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 HARRY POTTER CHEGA A HOGWARTS

Miguel Carqueija

 

 

Resenha do filme “Harry Potter e a pedra filosofal” (Harry Potter and the philosopal stone) – Inglaterra, 2001. Com base no romance de J. K. Rowling. Produção de David Heyman. Direção de Chris Columbus. Roteiro de Steve Kloven. Produção executiva de Chris Columbus, Mark Radcliffe, Michael Barnathan e Duncan Henderson. Fotografia de John Seale. Música de John Williams. Elenco: David Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione Granger), Rupert Grint (Rony Weasley), Richard Harris (Alvo Dumbledore), Maggie Smith (Professora Minerva), Robbie Contrane (Rubeos Hagrid), Fiona Shaw (Tia Petúnia), Harry Melling (Dudley), Richard Griffiths (Tio Valter), Ian Hart (Voldemort), Matthew Lewis (Neville), Tom Felton (Draco Malfoy), Alan Rickman (Professor Snape).

 

 

            A criação inteligentíssima da autora britânica J.K. Rowling além do grande sucesso editorial gerou uma das franquias cinematográficas de maior prestígio nos últimos tempos. Reportando a milenar luta entre o Bem e o Mal, conta a saga do bruxinho Harry Potter, destinado a se opor ao líder da maldade, o bruxo das trevas Voldemort, o “você-sabe-quem” já que o seu nome era tabu em Hogwarts.

            Rowling manteve o controle da franquia e o resultado foi excelente do ponto de vista estético. Artistas de grande nível, mistura harmoniosa de suspense, sentimentos, humor e mistério, além de valores morais como a amizade, a coragem e a lealdade. O que se pode ressalvar na série é que, embora mística, deixa a religião propriamente de fora, já que magia não é religião. É quase uma saga pagã, apesar de que Potter é um personagem messiânico como tantos outros da ficção (Anakin Skywalker, Hikaru Shidou, Sailor Moon, o Pequeno Príncipe, Nausicaa etc.) e Voldemort pode ser relacionado ao Anticristo. Sob esse aspecto a metáfora cristã é reconhecível apesar da ausência explícita do Cristianismo na história.

            A base da saga é muito bem estruturada por Rowling, que criou um elaborado universo ficcional, invejável por sua complexidade e coerência. Trata-se de um mundo dentro do mundo. De fato, Hogwarts é um colégio secular de bruxos, situado numa dimensão paralela à nossa e onde se pratica livremente a magia (branca ou negra). Os humanos normais, sem poderes, do nosso próprio mundo, são conhecidos como “trouxas” (nada lisonjeiro, já se vê). Os bruxos conhecem nosso mundo e se locomovem livremente nele, mas aqui são geralmente proibidos de usar magia ou se revelar a nós “trouxas”. Reservam o uso dos poderes para o seu próprio mundo.

            Hogwarts é uma tradicional escola de bruxaria, dirigida, à época em que tem início a saga, pelo vetusto Alvo Dumbledore (Richard Harris com uma interpretação tranquilamente solene), que faz lembrar até o Mago Merlin das lendas arturianas. Harry Potter (muito bem interpretado por David Radcliffe) é um menino de 11 anos que vive em Londres num quarto improvisado em baixo da escada, na casa de seus tios Valter (Richard Griffiths) e Petúnia (Fiona Shaw), antipáticos, metidos a bestas, além do primo Dudley (Harry Melling), obeso e arrogante; todos vivem humilhando o menino adotado, tanto que Harry vive relegado naquele “quarto” indigno.

            O que o menino não sabe é que ele é um bruxo, filho de um casal igualmente bruxo, e que seus pais foram assassinados quando Harry era um bebê, e que o assassino era um feiticeiro maligno, Voldemort, que tentou obter o poder total. Algo porém aconteceu, muito misterioso: após matar o casal Voldemort tentou liquidar também o bebê, com um golpe de varinha mágica; de alguma forma, porém, houve uma reação; severamente atingido, Voldemort desapareceu. O bebê ficou com uma cicatriz indelével na testa.

            Assim Harry Potter tornou-se uma lenda viva em Hogwarts, mas para preservá-lo Dumbledore e a Professora Minerva (Maggie Smith) o deixaram no mundo dos trouxas, na porta de seus tios, “única família que ele tem”, justificou o diretor da escola de magia.

            Esse é o argumento básico: após completar onze anos Potter é reclamado por Hogwarts e, contra a vontade dos tios que odeiam magia, parte para Hogwarts escoltado pelo gigantesco Hagrid (Robbie Contrane), um servidor da escola que foi proibido de usar seus poderes. Hagrid é um gigante manso e gentil, embora saiba ser firme quando preciso; e chega a ser cômico cada vez que deixa escapar coisas para Potter e seus novos amigos da mesma idade, Hermione Granger (Emma Watson) e Rony Weasley (Rupert Grint); cada vez que isso acontece Hagrid lamenta-se: “Eu não devia ter dito isso”.

            Hermione é uma pequena e charmosa CDF, devoradora de livros, conhecedora a fundo de bruxaria e no começo, um tanto presunçosa. Rony é mais ingênuo e meio atrapalhado. Os três farão um trio ideal e crescerão juntos, cimentando-se entre eles sólida amizade. Essa é aliás uma das virtudes da série: a maneira como se valoriza a amizade.

            Os personagens são, de fato, muitos, e bem delineados. Um dos mais importantes e de presença marcante é o sinistro e poderoso Professor Snape (Alan Rickman) cuja ambiguidade será um grande fator de suspense ao longo da história.

            O cinema inglês tem levado muita vantagem sobre o norte-americano, em matéria de estética. “Harry Potter e a pedra filosofal”, que conta os primeiros embates entre o menino bruxo e seu mortal inimigo Voldemort, é uma obra-prima, um exemplo de cinema de arte, sem os deboches comuns em Hollywood, e conta com excelente cenário e amibientação e interpretações magníficas, como a de Emma Watson como a carismática Hermione e Tom Felton como o vilãozinho Draco Malfoy, que logo se torna um desafeto de Harry Potter. E deu início a uma das franquias de maior sucesso e prestígio no cinema mundial de todos os tempos.