[Maria do Rosário Pedreira]

Perguntam-me frequentemente quando escrevo um livro sobre a minha experiência como editora e conto as pequenas histórias e os episódios menos felizes relacionados com autores que publiquei (e não publiquei). Digo sempre que essas coisas por que algumas pessoas salivam realmente devem permanecer no segredo dos deuses. João Tordo, no seu livro Manual de Sobrevivência de Um Escritor, quando fala de edição, conta, por exemplo, que foi o seu editor na altura quem insistiu em que mudasse o título do seu livro que venceu o Prémio José Saramago. Que ele o diga é bonito; já se fosse o editor a dizê-lo por ele seria, quanto a mim, bastante feio. Num grupo sobre edição criado no Facebook, Rui Beja, que foi presidente do Círculo de Leitores ao longo de muitos anos e se tem especializado em questões editoriais e escrito sobre elas, partilhou um artigo muito interessante de uma revista espanhola sobre como são (quando são) recordados os editores (no caso, por causa da morte prematura do grande editor López Lamadrid aos 59 anos). E foi nele que encontrei o melhor parágrafo sobre a minha espécie. Aqui vai ele (a tradução, livre, é minha):

«Os editores nunca foram personagens públicas; se por acaso se tornam conhecidos, é apenas dentro dos círculos literários, que são sempre pequenos e fechados. Mas a sua importância reside, em parte, justamente nessa invisibilidade. Porque teria alguém de conhecer a vida do tutor, do treinador, do professor ou do editor se pode ter acesso ao artista, ao atleta, ao pensador ou ao autor? A sua figura é naturalmente secundária. Não pode haver duas pessoas no mesmo lugar: o livro que chega ao público não pode estar assinado por mais de uma pessoa.»

Obrigada, Jacobo Zanella, por pensar e exprimir tão bem o que sinto.