deixou o Brasil mais uma vez. Comentou-se, no mercado filatélico internacional, que a coleção, apenas incluída a parte referente aos Olhos-de-Boi, foi vendida ao mais importante colecionador espanhol da atualidade, Sr. Luiz Alemany, detentor de centenas de medalhas de ouro e ouro grande e possuidor de mais de quarenta coleções de nível FIP, pela importância de cerca de US$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares). Comenta-se também que o “Painel” foi avaliado nessa transação pelo valor de US$ 30.000,00 (trinta mil dólares).
Desta forma, pode-se listar a procedência histórica deste painel de 90rs, a saber: ex. Djalma Fonseca Hermes, Maurice Burrus, Rolf Meyer, Roberto Benevides.
Em síntese, são três os painéis completos e inteiros, sendo que um está desaparecido e apenas um painel completo remontado, todos usados.
COMENTÁRIOS ADICIONAIS
Alguns autores incluem a reconstituição da 1ª Chapa da Folha Composta pelos três valores, Estado B, do 90 réis de Olhos de Boi, produzida pelo Cel. G. S. F. NAPIER como sendo mais um dos painéis existentes, ou seja, seria o quinto painel conhecido do 90 réis. Este painel recomposto de fato existiu. Essa reconstituição fora feita pelo Cel. Napier com dois blocos obliterados pelo carimbo (PA. 1371) com cercadura da “CIDADE DE NICTEROY”, que eram de sua propriedade em 1920.
Na verdade, não era um painel inteiro, mas sim um painel que fora remontado ou recomposto, como no caso imediatamente acima citado. Tratava-se, pois, de um painel reconstituído através de um bloco de 12 (4x3), posicionando-se esquerda do painel, (FIGURA 9) e um bloco de 6 (2 x 3) selos compondo olado direito do painel (FIGURA 10).
Fig. 9 Fig. 10
Entretanto, esse painel não mais existe.
É dito que Guilherme Guinle foi o grande comprador das peças que pertenceram à coleção do Cel. Napier. A Revista Philatelica de Petrópolis, dezembro de 1925, número 16, em artigo sobre a 1ª Exposição Philatelica Nacional, lista o material exposto por Guilherme Guinle e menciona explicitamente a existência de dois Blocos de 12 do 90 réis, Olhos-de-Boi, sendo um usado e um novo, sem, entretanto, informar que carimbo obliterava o tal bloco usado de 12 selos. Depreendo e, data vênia, tomo a liberdade de inferir ser o tal bloco o mesmo bloco usado de 12 (carimbo de “Cidade de Nicteroy”) que pertenceu ao Cel. Napier.
Portanto, o painel deixou de existir a partir da compra efetuada por Guilherme Guinle.
Penso que posso afirmar que o painel foi desmontado no momento da compra feita pelo Sr. Guinle, pois ele, por certo, comprara o bloco usado de 12 selos, por ser a mais importante peça da coleção Napier e a relação fornecida pela revista de Petrópolis não cita qualquer bloco usado de 6 selos incluído na coleção Guinle. Mais ainda, por ser um colecionador muito exigente não adquiriu o bloco de seis selos por razão puramente de qualidade, pois o mesmo tinha um forte defeito no canto superior direito, visto pelo observador, no qual faltava um pedaço do selo e que teria sido recomposto, provavelmente, por uma parte de um outro Olho-de-Boi.
E para comprovar de forma definitiva não ser mais um painel, encontrei o bloco de 8 (4 x 2) referente ao canto inferior esquerdo (visto pelo observador) da chapa reconstituída por Napier, referente à Primeira Chapa Composta, Estado B, posições 7, 8, 9, 10, 13, 14, 15 e 16 (FIGURA 11). A tira horizontal superior de 4 selos foi removida do então bloco vertical esquerdo original de 12 selos. Indubitavelmente se trata da mesma peça constante da reconstituição promovida por Napier.
Fig. 11
Portanto, o bloco de 12 foi aberto e reduzido para um múltiplo de apenas oito selos (4x2). Pode-se notar na figura 9 que a tira superior de 4 selos não apresentava uma boa qualidade, razão pela qual foi retirada com o objetivo de valorizar qualitativamente o bloco de 8 remanescente.
Também encontrei o par superior direito do antigo bloco de 12 da chapa reconstituída por Napier (FIGURA 12). A possível tira horizontal de 4 selos foi aberta. Este par foi visto no leilão da casa Corinphila de 2002, lote 2696.
Fig. 12
O comerciante uruguaio Julio Rachitoff foi o comprador da coleção completa do Sr. Guinle, em 1937, pela a impressionante soma de 3.000$000 (três mil contos de réis) equivalente à época a cerca de U$S 500.000,00 (quinhentos mil dólares) e o mais importante comprador da peças da coleção Guinle foi o colecionador americano Saul Newbury.
Portanto, é quase certo ter sido o Saul Newbury o proprietário seguinte deste bloco de 8 até a coleção ser dispersa, inicialmente pelo leilão realizado por Robert Siegel em 1962 e a compra em trato privado realizada por Norman Hubbard, em 1973, junto aos herdeiros do Sr. Newbury. Os proprietários seguintes foram: Itamar Bopp, cuja coleção foi desfeita pelos herdeiros no início da década de 1990; Roberto Seabra Benevides, cuja coleção foi vendida em trato privado em 2001 por Antonio Torres. Esse bloco pertence hoje ao colecionador espanhol Luis Alemany.
Resumindo o histórico deste bloco de 12 e posteriormente um bloco de 8 temos: Napier, Guinle, Newbury, Bopp, Benevides.
Encontrei o bloco de 4 (2 x 2 = quadra) referente ao canto inferior direito da chapa reconstituída por Napier, referente à Primeira Chapa Composta, Estado B, posições 11, 12, 17 e 18(FIGURA 13). O par horizontal superior foi removido do bloco vertical direito original de 6 selos. Indubitavelmente se trata da mesma peça constante da reconstituição promovida por Napier. A retirada do par superior, em razão do forte defeito existente, foi feita com o objetivo de valorizar qualitativamente o múltiplo remanescente de quatro.
Fig. 13
Em algum momento entre a compra feita por Guilherme Guinle da coleção Napier e o aparecimento da outra parte do painel, agora uma quadra, nas mãos de Leon Dubus (leilão realizado em 1967) o bloco de seis foi aberto.
A quadra fez parte da Coleção Napier (1920), Leon Dubus (1967), E.M Collection (1983), Norman Hubbard (1986) e hoje pertence à Coleção Hugo Goeggel, da Colômbia.
Foi impossível determinar a localização desta quadra entre 1921 e 1966. Trata-se agora de encontrar o par horizontal superior esquerdo do bloco de 12 e o par superior do bloco de 6(provavelmente esse par jamais será encontrado, pois por ser extremamente defeituoso deve ter sido destruído) para reconstituir novamente a 1ª Chapa Composta de três valores, Estado B, uma vez feita por Napier".