[Maria do Rosário Pedreira]

Na geração do meu pai, as pessoas ainda faziam o liceu até ao fim com as disciplinas todas de letras e ciências, o que lhes permitia escolher qualquer curso que quisessem fazer, pois estavam habilitadas a quase todos; e foi talvez por isso que o meu pai foi para Engenharia, mas, percebendo que não tinha vocação nem jeito para desenhar, mudou no ano seguinte para Direito sem ter de fazer cadeiras suplementares. Do seu grupo de amigos dessa época, faziam parte, além do famoso poeta Alexandre O’Neill, o físico António Manuel Baptista que, apesar de ligado à ciência, também escrevia poemas e apreciava as letras. Foi, de resto, por causa deste homem de ciência que fui parar à edição, o que tem a sua graça. Ele era uma espécie de consultor da Gradiva, indicando livros de divulgação científica que achava deverem ser traduzidos em Portugal, e um dia o editor perguntou-lhe se não conhecia ninguém que pudesse ser assistente editorial. E ele recomendou o meu nome, mudando a minha vida. Tem graça que, mais tarde, também a filha mais nova, a Cristina Ovídio (hoje no Clube do Autor), seguiu a mesma área. Letras e ciências unidas.