Helena
Por Rogel Samuel Em: 24/05/2009, às 05H39
Helena
Rogel Samuel
- Mas tem dado na televisão o tempo todo, me diz a vizinha e síndica do meu prédio.
Difícil explicar que não vejo TV assim como ela.
Minha amiga Annie, em Paris, nem tem televisão em casa. Minha falecida e querida Helena também, aqui no Rio, no Flamengo.
Nunca me recuperei da morte de Helena. Ela foi uma das pessoas a quem mais amei. Não, eu não soube corresponder à altura ao seu amor.
Helena era de família nobre, antiga, tradicionalíssima do Brasil.
- Tenho dois bispos na família, dizia ela, sem afetação.
Como estava empobrecida, já tinha vendido todas as jóias de família e então portava umas coisas de plástico, compradas em camelô de rua, que no seu colo pareciam autênticos Cartier.
Culta, educada no Estados Unidos, falava línguas e lia muito. Eu a conheci literalmente numa Biblioteca Pública. Bom lugar.
Tinha um porte fidalgo no andar, no falar, sem orgulho, com naturalidade. Mas não tinha TV.
Nunca me recuperei.