Olhar para o futuro é experimentar um misto de esperança e dúvida, curiosidade e medo. Por um lado, desejos utópicos. Por outro, sensação de que nada mudará substancialmente. Apostamos no melhor, sabendo que o pior não é fruto do acaso.

Por isso minhas imprevisões para o imprevisível ano de 2007.

Do primeiro ano do segundo mandato de Lula (mais do que nunca abençoado pela aprovação popular), esperamos, afinal, a superação do passado. Lula é o brasileiro na presidência. Finge que não viu nada... para sobreviver. Ri dos adversários e acaba levando rasteira. Levanta, sacode a poeira. Teremos surpresas positivas? Torçamos, ao menos, para que as negativas não se repitam.

Neste ano prevê-se que lotarão as cadeias do Brasil cerca de 500 mil presidiários. Uma panela de pressão cada vez mais assustadora. O que faremos com essa energia humana acumulada, reprimida? Seres humanos com os quais não sabemos conversar (e eles desaprendem conosco). Seres humanos nos quais não aprendemos (quem nos ensinaria?) a descobrir as melhores possibilidades. Tenho receio das conseqüências de nossa incompetência. Outro dia assisti pela segunda vez ao “Cabo do medo”. Quem se lembra do filme entenderá do que falo.

Neste ano, o papa Bento XVI visitará o país. Haverá, como nos tempos de João Paulo II, aquele entusiasmo, aquela vibração? Esse papa é menos simpático. Outra diferença é com relação ao quadro religioso brasileiro: nas últimas duas décadas, o catolicismo refluiu bastante. Encontrará multidões o papa mais teólogo do que midiático?

Confesso meu ceticismo com relação aos números futurísticos. Em 2007, o Brasil deverá crescer 5%, diz um ministro. Crescerá apenas 3%, diz um senador da oposição. Não crescerá, afirma o pessimista. Eu e milhões de brasileiros olhamos para o Brasil e não vemos alterações em sua altura... E o que parece crescer mesmo é a vontade de reajustar (generosamente) o salário dos parlamentares...

Ah, sim, crescerá o número de habitantes. Disso tenho certeza. Embora as famílias tenham, em média, menos filhos do que em outras épocas, a tendência ainda é de crescimento demográfico. Mais brasileiros virão ao mundo, e o compromisso de educá-los, orientá-los, recairá, mais cedo ou mais tarde, sobre os professores, que continuarão (deveria eu predizer o contrário?) sofrendo terrível processo de desvalorização profissional.

Previsões ou imprevisões, estejamos sempre bem prevenidos: o imprevisto é a única coisa certa.