JOE BIDEN SABE SER PRUDENTE

CUNHA E SILVA FILHO

     Completaram  cem dias de guerra  contra a Ucrânia. O expansionismo  e a estupidez de Putin  não têm tamanho,  ou melhor,  é do tamanho dos  tiranos mais cruéis, do  tipo  Bashar-Al-Assad, de quem  é protetor incondicional  e  a  quem  envia  constantemente armas  mortíferas contra   os rebeldes, os  opositores.  Por outro lado,  os EUA, através de um  presidente  idoso, vai tentando  evitar  o Apocalipse,  já tantas vezes  proclamado por homens  sábios,  como  o sempre lembrado matemático, filósofo e pacifista  inglês,  Bertrand Russell.

      Os EUA  poderiam, sim,  peitar militarmente  a Rússia do  ditador   mascarado de presidente eterno. O resultado,  porém,  seria fatal à Humanidade. Por essa razão,  os americanos   empurram   quase  pela barriga,  tentando apenas amenizar  as fraquezas  bélicas dos ucranianos que já se veem  praticamente  derrotados na conflagração  desigual,   injusta, perversa.

Olhemos  para a capital  russa: toda ela intacta,  não tem um  prédio sequer   destruído, nem  um civil  morto. A velha Moscou  está, fisicamente,  a salvo das armas  mortíferas que  seus  soldados  arremessam em direção  a  pontos  determinados ucranianos  pelos seus generais, a mando do Czar pós-moderno e todo-poderoso, amigo, por seu  interesse e por imposição,  de riquíssimos   autocratas.   O próprio  Putin  é um  “imperador”  bastante   rico  e dono de imóveis  riquíssimos... Fala-se em máfia entre  os poderosos  soviéticos.    Humilhados e ofendidos. Do outro  lado, o da Rússia,  transeuntes caminhando à vontade, até, por vezes sorrindo,   como se nada  estivesse fora do lugar.  Cenas  plenas de antinomias  e  paradoxos, cenas surreais  opostas  à mera  realidade  do cotidiano russo e nublado.

Tudo, dentro da Rússia de Dostoiévski   está nos seus devidos lugares. Está incólume,  não sofre  destruição  brutalizada  incessantemente nas cidades e regiões ucranianos   que estão sendo  destroçadas. A beleza dos monumentos e prédios suntuosos  da velha  Moscou prossegue firme e sólida, O  rio Moscou  (ou  Mosocovo)  permanece atravessando  a cidade, majestoso e eterno.  Ao contrário,  do lado da Ucrânia,  reina a  matança de soldados e civis.Uma Guernica dos tempos  contemporâneos.  Na Ucrânia,  porém, a tragédiade  famílias inteiras  assassinadas, crianças,  jovens, adultos e idosos,  todos mortos, forçadamente  “dormindo  profundamente”,  como no  poema   de Manuel Bandeira.   Guerra e Paz. Sofrimento e normalidade, fumaça e  iluminação. 

Em outro plano,  o físico, as casas destruídas  os bombardeios   intermitentes,  os prédios derruídos, incluindo – que maldito! – hospitais,   infantis e habitações civis. As valas  para sepultarem anonimamente os  corpos de inocentes   são  largas  e  extensas. Os corpos  são lançados como se fossem  lixo. Isso não seria o suficiente para caracterizar  crimes de guerra e penalidades máximas dos responsáveis  na Corte de Haia?  

Cenas  aterrorizantes que nos lembram  as carnificinas  das duas Grandes Guerras e mesmo do Holcausto, de Nagazaki e Hiroxima, ou de Pearl Harbor, ou das guerra do Vietnã, entre outras  selvagerias  de tempos   belicosos,  passados e presentes, porquanto o mundo, em regiões diversas, da Ásia,  do Oriente Médio  e da África continua  em conflitos  intestinos.  

Os moradores ucranianos   sem  mais teto,  sem nada. Resta  o refúgio   a outros países  que os acolham,   ou permanecem sujeitos ao extermínio à medida  que os bombardeios   continuam    praticamente sem trégua.  Os organismos  internacionais,  como  o Conselho de Segurança da ONU apenas servem  como  paliativos,   procurando,   pelo menos,   a retórica diplomática. O mesmo diria  do Papa Francisco,   cujas palavras poderiam ter o peso  voltado  para  a busca da paz  e da  união entre as nações  conflagradas.  Pouco pode  com o  poder  divino   sem voz nem vez em tempos sem Deus.    quase sem efeto  algum  de decisões mais fortes.   Perderam  tudo. Alguns se refugiaram em países  vizinhos,  como a Polônia.  As cenas são tétricas. Desolação numa guerra que  podia ser evitada. 

Às vezes,  sinto que o presidente Zelenski foi  culpado por decidir   aliar-se à OTAN. Direito seu, penso  em segunda instância.Afinal,   a Ucrânia é um  país que tem a sua soberania e pode decidir  pelo seu destino  de aliar-se ao Ocidente, de não querer ser subserviente à Rússia. Mas, um  ponto   é crucial : os russos  não têm  o direito de invadir  um  outro país.  Qualquer leigo em  geopolítica   compreenderia   isso.  Mas,  não, as garras de Vladmir Putin  já o fizeram tomar, à força,  em   outras regiões,  por exemplo,  na Crimeia, anexando-a em 2014, e o fizeram em   outras regiões   vizinhas à Rússia e a esta  anexadas por invasão.  O seu, quer-me parecer,   objetivo  seria  um expansionismo que o levaria a reajuntar  todos os países  que pertenciam  à URSS. Quiçá, seja esse o seu  plano  imperialista  e beligerante.

Se, na vida cotidiana  de algumas cidades  do mundo dito  civilizado (sic!), inclusive, em escala  galopante,  em nosso  país,  já nos horrorizam  as nossas vistas   a crueldade  de assassínios  e massacres   com ações que nos igualam  a brutalidades animalescas    e à banalização   de vidas humanas,  imagine  o  fronts de guerras de superpotências.   

O presidente Biden,  um homem já muito experiente  e prudente, visivelmente  quer  evitar   o mal maior entre os EUA e a Rússia. Vai tentando  suavizar  os conflitos, sem  usar da força  letal em âmbito  mundial,  planetário. Por isso,  as sanções econômicas  são  necessárias. Por isso,  a OTAN  não aumenta o tom   de reação  aos desmandos  do  ditador Putin.  Certamente, a Europa não suportaria mais guerras em proporções  gigantescas  e  de extermínio das civilizações.   As negociações, a meu ver,    ainda cabem,   a despeito da carnificina  praticada  contra a  Ucrânia. Penso, agora,  que  nesse país,  em grande parte  destroçado,  já me dá a sensação de que  tudo  já se perdeu: sua infrastrutura,    sua administração,     suas  instituições,   o seu  sistema de governo.  Já se está  tornando  um  pátria   sem as características   de um  país  constituído  como Estado   independente  onde  a vida  institucional    funciona.