[Maria do Rosário Pedreira]

Deram-me há uns anos um livro de arte belíssimo chamado As Mulheres Que Lêem São Perigosas, que reproduz uma imensidão de obras de pintura e escultura de todos os tempos em que mulheres estão a ler, actividade que as torna, pelos vistos, perigosas. Também existe um livro que foi um best-seller na altura em que foi lançado e esteve quarenta e cinco semanas nos top dos EUA – e traduzido em todo o mundo, incluindo Portugal – intitulado Ler Lolita em Teerão, de Azar Nafisi, que fala de um clube do livro clandestino organizado por uma ex-professora universitária, no qual ela e outras seis mulheres, suas ex-alunas, pressionadas a não meter o nariz nos livros ocidentais, passavam a obra de Nabokov e outras a pente fino para, afinal, descobrirem e combaterem a pouca liberdade que tinham no Irão. É assim com as mulheres, mas não são só elas quem sofre de falta de liberdade no que toca a leituras. Basta ver o que aconteceu recentemente em Angola, onde uma série de jovens foram presos apenas porque estavam a ler um livro e a debater o seu conteúdo, que era considerado perigoso pelo regime… Esse livro – Da Ditadura à Democracia, de Gene Sharp – acaba de sair em Portugal com a chancela da Tinta-da-China, e o autor, sabendo da história, abdicou dos direitos em favor dos detidos. Leia-o, mesmo que se torne perigoso…