LITURGIA AOS OMBROS DO RIO - Poema de Diego Mendes Sousa

Pode ser uma imagem de barco, praia, crepúsculo e texto que diz "JairoLeocádio"

 

LITURGIA AOS OMBROS DO RIO

 

Para Francisco Cláudio de Almeida Santos

 

 

 

Sento o coração

nas anáguas

dos sonhos.

 

O mar de trás para frente

repete o sono do tempo.

 

Na sonolência das ondas

da minha gleba,

os meus pés

navegam abismos.

 

E tudo boia

ao rumor

da praia...

 

Cada ilusão

beira salinas

no rostro

do mundo.

 

Sou o grumete

de sempre...

 

Não aprendi a enfunar

velas, nem a velejá-las,

meus barcos são retesados

e enevoados de pedra.

 

Meu caminho

é afogamento...

 

Meus passos

andam apenas

nas algas marinhas

ou escavam as raízes

do não ser.

 

O menino

flutua

o céu

sem saber.

 

Destino reservado,

espelho do mesmo mar,

queda no mesmo horizonte.

 

Tudo é mar...

Tudo é mar...

 

Oceânicos são

a vida,

o amor,

a morte,

a tempestade

de costas

para a cidade

da Parnaíba.

 

O coração repousa

amanhecido.

 

Senta-se

no véu de noiva do mar...

 

Sua brisa invadida,

seus ventos sonoros

querem assentar

a alma

sobre os ombros

do rio,

o Igaraçu litúrgico,

aceso ao vivido

e sentido.

 

O olhar

da cor de prata

do mar

é uma testemunha

de ninguém...

 

 

Poema de Diego Mendes Sousa

 

Fotografia de Jairo Nunes Leocádio

Praia da Pedra do Sal, na Parnaíba, ante o mar do Piauí