[Bráulio Tavares]

 
Está começando nos EUA a Semana dos Libros Proibidos (“Banned Books Week”), celebrada na última semana do mês de setembro. É uma iniciativa conjunta de associações representando editores, professores, livreiros, bibliotecas e entidades culturais que combatem a censura a obras literárias, desde a proibição pura e simples até a sua retirada de currículos e do acervo de bibliotecas. Eu nunca tive um livro proibido pela censura. Tive uma música (“Nordeste Independente”, composta com Ivanildo Vila Nova, gravada por Elba Ramalho) que teve sua execução pública proibida durante o último ano da ditadura militar. Mas é como leitor que durante os próximos dias comentarei algumas dessas obras que foram retiradas de circulação, e por que motivos isso aconteceu. 

Os principais motivos para um livro ser proibido são: 1) conteúdo sexual; 2) cenas de violência ou sadismo; 3) linguagem chocante (não necessariamente palavrões de cunho sexual, mas linguagem considerada agressiva, vulgar, violenta, etc.); 4) cenas envolvendo drogas e parecendo endossar o seu uso; 5) conteúdo racista ou discriminatório contra maiorias; 6) idéias políticas contrárias ao regime vigente; 7) agressões, calúnias ou afirmações graves contra um indivíduo ou grupo. Há outros, com certeza; estou enumerando de memória. As razões mudam de lugar para lugar. 

A liberdade de literatura é muito parecida com a liberdade de imprensa. Todo mundo é a favor até o instante em que se torna vítima dessa liberdade, até quando surge um livro dizendo algo que nos ofende, nos envergonha ou nos ameaça. Nesse instante, nosso discurso democrático vai dar uma volta no espaço sideral, e a vontade que a gente tem é mandar apreender aquele livro, queimá-lo em praça pública, e premiar o autor com uma surra de fio-desencapado e um banho de sal grosso. 

Digo isto para lembrar que a luta pela liberdade de expressão não é uma luta do Bem contra o Mal, a luta dos Cem Por Cento Certos contra os Cem Por Cento Errados. É um dilema, uma encruzilhada entre duas opções, ambas envolvendo ganhos numa direção e perdas na outra. Somos contra a proibição de James Joyce ou de Rubem Fonseca, mas aposto que muitos de nós somos a favor da proibição dos livros de Hitler. Cada sociedade se define pelos seus critérios para proibir um livro e ameaçar seu autor, porque ao fazer isto ela atinge um limite de si própria, atinge aquela fronteira ética na qual em nome dos mais elevados valores se cometem os atos mais graves. Somos todos a favor da liberdade de expressão. Mas cada um de nós tem pelo menos um livro que proibiria com prazer e vingança. Bora, rapaz. Fala a verdade.