[Maria do Rosário Pedreira]

Portugal e o Brasil fazem esforços para se manterem irmãos, mas as suas literaturas parecem-me francamente de costas voltadas. Embora muitos autores portugueses tenham os seus livros publicados do lado de lá do Atlântico, exceptuando aqueles que já são considerados consagrados ou os que se distinguiram em festivais nos quais a sua presença foi notada e aplaudida, a verdade é que estes se vendem muito pouco. E a situação inversa – os autores brasileiros cá publicados – também não tem grandes resultados, mesmo que se trate de autores interessantes como Daniel Galera, João Paulo Cuenca, Bernardo de Carvalho, Paulo Lins ou Luiz Ruffato. Talvez as duas autoras que venceram o Prémio Literário José Saramago (Adriana Lisboa e Andréa del Fuego) tenham tido mais sorte; ainda assim, as suas obras não tiveram nem metade da exposição mediática que mereceram as dos seus congéneres portugueses (Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, José Luís Peixoto...). Não sei quando se deu a cisão, mas diz-me a minha mãe que, nos anos 1960, não era assim, e Jorge Amado era, de facto, tão amado lá como cá. Quando lemos os clássicos brasileiros, também não descortinamos qualquer diferença linguística em relação aos portugueses da mesma época – e aí pode ter residido o segredo do interesse mútuo ao longo de anos. Não será, pois, má ideia começar por aí e, nesse sentido, interessa dizer que a editora Glaciar, com a colaboração da Academia Brasileira de Letras, acaba de lançar em Portugal uma colecção de literatura brasileira de referência. Os primeiros quatro volumes dizem respeito à obra de Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto, Euclides da Cunha e Alfredo Bosi – numa edição luxuosa, mas indispensável a quem queira pôr-se em dia com o lado de lá.