Ilza Bezerra na Academia Brasileira de Cordel
Em: 21/05/2023, às 13H46
A professsora e escritora Maria Ilza Bezerra é a nova membra da Academia Brasileira de Cordel. A solenidade de posse aconteceu em 18 de maio, na sede sede da Academia Carioca de Letras. Entre os presentes, o ficcionista José Ribamar Garcia, autor de clássicos como Imagens da Cidade Verde.
QUEM É ILZA BEZERRA
Maria Ilza Bezerra nasceu no dia 22 de dezembro de 1959, na cidade de Fronteiras, Piauí. Filha de costureira, foi alfabetizada pela mãe, e ao aprender a ler, aproximou-se da literatura de cordel, mergulhando em leituras diárias, as quais fazia para o deleite de seus parentes e vizinhos idosos, lendo os mais variados romances de cordel. Entre eles:Iracema, de Alfredo Pessoa de Lima, O Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Resende e O Macaco Misterioso, de João José da Silva, entre outros. Foi através do gosto pela literatura, que Maria Ilza Bezerra conheceu as obras de William Shakespeare, de quem adaptaria, depois, para o cordel, a tragédia romântica Romeu e Julieta, lançando-o pela Editora Luzeiro. A autora de Romeu e Julieta em cordel é servidora pública, de uma vasta experiência como professora do ensino fundamental, médio e superior, graduada em Letras, é também especialista em Literatura Brasileira, Ensino, Comunicação e Cultura.
CONHEÇA CORDEL DE ILZA BEZERRA
Maria das Tiras: uma plural mulher
Com aquele ar tão cansado
Pelas ruas vai pensando
Sem temer nenhum perigo
Pra muitos sai semeando
O seu discurso espontâneo
De repente vai cantando:
– Que acontecerá comigo
Vivendo neste lugar?
Sei que sou uma cidadã
Mas tropeço ao caminhar
Pois tenho fome de tudo
E estou sempre a lamentar!
Imagine este meu jeito
Assusta a humanidade
Pois venho lá do sertão
Pra conquistar a cidade
Sou chamada de coitada
No país da diversidade!
Eu tenho a cara da seca
Pareço uma vagabunda
Se minha barriga ronca
Sou nojenta, sou imunda
Mas sou vítima do descaso
Levo muito pé na bunda!
Você pode perceber
Eu sou mulher penitente
Vivo numa sociedade
Que age impiedosamente
Mas tenho a minha cultura
Eu sou migrante, sou gente!
Eu sou uma mulher que ri
Sou uma pobre que chora
Sou uma velha que ama
Sou uma cidadã que implora
Quero apenas ser feliz
Quero meu respeito agora!
Quero fazer minha história
Quero amor a vida inteira
Chega de tanto desprezo
Por ser sem eira, nem beira
Quero ter o meu cantinho
Em um lugar sem fronteira.
Que lugar é este aqui,
Que o voto se negocia?
Pois nossa dignidade
Passa a ser mercadoria
Sou uma velha sertaneja,
E tenho soberania!
Que lugar é este aqui,
Que não valoriza a vida?
Eu tenho fome de arte
Não apenas de comida
Ah, como é duro viver
Com a cidadania ferida!
Eu sou uma mulher sedenta
Vivo num mundo perverso
Não tenho casa, nem abrigo
E o meu relento é verso
Eu quero ter o meu espaço
E conquistar o universo!
Eu não sou nenhuma louca
Sou um pouco diferente
Tenho a minha identidade
Tenho um jeito persistente
E nessa minha linguagem
Eu posso gritar: SOU GENTE!
Sou nada pra burguesia
Eu passo por imbecil
Meu valor é mascarado
Mas sou de um povo varonil
E posso mostrar pra o mundo
Esta face do Brasil!
Ah! Esta voz não se cala
Parece até uma miragem
Mas esta mulher humilde
Demonstra muita coragem
O sertão está no sangue!
Mesmo com essa roupagem…
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