Índios mura, os guardiães do caminho fluvial
 

Enquanto Henrique João Wilkens celebrou, em poema épico, a conversão da "gentilidade mura" ao cristianismo do Ocidente, Ulysses Bittencourt ressaltou, em artigo jornalístico, o passado altaneiro dos célebres índios mura. 

 

 

[jauary-autaz+2.jpg] 

  

"Mulher Mura da aldeia do Jauary - Autaz fotografada por Nimuendajú
possivelmente entre 1923 e 1927
"

(http://renatoathias.blogspot.com/2007_06_17_archive.html)

 

 

 

 

 

 

 

   

PROFª DRª MARIA PANKARARU

(Maria das Dores de Oliveira Pankararu, doutora em

Linguística pela Universidade Federal de Alagoas)

Foto: Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem

(Fototografia em http://nicufpe.zip.net/arch2006-04-16_2006-04-22.html,

com a seguinte legenda - que logo ficou desatualizada -, de

abril de 2006 [ELA TORNOU-SE PROFESSORA DOUTORA

HÁ MAIS DE TRÊS ANOS]:

"Maria Pankararu, na foto com um colar de sua tribo, defenderá tese de doutorado no Dia do Índio")

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

(Imagem da capa do volante dobrável (folder) que era distribuído, na porta dos cinemas

onde se exibia o clássico documentário NO PAÍS DAS AMAZONAS [há sequências

filmadas no Baixo Rio Purus, nas quais alguns caboclos de ascendência mura,

dos lagos do Ayapuá e do Piraiauara, praticam a pesca do pirarucu e do peixe-boi,

mamífero aquático que, em 1921, não estava em perigo de extinção], pelo fotógrafo

e cinegrafista Silvino Santos (a caráter: com uniforme do tipo "safari" e chapéu de

"caçador africano")], nas exibições em cidades nas quais o artista pioneiro se encontrava;

o filme foi por ele fotografado e co-dirigido, sendo o outro diretor Agesilau Araujo (filho

do patrocinador da película, J. G. Araújo), de acordo com dados divulgados por Guilherme 

Schermuly Santos e Lília Schermuly Santos (filhos de Silvino Santos), Ivens Lima, Márcio

Souza (escreveu um volumoso livro sobre Silvino Santos, no qual todos os intertítulos estão

reproduzidos, assim como centenas de fotogramas de No país das amazonas), Joaquim 

Marinho, Normandy Litaif, José Gaspar, Carlos Rangel, Miriam Alencar, Roberto Kahané,

Domingos Demasi Filho, Paulo Sérgio Muniz, Flávio A. L. Bittencourt, Maria Lúcia Santaella

Braga (um artigo sobre elementos estético-formais da fotografia fixa de Silvino Santos, por

ocasião do centenário de nascimento do pioneiro, publicado em A Crítica, de Manaus), Selda 

Vale da Costa, Narciso Lobo (S. V. Costa  e N. Lobo estabeleceram a co-autoria de Agesilau

Araújo, em livro), Ulysses Bittencourt (dois artigos de pesquisa sobre programações de

exibições fílmicas, em A Crítica), Aurélio Michiles (longa-metragem com os atores José de

Abreu e Denise Fraga, lançado em 1997), entre outros pesquisadores que escreveram ou

filmaram a respeito da arte do pioneiro Silvino Santos,

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100018,

folder localizado, em 1981, em Manaus, pela Profª Drª S. V. Costa, da Universidade Federal

do Amazonas)

 

Etnia Mura é tema de documentários lançados no Amazonas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UMA SENHORA DA ETNIA MURA DA ATUALIDADE

(Sem a legenda que acima se lê, a foto está, na Web, em: http://www.noticiasdaamazonia.com.br/5450-etnia-mura-e-tema-de-documentarios-lancados-no-amazonas/)

 

 

                              

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIGNIDADE FEMININA DIANTE DE PRETENDENTES PODEROSOS: A (ENTÃO SRTA.) POCAHONTAS; DE FORMA SEMELHANTE, devidamente consideradas as diferenças contextuais [Chica da Silva havia sido comprada pelo contratador de diamantes João Fernandes], A SRA. FRANCISCA DA SILVA DE OLIVEIRA, NO BRASIL, NÃO TERÁ SIDO MUITO FACILMENTE CONQUISTADA, PELO CONTRÁRIO!

(Só o desenho da animação de longa-metragem dos Estúdios Disney, sem a legenda acima redigida, está, na Web, em: http://www.freewebs.com/thedisneyclassics/animatedclassics.htm)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"(As atrizes) Taís Araújo e Zezé Motta" (FOTO DE CENA: TELENOVELA XICA DA SILVA, TV MANCHETE

(Autor: Walcyr Carrasco, sob o pseudônimo de Adamo Angel, exibida de 17.9.1996 a 11.8.1997, reprisada no SBT entre 28.3.2005 e 9.12.2005, dirigida por Walter Avancini)

(Foto: http://oglobo.globo.com/cultura/kogut/nostalgia/default.asp?a=294&periodo=200811;

os dados sobre a telenovela estão no verbete 'Xica da Silva (telenovela)', da Wikipédia)

VEJA TAMBÉM, desta Coluna, sobre CHICA DA SILVA, CHICO REI E PAI AMBRÓSIO:

http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/chica-da-silva-de-oliveira-chico-rei-e-dois-quilombos-do-pai-ambrosio,236,3017.html

 

 

      

NOVEMBRO DE 2009: UMA CABOCLA DO AMAZONAS - talvez de ascendência mura - VENCE O CONCURSO MISS TERRA, NAS FILIPINAS, DEIXANDO PARA TRÁS OUTRAS 80 CANDIDATAS DO MUNDO INTEIRO: Srta. Larissa Ramos, de Manaus, capital do Estado do Amazonas

(Só a foto, sem a legenda acima conferida: http://belezasergipana.blogspot.com/2009/11/brasileira-larissa-ramos-e-coroada-miss.html)

 

"(O texto "Mura, guardiães do caminho fluvial", de E. S. S. Pequeno) refere-se ao grupo indígena Mura, habitantes da região amazônica, especialmente as bacias do Solimões, Amazonas e Madeira. Conhecidos na etnografia colonial como os 'corsários do caminho fluvial' e muito temidos, principalmente no decorrer dos séculos XVIII a XIX, foram alvo de uma tentativa frustrada em deflagrar uma guerra de extermínio, parte de sua evolução histórica" .

                     (ELIANE DA SILVA SOUZA PEQUENO, Resumo de "Mura, guardiães do caminho fluvial", Revista de Estudos e Pesquisas, FUNAI, Brasília, vl.3, n.1/2, p.133-155, jul./dez. 2006) 

"Precisamos falar bem mais daquilo que, depois de outros, denomino holocausto amazônico, relativamente aos mura - os GUARDIÃES DO CAMINHO FLUVIAL, de acordo com E. S. S. Pequeno -, dos quais não apenas descendo, mas gostaria de merecer a honra de ser considerado, se de tanta dignidade não fosse por eles próprios excluído, como um deles (ou como um dos nossos, na auspiciosa e desejada hipótese positiva dessa inclusão social)".

                      (O RESPONSÁVEL POR ESTE ESPAÇO DO ENTRE-TEXTOS, AGORA HÁ POUCO, NO CAMINHO AO TRABALHO)

"(...) Vem à baila o filme No país da Amazonas, rodado por Silvino Santos em 1921. Nunca se fez tão intensa e extensa propaganda em prol da terra tantas vezes infamada (...)".

                        (AGNELLO BITTENCOURT, verbete "J. G. Araújo", contido no Dicionário Amazonense de Biografias: vultos do passado, Rio de Janeiro: Conquista, 1973; artigo originalmente publicado no Jornal do Comércio, de Manaus)

"(...) Lembro também de um episódio curioso, quando passamos no Aiapuá mais de um ano ininterrupto, em 1922/23: certo dia uma índia procurou minha mãe [Profª Zulmira Bittencourt] e ofereceu-lhe ovos de galinha por preço muito inferior ao corrente. Julgando tratar-se de ignorância, minha mãe alertou-a a respeito, mas a índia, rindo com seu jeito malicioso, declarou com toda a franqueza saber do fato e assim fazer porque, além de ficar amiga, receberia melhores recompensas, o que realmente aconteceu; levou o preço pedido e mais uma infinidade de pequenas coisas... (...)"

                       (ULYSSES BITTENCOURT, Raiz (1985), artigo publicado originalmente no jornal A Crítica, de Manaus, 20.11.1983)

 

ESTÓRIA VERÍDICA QUE CONTO E RECONTO EU:

esse diálogo teve lugar em Manaus, nas minhas férias de dezembro de 2007 [A prima Maria José sempre morou no interior; diálogo reproduzido de memória, mas se aproxima daquele que foi efetivamente travado, na ocasião]
 
Este colunista: “- Sempre penso, minha prima, numa outra conquista do desbravador do Ayapuá. Acho que a outra conquista dele foi mais sensacional ainda, porque foi amorosa”.
 
Maria José Faria de Mello (então com 84 anos), neta do deputado estadual Lourenço Mello (1854 – 1905) e de Dª Felicidade Robert Nicolau de Mello [senhora que, em 1921, franqueou a região do Ayapuá às filmagens de NO PAÍS DAS AMAZONAS, quando já era viúva de Lourenço Mello]: “- Sei”.
 
Eu: “- Tem um desenho animado famoso, dos Estúdios Disney; o nome do filme é Pocahontas; nesse filme, você sabe, um cara que veio da Europa consegue conquistar uma índia bonita da América do Norte. Bem, não deve ter sido muito fácil o meu tataravô Manoel [vindo do Estado de Pernambuco, este era mestiço afrodescendente] conquistar logo a filha do cacique, que era a nossa vovó mura”.
 
Ela, de pronto: “- E quem disse que tu não és índio?
 
[DISCIPLINADAMENTE REFORMULANDO, ENTÃO, MINHA PRIMEIRA HIPÓTESE: “Não deve ter sido difícil para minha tataravó mura conquistar seu futuro marido, o Cap. Manoel Nicolau de Mello”.]

  

 

                                         Ao meu avô Agnello Bittencourt, reverenciando a sua memória,

                                          e a nós próprios [da família Mello, do Amazonas], os índios mura

                                          do Rio Purus e seus descendentes (considerada certa mistura

                                          caucasianodescendente, quem sabe semita, africana com certeza

                                          e talvez até moura, no que se refere à minha circunstância pessoal). 

 

27.1.2010 - Ontem foi aqui foi publicada a resenha de Waldemar Batista de Salles sobre o livro Raiz, de Ulysses Bittencourt, coletânea que contém artigo com um dos mais belos trechos da literatura brasileira sobre o passado mítico dos índios do Rio Purus - Como cronista de jornal que foi, Ulysses Bittencourt (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ulysses_Bittencourt) - autor dos livros Raiz e Patiguá - muitas vezes tratou de assuntos considerados triviais (por exemplo: a questão do aumento do custo de vida no país; as ações nocivas de administradores que, em Manaus, há algumas décadas, mandaram derrubar muitas árvores que ofereciam sombra amiga; o banditismo que houve no Paraná [Ulysses Bittencourt foi prefeito de Guarapuava na época em que Manoel Ribas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Ribas) dominava a política paranaense], na segunda metade dos anos 1930 etc.). Entretanto, quando o citado jornalista resolveu escrever, nos anos 80, sobre os índios mura (*) do Lago do Ayapuá [na atualidade, região do município de Beruri, Estado do Amazonas], um dos mais belos períodos jamais redigidos sobre o passado glorioso dos índios do Baixo Purus veio a lume, em crônica publicada no jornal A Crítica, depois transcrita na referida colêtanea, de 1985 (Raiz). O problema é que o pai de Ulysses, Agnello Bittencourt (http://pt.wikipedia.org/wiki/Agnello_Bittencourt), já havia escrito - também de forma soberba - em jornal de Manaus, um singular artigo que, por sua vez, mereceu republicação noutro livro-coletânea (Mosaicos do Amazonas). Falando francamente, esse fato fez aumentar a responsabilidade do autor mais recente, Ulysses, filho do mestre Agnello.

Posso estar enganado, trata-se esta de apenas uma hipótese preliminar [já que entendo que o parágrafo (de final de artigo) adiante transcrito merece investigações literário-etnológicas mais profundas, futuras, dada a sua importância no que tange a seus possíveis desdobramentos práticos (político-histórico-ideológicos, em verdade: desdobramentos esses vinculados ao possível orgulho de se pertencer - como ocorre, no caso do colunista que neste momento se dirige a seus gentis leitores - a um grupo que familiarmente descende de indígenas de nobre tradição étnico-guerreira mura)]: o trecho a seguir transcrito, de Ulysses Bittencourt, não teria sido, talvez, tão literário-poeticamente trabalhado - refiro-me à prosa poética, evidentemente - se o próprio genitor do cronista (que, como se sabe, por sua vez, caracterizava-se por apresentar um estilo magistral, quando escrevia) não tivesse, anteriormente, como acima foi lembrado, escrito sobre os mura do Ayapuá. Cabe o registro, enquanto não se comenta o relato - segundo Márcio Souza, genocida - do poeta português Henrique João Wilkens, como oportunamente aqui se fará.

Passo ao final do artigo de U. Bittencourt:

"(...) Com a crise econômica do declínio do valor da borracha (pois na região [do Ayapuá, onde há uma quantidade bem maior de castanhais] há, também, seringais), foram suprimidas a Sub-Delegacia de Polícia (...), as duas escolas existentes e as subvenções oficiais para os navios de linha para o Lago e, com isso, os moradores dali se foram transferindo gradativamente para Manaus, onde vieram aumentar o número de bairros populares. Um dos hábitos antigos era o de mandar para a Capital as filhas moças, confiadas a famílias respeitáveis, para, no serviço caseiro, aprenderem utilidades domésticas. Aprendiam a ler e escrever, tornavam-se muitas vezes amigas de toda a confiança, cuidavam das crianças, várias casaram com bom enxoval e a amizade dos patrões, aos quais poderiam sempre recorrer como fonte de conselhos e proteção. Algumas serviram de amas-de-leite e acompanharam duas ou mais gerações de uma casa.

Hoje, no Aiapuá, e quiçá em todo o Amazonas, há caboclos autênticos, descendentes às vezes imediatos de tribos destacadas, mas os muras, propriamente, constituem apenas o eco de um passado altaneiro". (ULYSSES BITTENCOURT, o grifo é da Coluna "Recontando..."). Flávio A. L. Bittencourt ([email protected]

(*) - A. Bittencourt, pai de Ulysses, não foi o primeiro a dedicadamente escrever sobre os índios mura: uma das primeiras obras do Extremo Norte do Brasil foi exatamente sobre os mura, como se constata na leitura, por exemplo, de um trecho da nota-de-rodapé nº 39 (p. 52), da dissertação de mestrado intitulada Amazônia no Cinema Paraense: tensões entre o global e o local, cuja orientação ficou a cargo da Profª Drª Lindinalda Silva Oliveira Rubim.  Autor da dissertação: Alexandre Sócrates Araujo de Almeida Lins; mestrado em Cultura e Sociedade, Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007: "(...) As letras amazônicas (...) tiveram início na segunda metade do século XVIII, com as obras poéticas do português Henrique João Wilkens, e do paraense, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1764-1811). Ambos viviam na cidade de Barcelos [Estado do Amazonas] (...)" (p. 52). A. S. A. A. Lins refere-se, quando menciona H. J. Wilkens, à obra poética A conversão e reconciliação do gentio-muhra (A Murhaida). A dissertação pode ser lida em: http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1030.

 

CRIANÇAS MURA, em fotografia que ilustra estudo ("Mura") da antropóloga Marta Amoroso [A BIBLIOGRAFIA DESSE TEXTO ESTÁ ADIANTE, DEPOIS DE ARTIGOS REPRODUZIDOS]

(http://pib.socioambiental.org/pt/povo/mura/print)

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"Etnia Mura é tema de documentários lançados no Amazonas

Enviada em 21 de outubro de 2008

Os cinco documentários contam a história da etnia que se dispersou pelo estado do Amazonas em aproximadamente 11 municípios

Etnia Mura é tema de documentários lançados no AmazonasA memória da etnia indígena Mura é tema dos cinco dos documentários que serão lançados no sábado, 25, na aldeia Murutinga; no domingo, 26, na aldeia São Félix, e na segunda-feira, 27, no centro do município de Autazes, no Amazonas. Os trabalhos, dirigidos pelo documentarista Raoni Valle e também e pela Organização dos Professores Indígenas Mura (OPIM), fazem parte do projeto cultural “Documentação Audiovisual e Recuperação do Patrimônio Imaterial dos Pajés e Pearas Mura, AM, Brasil”, patrocinado pela Petrobrás com incentivo do Ministério da Cultura e com a parceria do INPA-Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, através do Núcleo de Pesquisas em Ciências Humanas e Sociais.

A memória social e a história oral da etnia indígena Mura, dispersa pelo estado do Amazonas em aproximadamente 11 municípios, foi o foco principal dos filmes. A etnia  está hoje bastante fragmentada e difusamente distribuída nas lembranças, discursos, práticas e crenças de velhas ceramistas, rezadeiras, parteiras, tuxauas e benzedores.

Desde a Constituição de 1988 vem sendo desencadeado um processo de revalorização da identidade indígena, ressignificação e redescoberta do passado. Nos Mura esse processo levou à organização política de suas lideranças e ao delineamento do projeto político-pedagógico diferenciado dos professores indígenas, bastante intenso nas aldeias do município de Autazes, no baixo rio Madeira, AM (120 km de Manaus).

Etnia Mura é tema de documentários lançados no AmazonasValorização da cultura indígena

De acordo com Raoni, um dos pontos centrais do projeto foi a revalorização do passado e a preocupação com a documentação da história oral e da memória social de certos personagens portadores de um conhecimento diferenciado sobre esse passado, contadores de histórias por excelência, matizados nas figuras dos anciães em geral, entre os Mura chamados de Pearas sendo alguns também Pajés.

Basicamente, os filmes compõem quatro linhas temáticas definidas pelos professores indígenas a partir dos eixos mais explícitos dentro do acervo documentado, o que resultou em cinco documentários diferentes, são eles:

1-A Pajelança Mura (duração aprox. 55 min): “A Pajelança Mura”, trata-se da reunião de material produzido a partir de entrevistas com 10 pajés da etnia Mura que apresentam de diversas maneiras, o cotidiano dos Pajés, curadores, rezadores, parteiras, benzedores. Suas práticas e crenças.

2–Gíria e Língua Geral (duração aprox. 40 min.): “Gíria e Língua Geral” apresenta uma compilação de todas as referências à língua indígena que emergiram nos depoimentos. Dois personagens se destacam dona Francisca do Pantaleão e seu Barão do Guapenú, por apresentarem longas seqüências faladas em dialetos de Língua Geral e Tupi, depois traduzidas para o Português.

3–Memória, História e Meio Ambiente (duração aprox. 55 min): “Memória, História e Meio Ambiente” reúne mais de 40 depoentes, entre pajés, lideranças, pearas e pessoas comuns legitimados nas aldeias como contadores de estórias e de Histórias. Trata-se de um panorama geral de elementos diversos constituintes da memória social e história oral dos Mura.

4–Visagens, Misuras e Encantados (duração aprox. 50 min): “Visagens, Misuras e Encantados” é o mundo fantástico no imaginário étnico e popular. A expressão da cultura do fantástico no universo mítico, religioso e extraordinário dos Mura e do caboclo amazônico em geral.

5–Dirijo(duração aproximada 12 minutos): “Dirijo” – 12 minutos de duração traça um panorama do antigo e extinto uso de Cannabis Sativa entre os anciães Mura de outrora, quando os velhos que hoje nos falam eram apenas curumins. Uma ilustração da passagem do tempo, das mudanças dos costumes e das relações sócio-ambientais.

Produção

Para realizar a produção dos documentários as equipes percorreram, entre agosto e setembro de 2007, 10 aldeias onde colheram depoimentos de 60 pessoas com idades entre 62 e 101 anos, totalizando aproximadamente 100 horas gravadas em três câmeras. Além desse material obtido na expedição principal, outras 6 expedições curtas de reconhecimento e pré-produção transcorridas entre junho e agosto de 2007 foram dirigidas para 7 aldeias das 10 totalizadas.

Desde o primeiro momento os professores indígenas integraram a equipe técnica do projeto, eram os articuladores, produtores de campo e condutores da estratégia de abordagem e da linha discursiva adotada nas entrevistas, bem como em alguns momentos operadores de câmera.  “Objetivávamos garantir o máximo da ingerência deles na elaboração desse material dentro da concepção do projeto que, de fato, os via como diretores de campo”, explica Raoni.

Para raoni, no caso deste projeto, e do que foi feito em campo, há um diferencial fundamental que, embora adotando alguns procedimentos da antropologia visual, não objetiva a elaboração de um filme de exploração ou de divulgação, mas sim de material didático audiovisual para os próprios índios, em suas próprias escolas. “Talvez algo que poderíamos apelidar de um “filme de resistência”, afirma.

Além do lançamento dos documentários, no sábado, 25, será lançado o site do projeto: www.opin.com.br.

Os Mura

De acordo com a pesquisa realizada para produção dos documentários, os Mura são assinalados na historiografia colonial na primeira metade do século XVIII como índios contatados pelas frentes missionárias jesuíticas na margem esquerda (oeste) do rio Madeira. Sendo um dos primeiros registros oficiais feito pelo Jesuíta Bartolomeu Rodrigues em 1714 (Menéndez in Da Cunha, 1996), já na segunda metade do mesmo século aparecem na historiografia como arredios e resistentes às frentes de expansão econômica da colônia que navegavam o rio Madeira na conexão entre as regiões Centro-Oeste e Norte. São descritos por diversas fontes como índios de corso, adeptos da pirataria, da pilhagem e da guerra por escaramuças e emboscadas (Amoroso in Da Cunha, 1996).

Frearam, de certa forma, o empreendimento colonial por quase 100 anos, até uma suposta rendição em massa da etnia entre 1784 e 1786 (Nimuendajú, 1925), porém reaparecendo na Cabanagem (Moreira Neto, 1988), como uma das alavancas motrizes do turbilhão revoltoso, em ebulição até os anos de 1836-1840.  Desarticulam-se nesse interlúdio para serem redescobertos e “loteados” pelo SPI nas primeiras décadas do século XX.

Notícias da Amazônia (com informações assessoria)" (http://www.noticiasdaamazonia.com.br/5450-etnia-mura-e-tema-de-documentarios-lancados-no-amazonas/)

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BIBLIOGRAFIA DO ESTUDO (CITADO ACIMA, NA LEGENDA DA FOTO NA QUAL APARECEM QUATRO CRIANÇAS MURA), DA PROFª MARTA ROSA AMOROSO 

ATENÇÃO, POR FAVOR: NO ANTEPENÚLTIMO TÍTULO DA RELAÇÃO BIBLIOGRAFICA QUE SE SEGUE FICA EVIDENTE QUE OS MURA ERAM CHAMADOS, NA ÉPOCA DAS MATANÇAS DE QUE FORAM VÍTIMAS, DE OS ABOMINÁVEIS MURA

  • "AMOROSO, Marta Rosa. 1991. Guerra Mura no Século XVIII: Versos e Versões. Representações dos Mura no Imaginário Colonial. Campinas: UNICAMP. (Dissertação de Mestrado)

--------. 1992. “Corsários no caminho fluvial: os Mura do rio Madeira”. In: CARNEIRO DA CUNHA, M (Org.). 1992. História dos Índios no Brasil. São Paulo: FAPESP/SMC/Cia. das Letras.  
--------. 1995. “Muhuraida: o Terceiro Épico do Arcadismo”. In: Jornal de Resenhas, Folha de São Paulo (6/11).
--------. 1998. “Território do Medo: Notas sobre a Utilização da Crônica Setecentista como Fonte da Etnografia Mura”. In: NIENMEYER, A. & PIETRAFESA DE GODOI, Emília (Orgs.). 1998. Para além dos territórios. Para um diálogo entre etnologia indígena, os estudos rurais e os estudos urbanos. Campinas: Mercado de Letras/PPGAS-UNICAMP.
--------. 2001. (Coord.). Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Cunhã-Sapucaia. Brasília: CGID-FUNAI.

  • ANÔNIMO. [s/d.]. "Ilustração Necessária e Interessante, Relativa ao Gentio da Nação Mura, Habitador dos Rios Madeira, Trombeta, Guatazes, Cadajazes, Purus, Mamia, Coari, Paruá e Copaca, aa Capitania do Rio Negro". In: MOREIRA NETO, Carlos A. 1988. Índios da Amazônia: Da Maioria a Minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes 1988. 12 p.
     
  • ANÔNIMO. 1984. "Notícia da Voluntária Redução de Paz da Feroz Nação do Gentio Mura. 1784, 1785 e 1786". In: Boletim CEDEAM, v.3, nº 5. Manaus: UFAM.
     
  • ARAÚJO AMAZONAS, Lourenço da Silva. 1852 Diccionário Topográfico, Histórico e Descriptivo da Comarca do Alto Amazonas. Recife: Typografia Comercial Meira Rodrigues.
     
  • BATES, Henry Walter. 1979. Um Naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP.
     
  • DIAS, Leonardo Guimarães Vaz. 2004. Gentios de Corso: Os Mura no processo de conquista e colonização do Norte da América Portuguesa. Niterói: UFF. (Dissertação de Mestrado)
  • EVERETT, Daniel. 1978. Aspectos da Fonologia Pirahã. Campinas: IEL-UNICAMP. (Dissertação de Mestrado)

--------. 1983. A língua Pirahã e a Teoria da Sintaxe. Campinas: IEL-UNICAMP.

  • FERRARINI, Sebastião. 1981. Borba, Primeira Vila do Amazonas. Manaus: Ed. M3.
     
  • GONÇALVES, Marco Antonio Teixeira. 1988. Nomes e Cosmos: Uma Descrição da Sociedade e da Cosmologia Mura-Pirahã. Rio de Janeiro: PPGAS-MN/UFRJ. (Dissertação de Mestrado)

--------. 1993. O Significado do Nome: Cosmologia e Nominação entre os Pirahã. Rio de Janeiro: Sette Letras. 
--------. 1996. “O Valor da Afinidade: Parentesco e Casamento entre os Pirahã”. In: Revista de Antropologia, vol. 40, nº 1. São Paulo: FFLCH-USP.  
--------. 2001. O Mundo Inacabado: ação e criação em uma cosmologia amazônica. Etnogradia Pirahã. Rio de Janeiro: Editora UFRJ. 424 p.

  • KROEMER, Gunter. 1985. Cuxiuara, o Purus dos indígenas: ensaio etno-historico e etnografico sobre os indios do medio Purus. São Paulo: Loyola.
     
  • MAHALEM DE LIMA, Leandro. 2008. Rios Vermelhos: perspectivas e posições de sujeito em torno da noção de cabano na Amazônia em meados de 1835. São Paulo: FFLCH-USP. (Dissertação de Mestrado)
     
  • MARCOY, Paul. s/d. [1849]. Viagem pelo rio Amazonas. Manaus: EDUA/Edições Governo do Estado.
     
  • MEIRA, Márcio; BARROS, M. Cândida; BORGES, Luiz. 1996. “A Língua Geral como Identidade Construída”, Revista de Antropologia, v. 39, nº 1. São Paulo: FFLCH-USP. Pp. 191-219.
     
  • MÉNENDEZ, Miguel. 1981. Uma contribuição para a etnohistória da área Tapajós-Madeira. São Paulo, FFLCH-USP. (Dissertação de Mestrado) 

--------. 1992. “A área Tapajós-Madeira”. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras.

  • MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. 1988. Índios da Amazônia: da Maioria a Minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes.
     
  • MOREIRA SANTOS, Ana Flávia. 2009. Conflitos Fundiários, Territorialização e Disputas Classificatórias. Autazes (AM), Primeiras Décadas do Século XX. Rio de Janeiro: MN-UFRJ. 415 p.
     
  • NIMUENDAJÚ, Curt Unkel. 1925. "As Tribos do Alto Madeira". In: Journal de la Sociéte des Americanistes. Vol. 17. Paris. Pp: 137-172.

--------. 1946. "The Mura and Pirahã". In: STEWARD, Julien Haynes (Ed.). 1948. Handbook Of South American Indians. 2 t. Washington. Pp : 55-268.

  • OLIVEIRA, Adélia Engrácia; RODRIGUES, Ivelise. 1977. "Alguns Aspectos Da Ergologia Mura-Pirahá". In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, nº. 65. Belém: MPEG.

--------. s/d. “Notas sobre a situação dos índios Mura”. Belém: MPEG. 5 p.

  • OLIVEIRA, AE (Ed.). 1986. Autos da Devassa Contra os Índios Mura do Rio Madeira e Nações do Rio Tocantins (1738-39). Série Fac-Símiles e Transcrições Paleográficas. Manaus: CEDEAM-UFAM.
     
  • PEQUENO, Eliane S. S. 2006. “Mura, guardiães do caminho fluvial”. Revista de Estudos e Pesquisas, FUNAI, Brasília, v. 3, n.1/2, jul./dez. Pp. 133-155.
     
  • POHL, Luciene; DURIGAN, Carlos César (Orgs.). 2002. Trincheira: a luta do povo Mura. Manaus: Coiab. 28 p.
     
  • RODRIGUES DE MELO, Joaquim. 2007.  A Política Indigenista no Amazonas e o Serviço de Proteção aos Índios: 1910-1932. Manaus: ICHL-UFAM. 233p. 2 v. (Dissertação de Mestrado + Anexo Documental) 
     
  • RODRIGUES FERREIRA, Alexandre. [1787]. “Memória sobre o Gentio Mura, de 30 de Agosto de 1787, lida na Academia Real das Ciências de Lisboa em 1830”. In: 1974. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato-Grosso e Cuiabá. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura.
     
  • ROLIM DE MOURA, Antonio. 1994. Borba. Diagnóstico Sócio-Econômico e Cadastro Empresarial. Série Estudos Municipais. Manaus: Ed. SEBRAE.
     
  • SPIX & MARTIUS. 1981. Viagem pelo Brasil (1817-1820). Belo Horizonte, São Paulo: Itatiaia, EDUSP. V. 3.
     
  • SWEET, David. 1992 “Native Resistence in the Eighteenth century Amazonia: the ‘abominable Muras’ in war and peace”. In: Radical History Review, nº 53. Durham: Duke University Press. Pp: 49-80.
     
  • TASTEVIN, Constantin, Pdre. 1923. “Indiens Mura de la Région de L’Autaz”. In: L’ Antropologie, 33: 509-33.
     
  • WILKENS, Henrique João. 1993 [1785]. Muhuraida ou o Triunfo Da Fé. Rio de Janeiro, Manaus: Biblioteca Nacional, UFAM". (http://pib.socioambiental.org/pt/povo/mura/print)

 

AINDA SOBRE OS MURA E ASSUNTOS CORRELATOS, VOCÊ PODE ENCONTRAR MUITAS INFORMAÇÕES E INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS PERTINENTES EM:

http://www.inpa.gov.br/noticias/noticia_sgno_versao_impressao.php?codigo=12

http://e-groups.unb.br/ics/dan/juliomelatti/resenhas/r2001mag.htm

http://msn.todascifras.com.br/t/735820/guerreiros-mura--lamentos--letra

http://www.overmundo.com.br/banco/guerras-indigenas-por-liberdade

http://www.ifch.unicamp.br/ihb/HS18-09textos/JMMEtnocidio.pdf

http://www.jusbrasil.com.br/noticias/1482922/ale-cria-secretaria-pra-indigenas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142009000300035&script=sci_arttext,

ilustrando texto de G. Kok)

(Trecho: "(...) Muitos grupos indígenas, entretanto, não aceitaram pacificamente o avanço da colonização portuguesa em seus territórios. Nos rios Amazonas, Solimões e Negro, os muras desestabilizaram quaisquer tentativas de estabelecimentos portugueses na região até o final do século XVIII. Hábeis guerreiros surpreendiam os navegadores com ataques e emboscadas fulminantes. Outra tribo aguerrida era a dos mundurucus. Para combatê-los, o governador João Pereira Caldas declarou guerra em 1778. Alguns anos depois, tanto os muras como os mundurucus se renderam e foram viver em aldeias, só que cada grupo teve um destino bem diferente. Nas lutas de resistência indígena, destacaram-se, ainda, os botocudos, que viviam nos vales dos rios Jequitinhonha, Mucuri e Doce, e os caingangues (coroados), que habitavam São Paulo e o atual Estado do Paraná. Ambos foram duramente combatidos por meio de um decreto régio de 1808 que proclamou "guerra ofensiva" e legitimou a escravização dos prisioneiros de guerra. (...)".

(GLÓRIA KOK, "O protagonismo indígena na fronteira amazônica") 

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(http://candidoneto.blogspot.com/2008_05_01_archive.html)