[Ribamar Garcia]                           

          Foram lançados, recentemente, pelo selo da Editora Minarete,  “LIVRO SOBRE LIVROS”  e  “DiNARTE  DO ENTRE-RIOS & OUTROS VIVENTES”. Ambos da autoria de Enéas Athanásio,  

      Mais duas obras desse celebrado escritor, que se vão juntar à sua extensa  bibliografia, de quase cinqüenta livros.

     “LIVRO SOBRE LIVROS” é uma coletânea de 50 ensaios literários sobre obras  de  autores diversos – nacionais e estrangeiros.  E “DINARTE DO ENTRE-RIOS & OUTROS VIVENTES” reúne 11 contos de safra recente. Por enquanto, fixamo-nos no primeiro.     

       Na sucinta introdução do “LIVRO SOBRE LIVROS, Enéas, num ato mais de humildade  do que de fé, rebate  o escritor Somerset  Maugham para quem livros sobre livros eram os mais inúteis. Rechaça  com argumentos irrefutáveis e, numa  franqueza que lhe é característica.  Admite que a leitura desse tipo de livro tem bons atrativos e que não se cansa de “ler coletâneas de ensaios literários que nunca deixam de fazer surpreendentes revelações”.  E  confirma esse posicionamento, fazendo   nesse  livro, com seu estilo elegante e fluente.

      Todos os ensaios vem acompanhados de informações e revelações, que aguçam a curiosidade do leitor e o estimula à leitura do próprio livro comentado. O que não é fácil de fazer, pois exige do ensaísta uma sensibilidade peculiar.  Mais ainda: densa bagagem cultural e profundo conhecimento literário, histórico.         

       Eis, portanto, algumas amostras, com fatos importantes inseridos nos textos:             

       “A Festa do Bode” (pp. 25/28).  Livro do escritor peruano Mario Vargas Llosa, No final do ensaio, esta revelação  sobre o autor: “Militante de esquerda na juventude, Vargas Llosa se deslocou para o centro e disputou a presidência do Peru, seu país natal, perdendo a eleição para o trânsfuga Alberto Fujimori, num resultado que consternou o mundo. Processado por toda sorte de desmandos, Fujimori  se encontra preso ou, pelo menos, foi a última notícia que li a respeito dele. Llosa recebeu o Prêmio Nobel de Literatura e a “A Festa do Bode” é um dos seus mais festejados romances.”

        “A Outra Pátria” (pp. 75/78).  Sobre o livro “Hemingway na Espanha – A Outra Pátria”, de Eric Nepomuceno.  “Por isso, costumava dizer ( Ele, Hemingway) que sob o fascismo nenhum escritor pode viver e, muito menos, trabalhar. Finaliza o texto  com esta triste e real informação: ”Pouco  depois, com a vitória franquista e suas hostes dominando sua segunda pátria, Ernest Hemingway  se retirou da Espanha tomado de uma das maiores tristezas de sua existência”. 

         “A Salvação de Lima Barreto” (PP. 87/89). A respeito do livro “Lampião”, escrito por Ranulfo Prata. Enéas conheceu Ranulfo, que, por sua vez, conhecera Lima Barreto, de quem se tornara admirador e amigo. E revela:  Ranulfo, posteriormente, vivendo em  Mirassol-SP, onde era médico, resolvera libertar Lima Barreto do alcoolismo e o levou para sua cidade, a fim de curá-lo. Lima, depois de um eficiente tratamento, apresentava “melhora visível”, quando então, fora convidado por alguns intelectuais da cidade vizinha, Rio Preto, para proferir uma palestra. Mas, “Lima era a timidez em pessoa - tenho a alma de bandido tímido’ (dizia) – deu de ficar nervoso e no dia marcado desapareceu. Procura daqui e dali acabou sendo  encontrado numa sarjeta, bêbado, quase inconsciente.  Pouco mais de um ano depois estava morto, aos 41 anos de idade. Havia escrito uma conferência genial, que, com certeza, faria imenso sucesso – “O destino da nossa literatura’.

      “A Tragédia e a Lei” (PP. 91/94). Comentários sobre “Grandes Pecados da Imprensa”, de Sebastião Nery, que focaliza as injustiças da mídia contra personalidades brasileiras.  Vai de Ruy Barbosa a Alceni Guerra.  Como Nery não incluiu no rol dos injustiçados o jurista e poeta piauiense  Sousa Neto, de quem Enéas havia lido “Prosa Rimada”, ele aproveitou  o ensaio para justiçá-lo.  E narrou o famoso “caso Aida Cury” em que Sousa Neto era o juiz. E por haver decidido de acordo com a lei penal, foi injustamente execrado pela imprensa, liderada pelo irresponsável e leviano jornalista David Nasser, da revista “O Cruzeiro”.  Sousa Neto chegou a Desembargador e as peças do processo foram transformadas no livro “A Tragédia e a Lei”, em 1959, pelo Editor Borsoi.  Segundo Enéas “Um dos mais notáveis e brilhantes textos jurídicos da época, lido, discutido e comentado pelo país inteiro”.            

            Focamos apenas esses quatro ensaios. Os demais seguem na mesma toada.

            Enéas Athanásio, ao reunir num só volume seus ensaios, presenteou seus leitores e prestou inestimável serviço à literatura.