Josias da Silva Brasil
Por Reginaldo Miranda Em: 27/11/2020, às 10H04
Reginaldo Miranda[1]
Era costume de Humberto de Campos, um dos mais populares escritores brasileiros da primeira metade do século passado, em sua intensa colaboração aos jornais cariocas, escrever sobre pessoas e coisas de seu tempo. Pois é inspirado nesse grande escritor maranhense que ocupamos o presente espaço para lembrar o nome de um homem cuja vida sempre achamos assemelhada à do próprio Humberto, desde ter nascido num Estado vizinho e ter vivido a meninice no Piauí, até a própria caminhada, sozinha desde as vizinhanças do berço e conquistando espaços a duras penas em terra alheia. É do poeta e contador Josias da Silva Brasil, nosso tio paterno, que estamos a tratar.
Filho do também poeta Joaquim José Mariano da Silva Brasil e de Antônia Maria da Conceição Marreiros de Santana, nasceu em 14 de março de 1927, no arraial de Santa Rita, Município de Casa Nova, extremo Noroeste da Bahia, divisa com o Piauí e Pernambuco. Porém, desde os quatro anos de idade que passou a morar no Piauí, considerando esse o seu Estado natal. Viera acompanhando o pai que era professor, radicando-se por alguns anos no povoado Pavussu, de Floriano, hoje cidade de mesmo nome, onde vivera a infância. Dali rumou para Jerumenha e depois para Bertolínia, sempre em companhia dos genitores. Mal completa a maioridade, perde o genitor em 1947, tendo que, na qualidade de primogênito, assumir as responsabilidades com a família, composta da mãe e de mais oito irmãos. Nesse tempo a convite do farmacêutico Raimundo Rocha, aceita promessa de emprego e transfere-se para a vizinha cidade de Floriano, empregando-se na “Farmácia Rocha”, de propriedade desse último, onde se demora por sete anos. Ainda em Floriano, por influência de Raimundo Rocha, que era integralista, participou de algumas campanhas eleitorais e chegou a filiar-se ao Partido de Representação Popular, de Plínio Salgado.
Porém, com poucos recursos e sentindo a falta de horizontes na vida florianense, por volta de 1954, transfere-se para Teresina, já como corretor de seguros. Na Capital piauiense, pôde prosseguir nos estudos cursando o curso Técnico em Contabilidade, no Colégio Diocesano S. Francisco de Sales. Nessa época casa-se, não tendo, porém, deixado filhos.
Em 1960, muda-se para Brasília, atendendo a convite de um irmão mais moço, Abdon Rodrigues da Silva, que era solteiro e ali residia. Empregou-se na empresa NOVACAP, mas logo exonerou-se para montar um escritório de Contabilidade, que tornou-se concorrido e lhe rendeu bons recursos até o início dos anos oitenta, proporcionando-lhe viver até então com relativo conforto. Era inscrito no CRC-DF sob n.º 1187. Nessa época cursou Direito na Universidade do Distrito Federal (AEUDF), não concluindo o curso por falta de tempo, uma vez que a atividade em seu escritório era intensa. Ainda, cursou em Goiânia cursos de curta duração em latim, grego e hebraico, entre outros.
Em 13 de maio de 1969, foi um dos fundadores da Igreja Evangélica “Cristãos em Marcha”, de que foi eleito em 2 de dezembro de 1971, Superintendente Nacional “com atribuições para intervir em qualquer parte onde haja discórdia, subversão e mau ou falta de cumprimento aos estatutos, tendo poderes de cassar mandatos e credenciais de obreiros, etc.”. Com esses poderes, de fato, em outubro de 1975, interviu na igreja situada na QNN 8, Conjunto F, Lote 42, de Ceilândia Norte, no Distrito Federal, exonerando seu ministro por desvio de conduta, em caso que ganhou grande repercussão[2].
Josias Brasil cultivou também o lado cultural. Era um leitor disciplinado, devorador de livros, assim como um poeta bastante inspirado. Compôs diversas poesias, publicando-as esparsamente em jornais do Distrito Federal, e também na revista “A Escola”, do MEC. Encontrava-se compilando-as para publicá-las em livro sob o título de “Novo Mundo”, cujos originais nos foram por ele apresentados, quando lhe visitamos em 1991, no Distrito Federal. Porém, adoecera gravemente, acelerando um estado amnésico que se manifestara desde algum tempo e vindo a falecer em 22 de maio de 1998, na cidade de Bertolínia (PI), para onde fora levado. Infelizmente, os originais desse livro desapareceram.
Fundou e dirigiu o Instituto de Ensino Helena Branca, sediado na cidade satélite de Ceilândia[3].
Falecia, portanto, aos setenta e um anos de idade, cansado, pobre e doente, porém, como dizia o velho Humberto, em comparação com muitos outros, sua caminhada foi mais longa, mais áspera, sem água e sem pão. E ao final da existência, tendo perdido o pouco conquistado, fez “como aqueles gregos antigos, que, cansados de peregrinar pelo mundo, sentavam-se, um dia, para morrer, à porta dos templos, oferecendo aos deuses, numa última bênção à vida, as suas sandálias, o seu cinto, e o seu bordão”. Assim faleceu mais um intelectual brasileiro.
(Texto publicado no livro Piauí em Foco)
[1] REGINALDO MIRANDA, advogado e escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Email: [email protected]
[2] Correio Brasiliense, 5.10.1975; 14.10.1975; 16.12.1988; 1/2/3.7.2010.
[3] Correio Brasiliense, 2.5.1972.