Hino à Tarde

BILAC

  

Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,

Alva! natal da luz, primavera do dia,

Não te amo! nem a ti, canícula bravia,

Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!

Amo-te, hora hesitante em que se preludia

O adágio vesperal, - tumba que te recamas

De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas,

Moribunda que ris sobre a própria agonia!

Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre

Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,

Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,

Trazes a palpitar, como um fruto do outono,

A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,

Perpetuação da vida e iniciação do nada.