De retorno a Teresina, não mais se afastaria do jornalismo, produzindo textos brilhantes
De retorno a Teresina, não mais se afastaria do jornalismo, produzindo textos brilhantes

[Reginaldo Miranda]

Nem parece que é verdade! Foi tudo muito rápido, fulminante. Faleceu nosso amigo, Herculano Moraes! Era um dos mais notáveis escritores brasileiros da atualidade. Intelectual completo, com amplo domínio da palavra, tanto escrita quanto falada. Eloquente, de raciocínio rápido e conhecimento vasto, fazia um improviso como poucos são capazes de fazê-lo. Herculano Moraes, foi um orador brilhante, porque tinha conteúdo, boa dicção e sabia dosar a impostação da voz para dar o efeito desejado à arrematação das frases e a transmissão da mensagem.

Nascido na serrana cidade de São Raimundo Nonato(1945), plantada nas caatingas do sul do Piauí, ainda menino veio para a capital do Estado. Aqui encetou os seus estudos, finalizando-os com o ensino clássico. Na mocidade, fez as malas e resolveu conhecer o restante do País, logo mais fixando residência em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para ganhar a vida, empregou-se como resenhista literário no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, cujo suplemento literário saía aos sábados. Foi esta a sua escola de jornalismo. Mais tarde, trabalhou no D.O de Leitura, do IMESP, em São Paulo. Nessas andanças, publicou os seguintes livros de poesia: Murmúrios ao vento (1965), Vozes sem eco (1967) e Meus poemas teus (1968), onde divulga a sua verve poética e extravasa a vida boêmia que levava por aqueles dias.

De retorno a Teresina, não mais se afastaria do jornalismo, produzindo textos brilhantes e atuando na editoria dos jornais A voz do Piauí, O Dia e O Estado. Fez escola na Capital, tanto divulgando literatura quanto discutindo os problemas e mazelas que afligiam o povo.

Por esse tempo, já era um poeta festejado, liderando uma legião de jovens rebeldes que agitavam a cena cultural de Teresina, no início dos anos setenta. Eram constantes os saraus literários, com composições e declamações livres, ao gosto moderno. Com Hardi Filho e Francisco Miguel de Moura, criou o Círculo Literário Piauiense (CLIP), movimento literário que balançou o pacato mundo cultural da cidade.

Em face da ampla popularidade angariada nesses saraus literários e na tribuna jornalística, vai eleito vereador de Teresina, no pleito travado em 1970. Era, de fato, líder de uma geração de jovens boêmios e literatos. Não prossegue, porém, na atividade política, mas com o fim do mandato parlamentar vai nomeado para o cargo de secretário estadual de comunicação social, no governo Lucídio Portella(1978 – 1982). Depois, atuou como diretor do Arquivo Público do Estado (Casa Anísio Brito) e do Theatro 4 de Setembro, além de assessor de algumas autoridades.

Herculano Moraes, ainda publica na seara poética, os livros Território bendito (1973), Seca, enchente, solidão (1977), Pregão (1978), Legendas ((1995) e Oferendas (1996), além de ensaios e crônicas.

Também, se imiscuiu no campo do romance, publicando o livro Fronteira da liberdade, romance histórico ambientado no tempo da Independência, no Piauí.

Porém, a obra que a nosso sentir, mais popularizou seu nome na atualidade, é a Visão histórica da literatura piauiense, onde traça um amplo painel de nossa literatura, desde os primórdios à atualidade, analisando a obra de nossos autores. Nesse campo, ainda publicou Nova literatura piauiense.

Herculano Moraes, foi um escritor de raro talento, trazendo para a sua escrita a prática jornalística. Capitava fácil as ideias e produzia um texto de qualidade com rapidez surpreendente. Sua obra tem lugar assegurado em nossa Literatura.

Outro aspecto que desejamos ressaltar nessa homenagem fúnebre, que fazemos a esse nosso amigo na hora derradeira, é relembrar a sua luta como divulgador de nossa cultura. Lutou tenazmente para inserir o ensino de Literatura Piauiense, nos currículos escolares das escolas estaduais. Ingressou na Academia Piauiense de Letras, em 1º de maio de 1980, e ali exerceu protagonismo cultural. Preocupado com a movimentação cultural do Estado e a sua nunca esquecida luta para divulgar nossa literatura, incentivou a muitos e fundou mais de dez academias literárias em regiões distintas do Estado, assim como em seguimentos culturais, a exemplo das academias de ciências, de jornalismo e de história. Foi, também, muito generoso para com os jovens, sempre orientando àqueles que o procuravam e os apoiando com uma palavra de incentivo. São inúmeras as resenhas literárias, assim como os prefácios e apresentações de obras literárias, sinal do respeito que gozava entre seus pares. Era também um revisor de raro talento.

Com essas notas, prestamos justa e merecida homenagem a esse bom amigo e grande intelectual de nossa terra. O mundo literário piauiense ficou mais pobre, porque perdeu um de seus principais protagonistas. Aliás, todos nós perdemos com a morte de Herculano Moraes. Nossas reuniões não serão mais as mesmas sem a sua atuante presença. Abraço, amigo. Vá com Deus!

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*REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Contato: [email protected]