imagino os deuses

reunidos

na minha hora de nascer

imagino as mãos

entrecruzadas

que desejavam me acolher

imagino

como eu chorava

na mão dos que não me agradavam

como eu sentia graça

agradecido

quando a seguir me deitavam

nos braços de outro

 

fui tocado por tantas mãos

fui assim passando

rolando

por tantas divindades

eram tantos corpos

proviam de tantos lugares

que agora

não me lembraria de um sequer

 

mas um fato se fez

agora me lembro:

ao meu redor ficaram

os deuses de mãos aquecidas,

envolveram-me

os deuses em corpo bruto

eram todos de beijos

eram de abraços

 

em meio a tantas mãos

aprendi a ser táctil

hoje sinto

na maneira bruta

vivo num corpo

feito terra revolvida

 

(ah, deuses dos quais não sei o nome,

nunca me preocupo por onde andais

glorifico-vos sem glorificar

não espero me trazerdes outra coisa

imagino estardes por aí entre ruas e casas

apresentando vossas mãos a quem queira)