Lula e Lech Valesa

 

Antonio Carlos Rocha*

 

Dois grandes sindicalistas marcaram o final do século XX; no Brasil, Luís Inácio Lula da Silva e na Polônia Lech Valesa, nos estaleiros de Gdansk. Surgiram quase que ao mesmo tempo e com o apoio da Igreja Católica. Dizíamos que o Papa João Paulo II era de direita e veio para derrubar o então sistema do Leste Europeu, afinal conseguiu (escrevo com todo respeito). Cafezeiro, um falecido professor da Faculdade de Letras da UFRJ me dizia naquela época: “Rocha, PT é coisa de padre e da Cia”. Eu concordava com ele, mas gostava quando o então ator social Lula começava a falar.

 

No Brasil, as Comunidades Eclesiais de Base entoavam loas ao sindicalista Lula que vinha para colocar os trabalhadores no Poder. Esquerdas Xavantes (mudemos um pouco os surrados tupiniquins) pareciam ter, finalmente, recebido o Profeta esperado, com ele chegaríamos à Terra Prometida. Eu inclusive embarquei nessa bobagem toda.

 

Mas uma coisa eu observava, antes da “aparição” do torneiro mecânico, as antigas greves eram políticas, eram greves  politizadas e tinham o aval do PCB e do CGT, as greves visavam a denúncia das contradições do sistema capitalista. Após o advento de Lula, falava-se até em sindicalismo de resultados e as greves tornaram-se apenas para aumento de salário, sem questionar o liberalismo/neoliberalismo. Pesquisem e encontrarão vários sindicatos e Centrais colocando anúncios nas TVs explicando que tal greve não era política. Ou seja, não queriam mais acabar com o capitalismo. Era um sindicalismo de shopping, centrais coniventes com o grande capital.

 

Quando Lech Valesa criou o Sindicato Solidariedade, depois Partido Sollidariedade e por fim chegou à Presidência de seu país, também foi acusado de “menino da Cia” e em sua gestão presidencial há quem afirme que houve malfeitos. Mas, inteligente, e mais humilde, só ficou um período de 5 anos.

 

A meu ver, por vaidade, o ex-presidente Lula obliterou a sua interessante caminhada. O que me surpreende ainda hoje é o “Exército” de teóricos intelectuais das antigas esquerdas brasileiras que nunca falaram nada sobre o apoio da Cia ao Lula e no primeiro governo Lula elogiavam o capitalismo. Aliás, li recentemente no sáite do PCB um comunicado informando que há no Brasil uma esquerda governista e o velho PCB não faz parte desse povo, nem vai apoiar as manifestações governosas (neologismo).

 

Entendo que tais intelectuais governeiros (neologismo) estão trabalhando e por isso defendem tanto o Operário Patrão, que o antigo Pasquim ridicularizava, fazendo um contraponto com o “Operário Padrão”.

 

Encerro este meu espanto (“filosofar é espantar-se”) com outro amigo, petista doente, fanático mesmo, ele se assume enquanto tal e diz que Lula, Dilma e o PT nunca fizeram nada de errado e tudo não passa do jogo das elites.

 

Vai entender ...

 

 (*) http://estudoliteraturas.blogspot.com.br