"Alvaro Moreyra

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Alvaro Moreyra

Por Jorge Adelar Finatto

O escritor gaúcho Alvaro Moreyra (Porto Alegre, 1888 – Rio de Janeiro, 1964) faz parte de uma galeria de autores brasileiros que estão muito esquecidos. Poeta, cronista, homem de teatro, apresentador de programas culturais de rádio,*derramou-se em várias frentes do trabalho cultural. A literatura, no entanto, foi o centro de sua atividade criativa. É de justiça recordar o lugar único e luminoso que lhe pertence na nossa vida artística e literária.

Alvaro Moreyra foi um comunista devoto de São Francisco de Assis e um acadêmico que, ao ver-se no fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras, achou-se parecido com um porteiro de edifício. Eleito em 1959 para a ABL, ocupou a cadeira 21, sucedendo a Olegário Mariano. O fardão foi doado pelo Estado do*Rio Grande do Sul, sendo então governador Leonel Brizola.

Depois que morreu formou-se sobre a sua pessoa e a sua*obra*um injusto silêncio. Os mais jovens não têm sequer a oportunidade de conhecê-lo pois não há reedição de seus livros. A crônica brasileira deve muito a Alvaro Moreyra, que influenciou autores do gênero como Rubem Braga e Fernando Sabino. *

Dirigiu revistas como Para Todos e Ilustração Brasileira através das quais lançou poetas e escritores. Com Eugênia Alvaro Moreyra, sua mulher (a primeira repórter brasileira), criou o Teatro de Brinquedo, em 1927, movimento que marcou o início da renovação da arte cênica no Brasil.

Alvaro deixou uma obra notável em qualidade e delicadeza, na qual figuram, entre outros livros, Elegia da bruma, Um sorriso para tudo, Havia uma oliveira no jardim e as Amargas, não.

Sobre ele assim manifestou-se Carlos Drummond de Andrade: “Entre os modelos nacionais que se ofereciam ao aprendiz de literatura, este marcou mais do que todos. As primeiras adorações intelectuais manifestam-se pela imitação, e parecia fácil imitar os flagrantes, as anotações mínimas, de cenas e estados de espírito, a atitude graciosa e descomprometida de Alvaro Moreyra. Não que eu o pretendesse conscientemente, mas deslizava nesse rumo como aquele frade que ouviu cantar o passarinho e se deixou levar na esteira de sua voz. Não consegui, porém, o que outros também não terão conseguido. A fórmula irônico-sentimental de Alvaro era exclusiva, as modulações alheias soavam falso. Quem sabe se não será mais cômodo copiar um estilo empavesado? De qualquer modo, devo admitir que da experiência se apurou o saldo de uma lição de simplicidade, válida para sempre”. (Cadeira de Balanço,* Livraria José Olympio Editora, 8ª ed., Rio de Janeiro, 1976).

Para quem ama a boa literatura, recomendo procurar a obra do autor em bibliotecas e sebos.* Lembro que Alvaro Moreyra foi, além de tudo, um ser humano dotado de imensa generosidade".

(http://arquipelagolivros.wordpress.com/2010/12/14/alvaro-moreyra/,

sendo que o grifo - trecho negritado - é nosso)

 

 

 

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SOBRE SALOMÉ,

no excelente blog O sorriso amarelo da lua

 

"Quarta-feira, 6 de maio de 2009

Salomé

 
Salomé foi uma princesa, enteada do rei Herodes que era obcecado por ela, vivia implorando-lhe que dançasse para ele, mas Salomé era apaixonada pelo profeta João Batista. O Profeta, no entanto, era um homem de Deus e evitava olhá-la para não cair em tentação. Sua mãe Herodiades, que tinha sido insultada por João Batista por viver em concubinato, persuadiu a sua filha a se vingar, dançando a dança dos sete véus para o rei Herodes. Enlouquecido de desejo, Herodes disse a ela que pedisse o que quisesse até mesmo a metade de seu reino. Salomé, mais uma vez influenciada por sua mãe, exigiu a cabeça de João Batista numa bandeja de prata. Vendo a cabeça do profeta na bandeja Salomé horrorizada e sinceramente arrependida, beija seus lábios e diz que enfim ele olhou para ela. Como eu havia citado anteriormente, uma das minhas grandes obsessões é a personagem bíblica Salomé. Sedutora, intrigante, provocante e perversa, uma mistura de inocência juvenil com uma femme fatale, que ela mostra ser quando se vê apaixonada e rejeitada por seu amor. Salomé era neta de Herodes, o Grande, era filha de Herodes Filipe e Herodiades, ela aparece nos relatos de Mateus (14, 1-11) e Marcos (6,17-28), descrevendo uma grande festa no pálacio de Herodes Antipas onde Salomé, sua a sobrinha e enteada, dança para ele. A história de Salomé serviu de inspiração para o escritor irlandês Oscar Wilde. Depois da peça de Oscar Wilde, Richard Strauss fez a música da ópera do drama de Salomé e João Baptista. Houve quem compusesse bailados sobre o tema, mas é na iconografia sobre Salomé que encontramos o maior e mais diversificado número de interpretações: gravuras, desenhos, telas de pequenas e grandes dimensões, esculturas. Quase todos os grandes museus do mundo têm quadros com João Batista e
Salomé.
 

(foto: Salomé exige a cabeça de João Baptista, de Gustave Moreau)



 
É certo que esta bela jovem da Galiléia teve existência real. Para lá dos mitos criados nos 20 séculos passados sobre a sua morte Salomé mantém-se uma figura histórica inesquecível e para sempre ligada ao nome de João Baptista. No Evangelho de Mateus, aparece apenas com uma simples referência: "Ela dança e agrada a Herodes e aos convivas." O historiador hebreu Flávio Josefo se refere a ela, dizendo: Aquela que pediu, por conselho da mãe, Herodias, a cabeça de S. João Baptista, por ter dançado.
 
 



 
“Uma mulher descalça, dançando sobre o sangue de um homem a quem ela desejava e matou”. Oscar Wilde 
 
 
 
"Salomé - a sua luxúria um abismo. A sua perversidade um oceano". Salomé foi, depois de Eva, considerada a mulher mais malvada da história judaico-cristã. Há poucas figuras femininas no Antigo Testamento que tenham merecido por parte de escritores, autores de teatro, gravadores, pintores e compositores musicais a atenção que mereceu a jovem Salomé.
 

 
A Salomé de Oscar Wilde 
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Oscar Wilde escreveu a maior parte do texto de "Salomé" em Paris, em 1891, e em Francês, possivelmente após ter visto as pinturas de Gustave Moreau sobre o mesmo tema e, também possivelmente, para Sarah Bernhardt (embora ele o tenha negado).
 
Em 1992, quando apeça já estava em ensaios pra a estréia, no Palace Theatre, a censura recusou-a, alegando que não era permitido representar personagens bíblicas no palco. O facto é que "Salomé" aborda temas considerados, à época, imorais, o que terá pesado fortemente na decisão. A estreia em Paris deu-se em 1896, quando Wilde cumpria a pena de dois anos de trabalhos forçados por conduta "imoral" (a sua relação íntima com Alfred Douglas).Richard Strauss assistiu a uma das primeiras representações de "Salomé" na Alemanha, em Berlim, e acabou por escrever o libretto para a sua ópera, a partir do texto de Wilde. A estreia mundial aconteceu na Ópera de Dresden, em 1905. Ainda hoje é considerada uma ópera difícil e Maria Wittich, a primeira Salomé de Strauss, recusou-se inicialmente a cantar o papel, dando como pretexto a indecência da personagem. A cena final é um dos maiores momentos de toda a História da Ópera.
 
Olhando a obra do ponto de vista psicanalítico podemos, talvez, inferir que a construção do perfil psicológico das personagens reflecte a controversa sexualidade do autor, isto é, uma homossexualidade camuflada e uma misoginia mais do que evidente.
 
A corroborar o facto, podemos observar que todas as características do ideal de beleza física de Wilde estão presentes na figura de João Baptista que é, para o autor, o (seu) verdadeiro objecto de desejo enquanto que este (Wilde) se projecta na figura de Salomé, possuidora da aparência física que ele gostaria de exibir. A faceta misógina do autor incarna uma mulher de beleza fatal, mas diáfana, a qual ele identifica com a Lua - um símbolo que personifica a ambiguidade e simultaneamente a fronteira entre a realidade e a loucura - fato ilustrado pelos presságios patentes em vários momentos deste drama intensíssimo, quando as personagens são advertidas do perigo de sucumbir à perda da razão pela excessiva contemplação da LuaSalomé.
 

 


Porque a Lua, tal como a Princesa Real, possui uma face oculta (ao fim e ao cabo como o próprio Wilde em relação à sua própria sexualidade camuflada sob a capa de um casamento com e dois filhos) que, em Salomé, será a ausência total de limites quanto à satisfação do seu desejo e que se opõe à sua aparência angélica e è sua capacidade de enlouquecer quem por ela se deixa enfeitiçar.
 
A Lua sedutora na figura de Salomé reage violenta e passionalmente tirando a vida ao ser amado para concretizar aquilo que não consegue realizar com ele vivo: o beijo que ele lhe negou.
 
Salomé, ao contrário da maior parte da obra de Wilde - onde sobressai a mais fina ironia -, está impregnada do universo que povoa o inconsciente deste polêmico autor britânico, com um complexo cocktail de pulsões, fobias, desejos ocultos, tabus sexuais e contradições que emanam do conflito entre o id, o ego e o superego do autor projectado nas personagens. Salomé é a própria personificação do Desejo, das pulsões que são, normalmente, "castradas" pela religião, defendida com uma paixão de verdadeiro fundamentalista por João Baptista.
 

 
Trecho:
 
“Havia um sabor amargo nos teus lábios. Seria o sabor de sangue?...
 

 
Não; mas talvez fosse o sabor do amor...
 

 
Dizem que o amor tem um sabor amargo... Mas o que importa? o que importa?
 

 
Beijei tua boca, Iokanaan, beijei tua boca." Oscar Wilde

 


 

 
Sexualidade e Poder
 

 
“O inquietante delírio da dançarina, a sutil grandeza da assassina.”
 

 
“A beleza demoníaca que poderia atrair os homens para a perdição e que, por isso, provocava naquele que a contemplava medo e atração, terror e desejo.”
 

 
“Certamente ao fim de sua dança dos véus, quando Salomé exige a cabeça do profeta, seu caráter também é revelado.” Mesmo antes de sua famosa dança dos sete véus, Salomé usou o conhecimento que tinha de seu poder, um poder inseparável de seu corpo físico. Aquela dança é parte do calculado jogo de trocas com Herodes – no qual ela oferece seu corpo como espetáculo, sensual, sexual aos olhos dele, em toca da promessa de que vai satisfazer tanto sua teimosia letal quanto sua destrutiva obsessão sexual por beijar a boca do resistente profeta.
 

 
“A dança dionisíaca era hedonista, instintiva, física e consequentemente perigosa.”
 

 
Extraído do livro: “O corpo perigoso”.
 
The body dangerous: Salome dances Linda Hutcheon; Michael Hutcheon
 

 

 
(foto:Rita Hayworth como Salomé) 
 

 

 
 
 
Eugénio de Castro, no seu poema lírico, descreve-a assim:
 
-
 
"Radioso véu, mais leve que um perfume,
 
Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,
 
Dos seus dedos flameja o precioso lume
 
E em cada mão traz uma pálida açucena.
 
E a infanta avança. ao som dos burcelins...
 
Como sonâmbula perdida
 
Em encantos, místicos jardins,
 
Dir-se-ia que dança desmaiando
 
Ao perfume das flores que estão em roda...
 
Dir-se-ia que dança e está sonhando...
 
Dir-se-ia que a estão beijando toda..."
 
 

 

 
"(...) um Filme sobre Salomé:
 

Salomé de Carlos Saura
 
 
 
Em Salomé, o diretor espanhol recria a história bíblica através do flamenco. O filme começa como um documentário. São apresentados os bastidores da preparação do espetáculo Salomé, depois os bailarinos apresentam a encenação da peça.
 
Direção: carlos Saura
 
(Espanha): 2002
 
Elenco:
 
Aída Gómez (Salomé)
 
Paco Mora (Rei Herodes)
 
Javier Toca (João Batista)
 
Pere Arquilluré (Diretor)
 
Carmen Villena (Herodías) (...)

 

 
 
Fonte: Vários sites da internet
 
Organização de texto: Selma Astarte ishtar