Por Eugênio Rêgo - editor de cultura do Diário do Povo
O Piauí é um Estado de litoral acanhado - apenas 66 quilômetros. Mas nem sempre foi assim. Quando capitania, lá pelos idos de 1535, as praias do Piauí começavam na Baía de São José, no Maranhão, e terminavam nas margens do Rio Camucim, no Ceará.
Foi nesta imensa extensão de terra que se tem notícias da primeira miscigenação entre brancos e índios. Em 1571, o navegador Nicolau Rezende e sua tripulação naufragaram na região do Delta do Parnaíba e foram inacreditavelmente acolhidos pelos Tremembés, nação indígena que habitava a região.
Provavelmente extasiados com a visão de um Paraíso terrestre, rejeitaram a civilização e resolveram ficar em terras piauienses onde procriaram com as nativas. Rezende e seus companheiros são considerados como os primeiros descobridores do Piauí.
Estas e outras tantas curiosidades sobre a História piauiense são relatadas nas 400 páginas do livro "Piauhy - das Origens à Nova Capital", do engenheiro Cid de Castro Dias, que será lançado na noite desta quarta-feira, às 20h, no auditório do prédio do Sebrae, no centro.
OS DOMINGOS - A capa do livro reproduz a imagem do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, em tela do acervo do Museu Paulista, que desbravou meio Brasil para aliar-se a outro Domingos, o Mafrense, para combater índios Pimenteiras no interior do Piauí.
A dupla foi contratada por Francisco Dias D'Ávila, dono de capitania na Bahia, mas de olho em ampliar as fronteiras de suas terras para além São Francisco. A família acabou por se tornar influente na colonização do Piauí. Domingos Jorge Velho e Domingos Mafrense se separariam mais tarde para perseguirem índios em regiões diferentes. Velho sairia à caça dos Cariris do Ceará.
O conteúdo publicado por Cid de Castro Dias soa como um épico desde sua pré-produção. O engenheiro, que já publicou livros na sua área de atuação, debruçou-se sobre documentos e textos de nada menos que 85 autores numa pesquisa que buscava resgatar o que há de mais confiável e verdadeiro sobre a criação e evolução do Estado desde o desbra-vamento até à troca da capital de Oeiras para Teresina.
HERÓIS E BATALHAS - Pelas quatro centenas de páginas passam expedições hercúleas, guerras e intrigas que dariam um ótimo romance. Mas tudo o que é relatado pelo autor, segundo suas fontes, de fato aconteceu e ficou para a posteridade como História.
"Neste trabalho, abordamos fatos relevantes, muitos dos quais não suficientemente divulgados e, por isso mesmo, de conhecimento bastante restrito entre os piauienses. O livro po-deria ter sido escrito de forma romanceada como a princípio o idealizamos. Não o foi porque a narração enfocada desta maneira deixaria dúvidas quanto à fidelidade histórica", explica o autor na apresentação.
O engenheiro disse à reportagem que bebeu na fonte de grandes historiadores piauienses como Monsenhor Chaves e Bugyja Brito, entre vários outros. Para que não restassem dúvidas sobre a credibilidade de suas de suas fontes, Cid de Castro Dias reúne no final da publicação cerca de "22 documentos históricos da mais alta significação" para consulta.
ELEITOS - Épico de muitos heróis, o autor escolheu alguns personagens para dar maior destaque no período coberto pelo livro: o Visconde da Parnaíba e o Conselheiro Saraiva. "O Visconde foi um homem do seu tempo. Odiado por muitos e amado por outros tantos. Trocou a Corte pelo litoral do Piauí e o defendeu bravamente. Sobre o Conselheiro Saraiva, basta saber que a ele se deveu a vitória do Brasil na Guerra do Paraguai. E se destacou primeiro como administrador da província do Piauí. Saraiva tem um biografia belíssima", conta o engenheiro. Muitos outros personagens reais estão nas páginas de "Piauhy - das Origens à Nova Capital" - leitura obrigatória e deliciosa.
Publicado originalmente no Diário do Povo - 6.08.2008