LITURGIA AOS OMBROS DO RIO - Poema de Diego Mendes Sousa
Por Diego Mendes Sousa Em: 02/09/2023, às 14H39
LITURGIA AOS OMBROS DO RIO
Para Francisco Cláudio de Almeida Santos
Sento o coração
nas anáguas
dos sonhos.
O mar de trás para frente
repete o sono do tempo.
Na sonolência das ondas
da minha gleba,
os meus pés
navegam abismos.
E tudo boia
ao rumor
da praia...
Cada ilusão
beira salinas
no rostro
do mundo.
Sou o grumete
de sempre...
Não aprendi a enfunar
velas, nem a velejá-las,
meus barcos são retesados
e enevoados de pedra.
Meu caminho
é afogamento...
Meus passos
andam apenas
nas algas marinhas
ou escavam as raízes
do não ser.
O menino
flutua
o céu
sem saber.
Destino reservado,
espelho do mesmo mar,
queda no mesmo horizonte.
Tudo é mar...
Tudo é mar...
Oceânicos são
a vida,
o amor,
a morte,
a tempestade
de costas
para a cidade
da Parnaíba.
O coração repousa
amanhecido.
Senta-se
no véu de noiva do mar...
Sua brisa invadida,
seus ventos sonoros
querem assentar
a alma
sobre os ombros
do rio,
o Igaraçu litúrgico,
aceso ao vivido
e sentido.
O olhar
da cor de prata
do mar
é uma testemunha
de ninguém...
Poema de Diego Mendes Sousa
Fotografia de Jairo Nunes Leocádio
Praia da Pedra do Sal, na Parnaíba, ante o mar do Piauí