Os defensores da lenda de que Cristo (Kirisuto) morreu no Japão proclamaram a descoberta do túmulo dele em Shingo, na província de Aomori, nos anos de 1930. Neste local, a associação de turismo da cidade realiza um festival de bon odori (dança foclórica japonesa), sem caráter religioso, há mais de 40 anos.
O povoado de Shingo fica numa região montanhosa recoberta de bosques, arrozais e plantações de macieiras, a seis horas de carro de Tóquio. Conhecida por seu sorvete de alho, Shingo não parece um local provável para ser sede do descanso eterno do messias cristão.
Na versão bíblica, Jesus Cristo foi crucificado no Calvário e, três dias depois, renasceu dos mortos para redimir a humanidade de seus pecados. Segundo a lenda vigente em Shingo, quem morreu na cruz foi seu irmão Isukuri. Cristo teria escapado dos romanos, atravessado a Ásia a pé, carregando a orelha decepada de seu irmão e um cacho dos cabelos da Virgem Maria e passado o resto de sua vida no exílio, nesta região nevada e isolada do norte do Japão.
Teria se casado com uma japonesa chamada Miyuko, se tornado pai de três filhas e morrido aos 106 anos. Duas cruzes de madeira no povoado marcam os túmulos dos irmãos da Galiléia, e um museu procura provar que o homem que conhecemos como Jesus era chamado na região de Daitenku Taro Jurai, um plantador de alho.
Pode ser difícil imaginar que um homem calçando sandálias tenha conseguido sair do Oriente Médio e atravessar a Sibéria, passando por Vladivostok, para chegar a esse cantinho do mundo, mas os moradores de Shingo dizem que Cristo já tinha prática de longas caminhadas.
Uma placa ao lado do túmulo diz: “Quando Cristo tinha 21 anos, Ele veio ao Japão para passar 12 anos em busca de conhecimentos de divindade”. Após mais de uma década de estudos em algum lugar perto do monte Fuji, fluente no japonês, Ele teria retornado à Judéia, aos 33 anos. Ali, porém, seus ensinamentos teriam sido rejeitados, e ele teria sido preso. Seu irmão teria tomado seu lugar na cruz, e Daitenku teria iniciado a caminhada de 16 mil quilômetros de volta à terra onde estudara.
Os argumentos em favor do Jesus japonês são apresentados no museu de Shingo, enriquecidos pelos mitos locais. O museu diz que o nome antigo do povoado, Herai, soa mais hebraico do que japonês e observa semelhanças entre a cultura local e as canções e línguas do Oriente Médio, incluindo o caso de um mantra que é entoado há gerações em Shingo e que, segundo o museu, não tem semelhança com a língua japonesa e talvez seja uma antiga charada hebraico-egípcia.
Moradores de Shingo dizem que os bebês recém-nascidos costumavam ser envoltos em roupas bordadas com a estrela de Davi.
Os documentos, que teriam sido escritos em japonês arcaico, foram descobertos em mãos de um sacerdote xintoísta perto de Tóquio, em 1935, e foram saudados como o último testamento de Cristo, ditado quando ele estava às portas da morte, no povoado. Os originais foram destruídos durante a guerra, mas uma cópia do pergaminho pode ser vista dentro de um armário de vidro no museu, para onde foi levada por um historiador nacionalista japonês.
Fonte: Folha Mundo / David McNeill (Independent)"