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 [Clarice Oliveira]

A chuva caía fina e abundante no quintal.
Os jabutís, estranhamente, saíram de sua toca e passeavam alegres na chuva, que deixava seus cascos brilhantes, como, se tivessem sido envernizados.
As "orelhas de pau" no tronco da mangueira eram como rochas de cachoeira, quando a água tomba sobre degraus nas cascatas.
Eu olhava o portão que conduzia a uma passarela pelo meio do jardim, e me perguntava sobre o mistério do templo na Índia: ele, o Templo, estava tão longe... chuvas intermináveis despencavam sobre o Sul da Índia, nas Monções.
Mas... nem a chuva da Índia, nem a chuva do Brasil, definiam a razão do Mistério do Templo – porque o Templo estava aqui em casa, no jardim, na ausência do Oratório de jacarandá e ágatas, que minha mãe vendeu antes de morrer.
A porta do Templo, como na Índia, estava aberta dia e noite, como duas passagens intermináveis entre o Tempo e o Espaço, entre minha alma e meu corpo, meu sofrimento e minha eterna esperança para um dia eu me recolher entre os braços do Mestre que não cesso de esperar.
A fusão com a recepção amorosa do Mestre, para os devotos do deus Krishna,  é uma segunda vida para a alma que confia e crê.
Uma segunda vida é uma segunda estrada e isso é uma porta aberta para a Eternidade, porque, a Alma se mantém por uma pergunta:
– Ainda me amas?