Membros da Academia Brasileira de Cordel em foto na recepção à Ilza Bezerra.
Membros da Academia Brasileira de Cordel em foto na recepção à Ilza Bezerra.

A professsora e escritora Maria Ilza Bezerra é a nova membra da Academia Brasileira de Cordel. A solenidade de posse aconteceu em 18 de maio, na sede sede da Academia Carioca de Letras. Entre os presentes, o ficcionista José Ribamar Garcia, autor de clássicos como Imagens da Cidade Verde.

QUEM É ILZA BEZERRA

Maria Ilza Bezerra nasceu no dia 22 de dezembro de 1959, na cidade de Fronteiras, Piauí. Filha de costureira, foi alfabetizada pela mãe, e ao aprender a ler, aproximou-se da literatura de cordel, mergulhando em leituras diárias, as quais fazia para o deleite de seus parentes e vizinhos idosos, lendo os mais variados romances de cordel. Entre eles:Iracema, de Alfredo Pessoa de Lima, O Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Resende e O Macaco Misterioso, de João José da Silva, entre outros. Foi através do gosto pela literatura, que Maria Ilza Bezerra conheceu as obras de William Shakespeare, de quem adaptaria, depois, para o cordel, a tragédia romântica Romeu e Julieta, lançando-o pela Editora Luzeiro. A autora de Romeu e Julieta em cordel é servidora pública, de uma vasta experiência como professora do ensino fundamental, médio e superior, graduada em Letras, é também especialista em Literatura Brasileira, Ensino, Comunicação e Cultura.

CONHEÇA CORDEL DE ILZA BEZERRA

Maria das Tiras: uma plural mulher

Com aquele ar tão cansado

Pelas ruas vai pensando

Sem temer nenhum perigo

Pra muitos sai semeando

O seu discurso espontâneo

De repente vai cantando:

 – Que acontecerá comigo

Vivendo neste lugar?

 Sei que sou uma cidadã

Mas tropeço ao caminhar

Pois tenho fome de tudo

E estou sempre a lamentar!

Imagine este meu jeito

Assusta a humanidade

Pois venho lá do sertão

Pra conquistar a cidade

Sou chamada de coitada

No país da diversidade!

Eu tenho a cara da seca

Pareço uma vagabunda

Se minha barriga ronca

Sou nojenta, sou imunda

Mas sou vítima do descaso

Levo muito pé na bunda!

Você pode perceber

Eu sou mulher penitente

Vivo numa sociedade

Que age impiedosamente

Mas tenho a minha cultura

Eu sou migrante, sou gente!

Eu sou uma mulher que ri

Sou uma pobre que chora

Sou uma velha que ama

Sou uma cidadã que implora

Quero apenas ser feliz

Quero meu respeito agora!

Quero fazer minha história

Quero amor a vida inteira

Chega de tanto desprezo

Por ser sem eira, nem beira

Quero ter o meu cantinho

Em um lugar sem fronteira.

Que lugar é este aqui,

Que o voto se negocia?

 Pois nossa dignidade

Passa a ser mercadoria

Sou uma velha sertaneja,

E tenho soberania!

Que lugar é este aqui,

Que não valoriza a vida?

Eu tenho fome de arte

Não apenas de comida

Ah, como é duro viver

Com a cidadania ferida!

Eu sou uma mulher sedenta

Vivo num mundo perverso

Não tenho casa, nem abrigo

E o meu relento é verso

Eu quero ter o meu espaço

E conquistar o universo!

Eu não sou nenhuma louca

Sou um pouco diferente

Tenho a minha identidade

Tenho um jeito persistente

E nessa minha linguagem

Eu posso gritar: SOU GENTE!

Sou nada pra burguesia

Eu passo por imbecil

Meu valor é mascarado

Mas sou de um povo varonil

E posso mostrar pra o mundo

Esta face do Brasil!

Ah! Esta voz não se cala

Parece até uma miragem

Mas esta mulher humilde

Demonstra muita coragem

O sertão está no sangue!

 Mesmo com essa roupagem…

VEJA CAPAS DE CORDEIS DE ILZA BEZERRA. CLIQUE AQUI.