O ex-vice-presidente da República José Alencar morreu nesta terça (29), às 14h45, por falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político mineiro lutava contra um câncer na região do abdômen.
Na última das várias internações, Alencar estava desde segunda (28) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, com quadro de suboclusão intestinal.
O ex-vice-presidente lutava contra o câncer havia 13 anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou.
Após passar 33 dias internado – inclusive no Natal e no Ano Novo –, o ex-vice-presidente havia deixado o hospital no último dia 25 de janeiro para ser um dos homenageados no aniversário de São Paulo.
A internação tinha sido motivada pelas sucessivas hemorragias e pela necessidade de tratamento do câncer no abdômen. No dia 26 de janeiro, recebeu autorização da equipe médica do hospital para permanecer em casa. No entanto, acabou voltando ao hospital dias depois.
Durante o período de internação, Alencar manifestou desejo de ir a Brasília para a posse da presidente Dilma Rousseff. Momentos antes da cerimônia, cogitou deixar o hospital para ir até a capital federal a fim de descer a rampa do Palácio do Planalto com Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele desistiu após insistência da mulher, Mariza. Decidiu ficar, vestiu um terno e chamou os jornalistas para uma entrevista coletiva, na qual explicou por que não iria à posse e disse que sua missão estava “cumprida”. Na conversa com os jornalistas, voltou a dizer que não tinha medo da morte. “Se Deus quiser que eu morra, ele não precisa de câncer para isso. Se ele não quiser que eu vá agora, não há câncer que me leve”, disse.
No mesmo dia, ele recebeu a vista de Lula, que deixou Brasília logo após a posse de Dilma.
Internações
Os últimos meses de Alencar foram de internações sucessivas. Em 9 de fevereiro, ele foi hospitalizado devido a uma perfuração no intestino. O ex-vice-presidente já havia permanecido internado de 23 de novembro a 17 de dezembro para tratar uma obstrução intestinal decorrente dos tumores no abdômen. No dia 27 de novembro, foi submetido a uma cirurgia para retirada de parte do tumor e de parte do intestino delgado.
Alencar passou alguns dias na UTI Cardiológica e começou a fazer sessões de hemodiálise depois que os médicos detectaram piora da função renal. Em setembro de 2010, foi internado em razão de um edema agudo de pulmão. No dia 25 de outubro, voltou ao Sírio-Libanês ao apresentar um quadro de suboclusão intestinal. Dias após a internação, ainda no hospital, sofreu um infarto no fim da tarde do dia 11 de novembro. Foi submetido a cateterismo, “que não mostrou obstruções arteriais importantes”.
Batalha contra o câncer
O ex-vice-presidente travou uma longa batalha contra a doença. Nos últimos 13 anos, enfrentou uma série de operações e tratamentos médicos. Foram mais de 15 cirurgias. Em abril de 2010, desistiu da candidatura ao Senado para se dedicar ao tratamento do câncer.
Desde 1997, foram mais de dez cirurgias para retirada de tumores no rim, estômago e região do abdômen, próstata, além de uma cirurgia no coração, em 2005.
A maior delas, realizada em janeiro de 2009, durou quase 18 horas. Nove tumores foram retirados. Exames realizados alguns meses depois, no entanto, mostraram a recorrência da doença.
Também em 2009, iniciou em Houston, nos Estados Unidos, um tratamento experimental contra o câncer. Alencar obteve autorização para participar, como voluntário, dos testes com um novo medicamento no hospital MD Anderson, referência no tratamento contra a doença. O tratamento não surtiu o efeito esperado e o então vice-presidente voltou a fazer quimioterapia em São Paulo.
José Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixa três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.
Tratamento no exterior
O tratamento experimental nos EUA em 2009 não foi a primeira tentativa de Alencar de obter a cura fora do país. Ele já havia viajado para os Estados Unidos em 2006 para se tratar com especialistas. No ano seguinte, no entanto, os exames mostraram que o câncer havia se espalhado para o peritônio, uma membrana que reveste as paredes do abdômen.
Iniciava-se, então, a série de cirurgias na região. Em 2008, foram três internações. Em janeiro e em julho, exames mostraram uma reincidência de tumores abdominais. Em agosto, Alencar começou tratamento com um novo medicamento, a Trabectedina.
Com a saúde fragilizada, o ex-vice-presidente também foi internado por outros problemas. Em novembro de 2008, durante uma visita a Resende (RJ), teve fortes dores abdominais. O diagnóstico foi enterite (inflamação intestinal). Segundo os médicos, não havia relação com o câncer. Vinte dias depois, ele foi internado novamente, com quadro de insuficiência renal. Recebeu alta dois dias depois.
Sempre bem-humorado nas sucessivas vezes em que deixou o hospital Sírio-Libanês, chegava a brincar com seu próprio quadro clínico. "Estou melhor do que das outras vezes", repetia.
Após a maior das cirurgias, em 2009, Alencar saiu do hospital dizendo que não temia a morte. “Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho", afirmou. “Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”
Problemas de saúde ‘paralelos’
O ano de 2010 começaria com uma boa notícia para o então vice-presidente. O tumor que tratava vinha apresentando redução, segundo o hospital.
Alguns meses mais tarde, no entanto, ele começou a ter problemas de saúde “paralelos” ao câncer.
No início de maio, numa das idas ao hospital para a quimioterapia, apresentou pressão alta. Exames apontaram isquemia cardíaca e uma “obstrução grave” numa das artérias. Alencar então passou por um cateterismo e uma angioplastia e recebeu um “stent”, um mecanismo que “alarga” a artéria. No total, ficou nove dias internado.
No final do mesmo mês, queixando-se de fadiga, foi internado novamente. Após exames, o hospital constatou que ele estava anêmico e tinha um “quadro congestivo pulmonar”, consequência da quimioterapia. O tratamento, no entanto, continuava a dar resultados positivos, com a redução dos tumores.
No final de agosto, contraiu uma infecção, que foi tratada com antibióticos. Ele seria internado novamente poucos dias depois, no início de setembro, com o diagnóstico de edema agudo de pulmão. Foram mais seis dias no hospital".
(http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/ex-vice-presidente-jose-alencar-morre-aos-79-anos.html)
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PORTAL G1 / Globo:
"29/03/2011 15h54 - Atualizado em 29/03/2011 15h55
Relembre frases do ex-vice-presidente José Alencar
Em 2007: 'Os juros têm sido um dos entraves maiores ao crescimento'.
Em 2009: 'Não tenho medo da morte porque não sei o que é a morte'.
Leia abaixo frases selecionadas das entrevistas ou pronunciamentos do ex-vice-presidente José Alencar nos últimos anos. (Clique nos temas para ver o contexto em que foram ditas)
Juros (26/01/2007)
“Os juros, se fossem de mercado internacional, tudo bem. Só que eles são um despropósito perto do mercado internacional. O regime de juros no Brasil tem sido um dos entraves maiores ao crescimento, além de representar a razão maior do desequilíbrio orçamentário."
CPMF (20/11/07)
“O Brasil precisa dessa prorrogação [da CPMF], porque isso representa R$ 40 bilhões no Orçamento. Seria uma irresponsabilidade do governo se não lutasse pela aprovação porque ele não tem onde buscar esses recursos para tapar um rombo do Orçamento. Só poderia trazer problemas, levando a perder todo o esforço que resultou nesse crescimento sustentável a que nós estamos assistindo.”
CPMF (03/12/07)
"Nós todos somos contra esse imposto. Por quê? Porque esse imposto, de certa forma, é até uma excrescência. Porque ele não é nem imposto de consumo e nem imposto de renda. Então, ele é mais um tipo de tributo que foi posto de forma provisória e que está aí até hoje."
Dossiê sobre FHC (28/03/2008)
"Nós não investigamos o governo passado. Reiteramos que não foi feito dossiê. Não é possível, eu tenho certeza. Fizemos basicamente um banco de dados e fornecemos os dados para esse banco.”
Lula (01/04/08)
"Lula tem feito muito, muito, mas falta muito para fazer. Eu digo para vocês, eu sou um democrata, não aceitamos conversar sobre outra coisa que não seja democracia. O Lula deseja fazer o seu sucessor, mas eu digo para vocês que, se perguntar para os brasileiros o que os brasileiros desejam, é que o Lula fique por mais tempo no poder."
Operação Satiagraha (11/07/08)
“Eu posso dizer que o governo não só está tranquilo, como está aplaudindo a operação da Polícia Federal, porque fora da lei não há salvação e as pessoas têm que compreender isso.”
Morte (17/02/09)
"Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele.”
Saúde pública (30/03/09)
“Eu às vezes me sinto culpado porque há seis anos e três meses sou vice-presidente da República e não fiz nada [pela saúde]. É verdade que vice não manda nada, e, quando a causa é boa, pede. E pede com empenho.”
Fé (04/08/09)
“[...] É aquela história: seja feita a vontade de Deus em qualquer circunstância. Em qualquer lugar, em qualquer tempo, seja feita a vontade de Deus. Assim você se entrega às mãos de Deus e ganha coragem. Para enfrentar, isso provavelmente seja a principal razão.”
Dilma (21/12/09)
“Há uma característica na pessoa da ministra Dilma que deve ser observada: ela é uma mulher brava e nós precisamos sempre que à frente do governo esteja alguém com determinação, com seriedade, com competência. A Dilma possui tudo isso. Não é por acaso que o presidente Lula a escolheu como sua indicada. É porque ela merece, e o Brasil também merece que ela esteja à frente da República.”
Juros (27/04/2010)
“O Brasil pode perfeitamente crescer a uma taxa muito boa, de 5% ou 6% ao ano, sem inflação, independentemente de aumentar taxa de juros, mesmo porque as taxas de juros do Brasil são as mais elevadas do mundo. O Brasil hoje é um dos países do Primeiro Mundo e não tem mais sentido conviver com esse tipo de taxa de juros [com] que nós temos convivido.”
James Cameron (13/04/10)
"Se passar da conta, tem que dar um ‘pito’ nele." (ao criticar o cineasta James Cameron, diretor de “Avatar”, pelas críticas à construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu)
Sequestro (27/04/2010)
“Papai nos ensinava uma coisa muito importante. Papai ensinava que o desespero não ajuda. Então eu tive calma. Tudo bem, passou.” (sobre o golpe do falso sequestro do qual foi alvo no Rio de Janeiro. Ele não chegou a pagar o valor pedido pelo suposto sequestrador).
Otimismo (09/07/2010)
"A pressão agora está ótima. O doente mais são que já ficou neste hospital se chama José Alencar."
Reconhecimento de paternidade (04/08/2010)
'Os próprios tribunais falam, tem que ter indícios. Se fosse assim, todo mundo que foi à zona um dia pode ser [pai]. Não é possível. São milhões de casos de pessoas que foram à zona, só que grande parte desses casos não têm sido objeto de interesse nem político nem econômico. Agora, pelo fato de eu ter sido, vou me submeter a um DNA, que também não é 100%?' ".
(http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/03/relembre-frases-do-ex-vice-presidente-jose-alencar.html)