[Maria do Rosário Pedreira]

A Unesco nomeou a belíssima Cracóvia «Cidade Literária», depois de o ter feito com Norwich e Edimburgo; e, junto à imponente praça do Mercado, foram colocadas as letras da expressão Cracóvia, Cidade da Literatura (em polaco, claro) para que os passantes pudessem divertir-se a com elas construir muitas outras palavras (e parece que algumas foram imediatamente desfeitas por não serem propriamente bonitas). Embora não associemos logo Cracóvia aos livros, a verdade é que ali decorrem anualmente dois festivais literários internacionais (o Festival Milosz e o Festival Conrad), uma feira do livro de grande dimensão e mais uma série de acontecimentos envolvendo escritores de todo o mundo, como Orhan Pamuk, Zadie Smith ou o poeta sírio Adonis, que foram visitas recentes. É também nesta cidade, e não na capital, que fica o Instituto do Livro da Polónia e dezenas de outros locais – igrejas, sinagogas, teatros, museus e cafés – que, durante todo o ano, albergam tertúlias, encontros de poetas, leituras e performances relacionadas com a literatura. Viveram ali os dois prémios Nobel que a Polónia recebeu, Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska, tendo esta última residido na que é hoje a Casa do Escritor, que foi inicialmente um refúgio para autores desalojados na sequência da destruição de Varsóvia pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Se Cracóvia já devia ser visitada antes, agora ainda apetece mais lá ir. E quem sabe um dia a Unesco não se lembra também de premiar uma cidade portuguesa com esta distinção.